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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 03/09/2024

Talento que se desdobra por entre rimas e batidas.

Do reggae ao rap: a história de Lhast, um dos artistas que marcaram a música urbana portuguesa nos últimos 15 anos

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 03/09/2024

É já no próximo sábado, 7 de Setembro, que Lhast e Chaylan sobem ao palco do Maus Hábitos, no Porto, em mais uma sessão Havana Beat, de DJ SlimCutz. A dupla vai apresentar o álbum Cold Summers & Warm Winters, editado em Março, numa noite que também conta com DJ sets de SlimCutz e D-One. Os bilhetes custam 6€ euros com oferta da segunda bebida Havana.

Para antecipar a performance, o Rimas e Batidas mergulha na história de Lhast, um nome incontornável para a evolução do rap e da música urbana em Portugal ao longo da última década. Rafael Alves cresceu em Carcavelos, a ouvir tanto rap como reggae e dancehall. Começou a escrever rimas e a produzir instrumentais por volta de 2010 e passou um ano em Londres, no Reino Unido, a estudar produção, depois de perceber que o curso de marketing na faculdade não era para si e que a única “last hope” de fazer algo apaixonante na vida seria através da música, o que acabou por inspirá-lo na escolha do primeiro nome artístico.

Quando voltou a Portugal, começou imediatamente a trabalhar com amigos da zona que faziam rap. Era o caso de Big (que na altura ainda não era DJ, mas rimava), de Mic Selva, Khapo ou Kappa Jotta. Além de algumas faixas soltas, o seu primeiro projecto foi o EP Jungle com Mic Selva, lançado em 2011.



Por volta da mesma altura, formou com Duarte “Duda” Figueira e Krpan os Fyah Box Sound System, dedicados ao dancehall e reggae. Last Hope era o produtor de serviço e o grupo passava música em festas especializadas. Depois, iniciaram o conceito das Triple Threat, sessões registadas em vídeo para as quais convidavam artistas para cantar ou rappar por cima de instrumentais.

Richie Campbell, o ícone jamaicano Anthony B, Blasph, Short Size, Kristóman, J.L.Z. ou Ikaya foram alguns dos convidados, mas Regula foi quem mais se destacou e depois do hit “Casanova”, produzido com a colaboração dos Fyah Box, o soundsystem passou para segundo plano porque Duda tornou-se manager do rapper do Catujal e Krpan começou a actuar na sua comitiva.



Last Hope virou-se definitivamente para o hip hop, cada vez mais a sua praia, e nesse mesmo ano de 2012 juntou-se a Khapo para o EP Egos, que teria uma sequela no ano seguinte. “Original e… Coiso” e “Acorda Agora” (com Indrominado) foram alguns dos temas que se destacaram nesse projecto. Nessa altura lançou também o seu único disco de instrumentais até ao momento, Space Cake. Já em 2014 voltaria a juntar-se a um rapper, neste caso Loreta, para um álbum em conjunto intitulado DMT. Colaborou ainda de novo com o amigo Mic Selva em Paradoxo, de 2015.

A partir desse ano, começou a voar cada vez mais alto. Deixando para trás o nome Last Hope, assumiu-se como Lhast e estreou-se desta forma ao lado de Dillaz, outro talento da Linha de Cascais, com o single “Arena”, que se revelaria um estrondoso sucesso, o primeiro de vários para a dupla — mais tarde fariam “O Clima” e “Gravidade”. Quando Valas assinou com a Universal Music Portugal e deu início a uma nova fase do seu percurso, Lhast foi também o responsável por vários dos seus instrumentais, incluindo para o hit “As Coisas”.



Na verdade, Lhast já trabalhara com Valas e MadeinLx (nome artístico do videógrafo e produtor audiovisual Miguel Mendes) no projecto Nébula. Juntos criaram um universo próprio onde exploravam sonoridades e visuais distintos entre 2015 e 2016 lançaram os temas “Dragões e Demónios”, “Prova”, “Quem És” e “Aniversário do Rei”. Seriam parte do álbum 44, que nunca chegou a ser editado.

