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Texto: Vera Brito
Fotografia: Lois Gray
Publicado a: 08/02/2021

Um escape positivo.

Beautify Junkyards: “O nosso cosmorama é um espaço onde tens acesso a várias dimensões da nossa música”

Texto: Vera Brito
Fotografia: Lois Gray
Publicado a: 08/02/2021

Desde 2013, com o seu disco de estreia homónimo, que os Beautify Junkyards nos têm puxado para dentro de um sonho onde fantasia e realidade coexistem em harmonia, e o passado se escreve no futuro. Um mundo invisível ao alcance de qualquer um que queira mergulhar e deixar-se levar pelas muitas correntes que fazem dos Beautify Junkyards um dos projectos mais originais na música portuguesa, e não só.

Ao quarto álbum, Cosmorama, a folk abre novos espaços à electrónica, sem perder as matrizes que sempre pontuaram a sonoridade da banda, um disco que fomos descobrir melhor numa conversa com João Branco Kyron, que nos falou de todo o processo criativo e laboratorial, das várias colaborações e de como os Beautify Junkyards conseguem “recriar novas possibilidades mais positivas, a partir deste presente mais cheio de incógnitas e sombrio”.



Cosmorama saiu há cerca de uma semana. Como tem sido até agora a recepção a este vosso trabalho e como é também lançar um disco no meio destas circunstâncias tão condicionadas?

O disco foi lançado exactamente no dia em que entrámos no novo confinamento geral, o que para nós é um pouco complicado porque tínhamos uma série de coisas programadas que não pudemos fazer. Por outro lado, temos dedicado bastante tempo à promoção do disco, em entrevistas, a gravar algumas coisas também em casa, como por exemplo, fizemos o disco falado para a Antena 3. Antes do disco sair tivemos umas surpresas muito agradáveis, com boas reacções da imprensa estrangeira. Tivemos um destaque nas últimas edições da Uncut e na Shindig!, sempre com artigos e acompanhados de crítica, para nós isso é importante porque são revistas de referência, principalmente a Shindig! e a Electronic Sound — que também vai ter uma entrevista nossa na próxima edição. São revistas que são uma referência para nós e que atingem as pessoas que gostam do mesmo tipo de música que nós. E tem sido um pouco assim, é pena não podermos apresentar já o disco ao vivo, mas temos estado a ensaiar, aliás estávamos a ensaiar até esta nova pausa, mas só vamos poder tocar no início do segundo trimestre.

Era também uma das perguntas que tinha aqui para ti, porque também percebi que houve esse destaque na imprensa internacional, e não só, por cá também saiu a crítica ao disco aqui no Rimas…

Sim, no Rimas e Batidas, no Ípsilon também.

Mas agora que referiste a importância dessas publicações internacionais, queria então perguntar-te como é que é a vossa relação também com o público lá fora e onde gostarias de um dia ver os Beautify Junkyards no panorama internacional?

Nós temos vindo lentamente a ter cada vez mais audiência e mais pessoas a interessar-se por nós ao longo dos anos, mas eu diria que a partir do momento em que estabelecemos a nossa relação com a Ghost Box, fomos um bocado mais certeiros em relação às pessoas com quem queríamos manter uma relação mais próxima, e a Ghost Box é uma editora que por si já tem um selo de invocar um determinado espírito e um determinado género musical. Nós contribuímos um pouco com essa carga também, mas trazemos alguma coisa nova que a Ghost Box nas suas outras bandas não têm, que são as nossas referências portuguesas e o cruzamento um bocado híbrido na ligação ao Brasil. Mas sim, eu diria que a partir da Ghost Box começámos a chegar a muito mais pessoas e é uma editora que tem distribuição mundial, através da [The] state51 [Conspiracy], e para nós é extremamente estimulante vermos a nossa música tocada em programas de rádio um pouco por todo o lado, Estados Unidos, Canadá, Itália — o disco teve também um grande destaque em Itália, com publicações em vários sites, foi disco da semana no Ondarock, que é um site bastante importante italiano de música — e isso também nos permite fazer alguns planos. Com o álbum anterior fizemos alguns concertos em Inglaterra e com este disco queríamos voltar lá — vamos ver só como é que fica o tema do Brexit e da circulação de bandas em tour, ainda há algumas incógnitas em relação a isso — mas temos como planos voltar lá e fazer uma tour por Inglaterra. Também estamos a piscar um pouco o olho à Itália, derivado disso que te estava a referir, mas têm que ser sempre saídas muito bem pensadas e muito optimizadas, porque somos seis e em termos de custos não podemos dar passos assim naquele espírito de “bora lá!”. [Risos]  

