pub

Publicado a: 29/10/2021

Desbloquear um novo nível.

Dead End: “Com o Unlock chego a um novo patamar onde me sinto muito mais satisfeito com o produto final que apresento”

Publicado a: 29/10/2021

Dead End voltou à Unchained Recordings e lançou mais seis bombas: Unlock é o novo curta-duração do produtor português pela editora de Hong Kong.

Mais um nível desbloqueado por parte de Carlos Salgueiro, malabarista de dinamite sónico que ainda nem há um ano se tinha estreado pela Unchained mais Strapped do que nunca. Mas upgrades são bem-vindos: baixos que parecem strobes de luz ultra-violeta, sintetizadores em serra a cortar melhor que diamante, pratos secos que teimam em querer martelar o Tico e o Teco e alquimia sónica que dá origem a texturas desconhecidas não são menos do que miras laser, estabilizadores, scopes ou silenciadores num campo de batalha.

A ausência de uma cena bass mais vincada em Portugal não é um beco sem saída para Dead End, ele que tem rebentado todas as casas editoriais por onde passa a nível internacional. Há até um pequeno fio de pólvora largado por este Unlock que, ainda antes do ano terminar, acende o rastilho para mais um lançamento via SATURATE, selo que nos últimos anos soube aproveitar outros talentos tugas, como Razat, DJ Ride ou Holly.

Numa troca de impressões com o Rimas e Batidas, o produtor abordou a sua ligação à Unchained Recordings, a evolução da sua engenharia musical e ainda lançou os dados quanto ao futuro.



Editas o teu segundo projecto pela Unchained Records ainda antes de completar um ano desde que te estreaste por eles. Que balanço fazes desta tua ligação à editora?

É uma label da qual gosto muito, tem pessoas incríveis e, desde o primeiro remix que fiz, apoiaram-me e acreditaram no meu trabalho e na minha visão. Têm toda uma estrutura montada que permite levar a minha música para outras paragens e de forma mais abrangente. Actua noutro tipo de mercados, como o asiático, o que me dá outra projecção nessa parte do globo, de forma a conseguir chegar a mais gente. Valorizo muito as labels onde lanço música, visto que acreditam em mim e em tudo o que posso trazer.

O teu próximo EP intitula-se Unlock. Que desbloqueio é este de que nos falas através do som?

Achei o título Unlock interessante. Faz alusão a desbloquear um próximo nível em termos sonoros, tanto na qualidade como na criatividade. O meu objectivo é ser sempre melhor a cada lançamento, trazer algo diferente para cima da mesa e estar em constante evolução. A nível pessoal, penso que com este EP chego a um novo patamar onde me sinto muito mais satisfeito com o produto final que apresento, e onde o domínio de certas ferramentas e de todo o processo criativo já tem uma consistência diferente, de forma a conseguir alcançar outros objectivos na música electrónica.

Olhando agora para o teu EP anterior, sentes que percorreste um caminho de alguma forma diferente para chegar a este novo lançamento? Em que moldes foram esculpidos estes beats?

Sem dúvida. Trabalhei muito e todos os dias, quase obsessivamente, para melhorar e evoluir a minha sonoridade. Estas seis faixas são o reflexo desse trabalho. Não deixo nada ao acaso, é tudo pensado. Apesar de adorar os resultados provenientes da tentativa/erro, hoje em dia trabalho esse aspecto de uma maneira muito mais precisa e dedicada ao detalhe, aproveito muito melhor todas as experiências que faço. Uso diferentes técnicas de sampling — é a base da minha música — mas neste momento já cheguei a um ponto em que consigo juntar os meus skills de uma forma mais coesa, seja no ritmo, na criação de drums, nas linhas de bass, synths, etc. Além disto, meto em prática algo que me ajudou muito a evoluir: não levar até ao fim todas as ideias que me aparecem. Um erro que cometia frequentemente e fazia-me perder muito tempo e ter projectos menos consistentes overall. Agora passo um mês a fazer 30 demos, ou loops de 30 segundos, e quando tenho uma quantidade grande de ideias escolho e desenvolvo aquelas que sei que vão chegar a um produto final mais forte e mais bem-sucedido. Isto faz com que não perca tempo a trabalhar em faixas que não vão a lado nenhum e focar-me em ideias realmente interessantes que merecem o investimento.

Unchained, Strapped e Unlock são tudo termos que nos apontam para um certo aliviar de pressão. Nos títulos que tens estado a escolher para os teus trabalhos para esta label asiática, és tu a tentar ir ao encontro do universo deles ou sentes que estás mesmo a canalizar energias mais disruptivas na tua música de momento, talvez devido a toda esta “nova realidade” na qual nos inserimos?

A música acaba sempre por ser influenciada pela realidade que te rodeia e a música disruptiva é o lugar onde me sinto melhor. Não quero nem me consigo encaixar numa vibe só porque vai ter sucesso garantido ou porque isso me vai trazer mais projeção e mais gigs. Felizmente não dependo da música para pagar as contas ao fim do mês, o que me dá total liberdade para explorar novas sonoridades. Ouvir a minha música na rádio, ou tocar em festivais, é algo que enche o coração a qualquer artista. Contudo, nesta fase da minha vida, o que realmente me interessa é experienciar a sensação única do processo de criação musical, onde entro num transe e num mundo onde só existo eu e a música. É a minha maneira de me exprimir. Apesar de não chegar a um público mais geral, acredito muito no meu trabalho. Na Unchained, como noutras labels onde lanço, tenho toda a liberdade para ser eu próprio e manter a minha visão criativa sem qualquer tipo de limitações.

As portas dos clubes estão finalmente a reabrir e deduzo que haja muita fome do teu lado em mostrar mais do que tens feito no teu laboratório e voltar a apresentares-te diante do teu público. Tens mais edições na calha para os meses que se seguem? Há por aí planos ou datas concretas já marcadas para o teu regresso às cabines de som?

Vou lançar uma beat tape com 14 faixas tanto em formato digital como em cassete, na SATURATE, ainda este ano. De resto, continuo a trabalhar em mais música diariamente. Vamos ver o que vai acontecer, mas certamente vou continuar a lançar regularmente e tentar elevar a fasquia.

Em relação aos gigs, apesar de ter muita vontade de lançar música constantemente, infelizmente, com alguma mágoa minha, para já, não tenho convites. Não só a minha música é estranha e agressiva como não tem um público vasto nem grande projeção em Portugal. Vivemos num país pequeno com uma cultura musical orientada para outras sonoridades mais comerciais. Faz falta uma maior aposta dos promotores em artistas portugueses diferentes e disruptivos. No entanto, a minha motivação e ambição mantêm-me focado. Se continuar a trabalhar e a trazer qualidade, sei que vou chegar onde quero, seja num plano nacional ou mesmo internacional.


pub

Últimos da categoria: Curtas

RBTV

Últimos artigos