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Fotografia: João Padinha/Everything Is New
Publicado a: 04/04/2022

Não cansa repetir: não é (mesmo) sonho nenhum.

Dino D’Santiago no Coliseu dos Recreios: a consagração do artista português mais importante da actualidade

Fotografia: João Padinha/Everything Is New
Publicado a: 04/04/2022

Sábado, 2 de Abril, fica na história como uma noite de consagração. Quando Dino D’Santiago subiu ao palco do Coliseu dos Recreios, em Lisboa, perante uma plateia de mais de quatro mil pessoas ao rubro — ansiosas para vibrar com a sua música –, representou o culminar de uma jornada iniciada com Mundu Nôbu em 2018.

O pretexto para o seu primeiro concerto em nome próprio nesta sala emblemática era, claro, o álbum BADIU, editado em novembro. Em comparação com os trabalhos anteriores, BADIU é um disco mais sombrio — muito marcado pelo momento psicológico do artista, mas também pelo mergulho nas memórias dos seus antepassados. A vida do povo badiu que foi indubitavelmente marcada pela sua luta e sofrimento.

Para este álbum, Dino D’Santiago carrega especialmente essa herança social e cultural — mas, apesar de ser o foco, o alinhamento dividiu-se tanto por BADIU como por KRIOLA, Mundu Nôbu e o EP SOTAVENTO.

O resultado é uma mistura de sentimentos que tem toda a lógica. Tanto se sente a angústia para com todas as injustiças do tempo do colonialismo — e da sociedade que daí se desenvolveu — como as mensagens que apelam ao amor e paz entre todos, sem exceção. A mensagem está sempre presente: nuns temas a abordagem foca-se nas frustrações e raivas interiores; noutros há um optimismo maior, em que a celebração é imediata. Mas a posição de afirmação está vincada: “nossos corpos também são pátria”.

Aquilo que Dino D’Santiago tem construído ao longo dos últimos anos não é só um percurso incrivelmente notável enquanto músico. Tem sido uma jornada de criação de pontes, entre a cultura africana e a europeia, entre pessoas de peles de diversos tons, desfazendo classes sociais, faixas etárias e segmentos típicos de público pelo meio. Dino é um tamanho agregador de uma série de gente que tanto se revê no seu discurso como na sua musicalidade intrínseca e sonoridades vanguardistas — explorando cada vez mais, lá está, o cruzamento entre a tradição e a modernidade.

O Coliseu dos Recreios, completamente esgotado, estava cheio de pessoas ansiosas por essa comunhão que Dino tanto prega. O que aconteceu foi uma inevitável catarse, a apoteose, a concretização dessa “Nova Lisboa” que é urgente e necessária continuar a construir — por mais adversidades que existam e continuem a existir. Mas estar com Dino D’Santiago é, sem dúvida, estar do lado certo da história.

Houve muitos altos e baixos rítmicos durante o espetáculo — e naturalmente as vozes ouviram-se mais em certos temas. “Nôs Funaná”, “Nova Lisboa”, “Como Seria”, “My Lover” ou “Arriscar” foram alguns deles. E houve momentos muito especiais com os artistas convidados — que vieram dar o seu toque ao one man show que aconteceu durante a maior parte do tempo. Sob uma tremenda ovação, Slow J subiu ao palco para falar das “Esquinas” do bairro. Julinho KSD fez disparar a energia com “Kriolu”. Nayela veio interpretar “Nha Kodé”. Alicia Rosa foi a coqueluche de serviço na já mencionada “Como Seria”. E ainda houve direito a uma faixa inédita com Kady.

O alinhamento foi muito bem construído, com transições óptimas entre músicas e mensagens de pessoas próximas de Dino — como a mãe ou a irmã — que foram intercalando e contextualizando este percurso. 

Branko, aniversariante e um dos músicos essenciais neste percurso de Dino D’Santiago, ajudou a levar a multidão à “Lokura” e assegurou que, no fim, o caminho só pode ser um: vai dar “Tudo Certo”. Das montanhas da ilha de Santiago para a Europa urbana, de Quarteira a Lisboa, a trajectória ímpar de Dino D’Santiago tem sido mais do que justa e necessária. Branko não nos deixa enganar: Dino é mesmo o artista português mais importante da actualidade. Nu bai!


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