Vocês só se ligaram à Ghost Box com o disco anterior. Como é que surgiu esta oportunidade e, numa altura em que cada vez existem mais lançamentos independentes, consideras então que a editora pode ser ainda muito relevante no percurso de um artista ou de uma banda?

Eu acho que é relativo. No caso da Ghost Box sim, como estava a dizer, é uma editora já com 12 anos mas que tem uma identidade muito forte, tanto em termos musicais como em termos visuais. O Julian House, que é um dos responsáveis da editora — ele é responsável por toda a arte gráfica — é um génio da arte visual, e eu comparo sempre o Julian House a um Peter Saville da Factory, ou a um Vaughan Oliver da 4AD, porque soube ao longo dos anos construir essa identidade com uma imagem muito forte e muito consistente, apesar de não ser sempre igual — ele vai buscar referências a várias linguagens — mas é muito consistente e tem um cunho pessoal muito forte. E é uma editora que já construiu um percurso muito sólido e o facto de nos ligarmos à Ghost Box, e de sermos a primeira banda não-inglesa ligada a eles, para nós foi importante. Se calhar no caso de outras bandas a editora não é tão relevante, porque hoje em dia é muito fácil criar a própria editora, e ter micro editoras, e chegar muitas vezes também a um público interessante. É um pouco isso. 

Regressando agora a este disco e à escolha em particular desta palavra para título: Cosmorama que, daquilo que li, terá tido inspiração nos Cosmorama Rooms — as exibições em Londres [na época vitoriana] de perspectivas ampliadas a lugares distantes e exóticos — eu consigo imaginar o impacto que isso terá tido à época, mas hoje em dia, em que vivemos tempos em que a informação abunda em tantos meios, em que o que nos é desconhecido pode facilmente tornar-se familiar à distância de um clique, a minha pergunta é: quais serão ainda os cosmoramas capazes de nos surpreender e quais são aqueles a que este disco abre portas? Se calhar foi um pouco longa a pergunta, desculpa… [risos]

Não, não, eu percebi perfeitamente. Não é uma questão de ser surpreendido. A nossa música sempre estabeleceu pontes para determinados géneros e para determinadas etapas da cultura popular. O tropicalismo já é muito referenciado sempre na ligação ao nosso som, mas também um determinado período da folk inglesa e há um livro que serviu um bocado de referência no início dos Beautify que foi o Electric Eden, do Bob Young, que muito curiosamente traça um percurso da folk inglesa até à música contemporânea mais electrónica, mas também atingida dessas raízes da folk. A música cósmica alemã do período final dos anos 60 e todo aquele experimentalismo de laboratório, que teve géneses em várias cidades da Alemanha como Colónia, como Berlim, como Dusseldorf – em Berlim havia o Zodiak Club que inspirou uma das músicas do disco. Também a nossa memória colectiva cá em Portugal, bandas como o Quarteto 1111, Banda do Casaco, o Fausto. E todos esses interesses que se mapeiam na nossa música, nós usamos para criar acesso a portais e esses portais são as canções em que canalizamos essas inspirações. Então, o nosso cosmorama — também criámos um pouco o nosso conceito de cosmorama com o Julian House, que em termos visuais também retratou isso — é um espaço onde se entra e tens esse tal acesso a várias dimensões da nossa música, que podes percorrer e entrar uma música que tem um ambiente mais electrónico, e se calhar entras noutro portal que tem um ambiente mais pastoral, e dentro desse portal também pode haver cruzamentos dos vários mundos, e algumas pessoas conseguem encontrar o caminho de saída [risos], outras podem perder-se nesse mundo e nessas encruzilhadas. Um bocado como o rabbit hole da Alice e isso para nós como ouvintes é algo estimulante, e queremos transparecer um bocado também essas ideias e essa energia para a música que criamos. Pode haver elementos de surpresa, mas também pode haver elementos em que a música se torna familiar, quase como se fizesse parte da nossa infância ou da nossa memória, pequenas melodias mais inocentes e também alguns sítios que possam servir um bocado como que ponto de reflexão, quase como se estivéssemos a olhar para um espelho — em vez de ser um portal estamos a olhar para nós próprios e a fazer uma viagem mais interior. E é um pouco isso, esse é o nosso mundo, o nosso cosmorama é isso. 