Nos tempos que se seguiram, Wet Bed Gang, Plutonio, Papillon, Harold, Porte ou Amaro foram outros dos que receberam beats de Rafael Alves. E Lhast começou a expandir-se cada vez mais em termos de sonoridades e alcance, colaborando também com artistas pop como Diogo Piçarra e Isaura. Foi um dos produtores com raízes no hip hop que nesta fase alargaram o seu espectro e aproximaram o rap de outros géneros de música.



Um momento crucial foi quando Lhast produziu o single “Do You No Wrong” para Richie Campbell. O cantor de reggae de Cascais estava cada vez mais interessado em adoptar uma sonoridade mais urbana e moderna, de instrumentais R&B com muita musicalidade e elementos afro. Encontrou em Lhast a pessoa ideal para compor o seu trabalho de estreia neste registo, Lisboa, editado em 2017. Foi um disco marcante e de alguma forma revolucionário. Nesse ano, Lhast convidou ainda Gson para o single “Por Pouco”.

Depois de contar com Lisboa no currículo, Lhast foi produzir outro disco icónico que marcou a música portuguesa na última década. #FFFFFF, o álbum branco de ProfJam, recebeu o toque de Midas de Lhast. Foi um trabalho que catapultou ProfJam para o topo dos artistas mais ouvidos em Portugal, elevando o trap e toda a música urbana feita por cá. Lhast mostrava, mais uma vez, a apetência e a consistência para produzir um disco coeso e game-changing. Foi no single “Tou Bem” que o ouvimos a cantar pela primeira vez desde que tinha deixado de escrever rimas, na altura em que era um mero anónimo a fazer rap tradicional.



Além de continuar a produzir para outros artistas, foi a partir daí que Rafael Alves desenvolveu a vontade de explorar a sua voz algo que já fazia em estúdio para criar melodias para os artistas com quem trabalhava. “jND” (com 9 Miller), single lançado no verão de 2019, foi a primeira demonstração disso, sendo um tema em nome próprio cantado por Lhast.

Seguiram-se “Saturno”, “Render” (com Chyna) ou “2020” (com Slow J), faixas que foram compiladas para o primeiro disco de Lhast como cantor e produtor, Amor’Fati, editado nesse ano de 2020. “Pluto” (com LON3R JOHNY) foi outra das faixas que foram bem recebidas. Depois, Lhast apresentou o single “Es7ádio”, com participações de T-Rex e Rafaell Dior, que seria o primeiro avanço do seu disco seguinte, ALK, apresentado em 2022. O projecto não teve tanto impacto como o disco anterior, mas também foi um passo relevante nesta nova fase do seu trajecto.



Um par de anos depois, uniu-se ao produtor Chaylan para um disco conjunto que nomearam como Cold Summers & Warm Winters. O trabalho editado em Março passado que terá um segundo volume, conforme anunciado contou com participações de Sippinpurpp, SleepyThePrince e Yung Juse. É um álbum onde se exploram áreas normalmente interditas e que se centra em dualidades: a positividade e o negativismo, a felicidade e a tristeza, a vertigem e o precipício, o bem e o mal.

Quase 15 anos após começar a fazer música, e embora hoje seja sobretudo um dos rappers/cantores que turvam as fronteiras entre ambos, Lhast deixa um legado como um dos produtores que revolucionaram o rap e a música urbana em Portugal nos últimos anos. É, por definição, um verdadeiro produtor e não apenas um beatmaker. Na sua geração, foi pioneiro ao trabalhar com instrumentistas (como Bernardo Cruz, Henrique Carvalhal ou Bernardo D’Addario) para muitas vezes recolher samples originais, além de fazer songwriting para os artistas com quem trabalhou, estabelecendo linhas melódicas que tantas vezes originaram hits.


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