Este disco pareceu-me extremamente visual, não só pela escolha de alguns dos títulos, como por exemplo o “Dupla Exposição”, quer pelas próprias texturas, sons e as imagens evocadas pelas letras. Imagino que fosse essa também um pouco a intenção?

Sim, a nossa música tem uma componente cinemática muito forte, mesmo pela nossa paixão pelo cinema. Se calhar uma vertente de cinema um bocado mais poética, como o cinema do Derek Jarman, mas também filmes em que a banda sonora enriquece muito o filme, como coisas do cinema checo da New Wave, Valerie and Her Week of Wonders, Daisies. Um certo surrealismo também, a própria letra do “Dupla Exposição”, que estavas a referir, invoca também imagens um pouco surrealistas, “um lago no umbigo… a galáxia na flor”, e nós gostamos disso, de elementos que transponham a música para um campo mais visual, mas também desconstruir a componente da palavra e usar a palavra às vezes como uma alegoria, em vez de ser um relato explícito de algo. E isso são desafios que gostamos de ter quando estamos a criar.

Achei também este disco mais electrónico, ganhando algum espaço à folk. Quais dirias que são as principais diferenças deste álbum face aos anteriores?

Sim, tens razão, este álbum tem um carisma bastante mais electrónico em relação aos discos anteriores. Como te referi nós temos estímulos de vários géneros e várias bandas, e aqui quisemos que sobressaísse um cunho mais electrónico, não esquecendo as tais raízes, mas essa predominância é explícita. E eu acho que também é o disco em que exploramos de uma forma mais aprofundada a componente rítmica das músicas. Isso também foi fruto um bocado do método, porque houve um período durante a composição em que resolvemos fazer algumas sessões sectoriais, ou seja, havia alguns ensaios em que trabalhávamos só o baixo e a bateria, e buscávamos várias soluções em cada música só para o baixo e a bateria, sem ter aquelas restrições de estarmos os seis, e às vezes há a tendência de estarmos todos ao mesmo tempo a tentar contribuir com uma coisa, e muitas vezes resulta e corre muito bem, mas às vezes há tendência para não se aprofundar certos caminhos de um determinado instrumento. E desta vez resolvemos fazer isso e resultou bastante bem. Fomos gravando baixo e bateria para várias músicas e depois fomos escolhendo os vários trechos que funcionavam melhor. Fizemos o mesmo depois para sintetizadores e guitarras e violas acústicas, para trabalhar melodias e harmonias. Mas, como factores diferenciadores, eu diria mesmo: predominância electrónica e uma componente rítmica bastante mais forte do que nos discos anteriores. 

De facto vocês são seis e na vossa música, que é tão transcendente, perguntava-te se é fácil conseguir colocar todas essas pessoas no mesmo comprimento de onda para conseguir essa sinergia?

Não, não é fácil. [Risos] Não é fácil e há muitos dias em que a energia diverge e que são sessões bastante infrutíferas, mas quando resulta é uma sensação mágica. É por isso que a construção é gradual e é um misto de instinto e de sessões de improviso, mas também muito trabalho de laboratório, em que são pesquisadas texturas sonoras, que tipos de instrumentos é que funcionam melhor em cada música, e essa construção é gradual e muitas vezes com núcleos mais pequenos de pessoas da banda, que vão depois construindo esses pequenos trechos e depois vamos trocando informação e ficheiros entre nós, que cada um pode trabalhar em casa e ouvir, mas não é fácil. Não é fácil porque é um trabalho criativo e no qual empenhamos muita energia. Quando chegámos ao final das gravações deste disco estávamos esgotados, no sentido bom do esgotado, porque tínhamos canalizado muita coisa de nós para as músicas.

Vocês gravaram este disco ainda antes de toda esta situação da pandemia?

Sim, nós terminámos as últimas sessões em Fevereiro, duas semanas antes do primeiro confinamento. Depois seguiu-se um período de dois, três meses em que estivemos a trabalhar nas misturas do disco. Aí já é um trabalho um bocado mais solitário, em que o nosso engenheiro de som, o Artur David, dedicou muito tempo às misturas, até porque ele estava sem concertos e pode mesmo dedicar bastante tempo às misturas, e íamos fazendo sessões de Skype para discutir soluções. Ele enviava-me várias abordagens para cada música, coisas que íamos limpando porque havia ambientes que já estavam a ficar um bocado sobrecarregados de instrumentos, o que é que devia ser mais relevante em cada parte, e então foram alguns meses dedicados a isso. Depois foi o período do artwork e do design com o Julian House, em que fazíamos sessões para discutir os caminhos gráficos e visuais, ele enviava-nos ideias, nós íamos contrapondo e dando também algumas sugestões e algumas ligações a Portugal, enviámos imagens de alguns filmes portugueses, alguns documentários, bandas que nós gostamos, e ele foi incorporando tudo isso. Depois tivemos a masterização feita pelo Jon Brooks, que também é músico da Ghost Box, dos The Advisory Circle. Portanto com isso tudo passámos o período do confinamento bastante ocupados e activos, o que é uma sorte porque é trabalho que pode ser feito à distância, portanto rentabilizámos ao máximo todo esse período do confinamento. 

E existiram também colaborações, a Nina Miranda, que já tinha estado convosco em alguns concertos, a Alison Bryce, Eduardo Raon… vocês são seis mas gostam ainda assim de trazer mais gente para a vossa música?

Sim, desde a nossa génese, já no primeiro disco, que é todo feito por versões de músicas de folk e não só, tínhamos convidado o Wolfgang Shloegl, a Erica Buettner, a Riz Maslen dos Neotropic. Nós achamos que as colaborações acabam sempre por enriquecer a nossa música e as que vamos escolhendo não são inocentes, são fruto de um percurso comum em algum ponto musical ou da nossa vida, e o denominador comum é sempre a afinidade musical, nunca são colaborações “bora lá colaborar porque agora era fixe ou é um nome sonante”, não, nunca vamos por aí e então essa afinidade é o ponto comum. Mas depois há histórias diferentes de cruzamentos. A Nina Miranda surge através de um amigo comum que é o Béco Dranoff, que é um produtor musical responsável por aquelas compilações do Red Hot, e quando fomos tocar a Londres eu contactei a Nina e expliquei “olha somos amigos do Béco, ele filmou-nos para o documentário Beyond Ipanema, por causa nossa versão do ‘Mutantes’, nós gostamos muito da tua voz e da tua ligação ao Brasil e ao tropicalismo e gostávamos que fizesses essa noite connosco”. Ela respondeu logo a dizer que adorava a ideia, mas acabou por não acontecer essa participação, mas ficou a ideia no ar, até que surgiu a ideia do Sonhos Tecnicolor no Musicbox, em que a convidámos e fizemos essa noite em comum, com os dois concertos, uma fusão de Nina e Beautify, em que tocámos músicas em conjunto. Depois ela voltou a fazer uma noite connosco no CCB, no encerramento da tour do The Invisible World [of Beautify Junkyards], e ficou sempre no ar que tínhamos que fazer qualquer coisa em conjunto. Quando começámos a trabalhar no disco já tínhamos algumas bases musicais assim mais luminosas, mais rítmicas, sabíamos que fazia sentido convidá-la para essas músicas e ela ouviu, gostou muito e começámos a trabalhar à distância. Ela tem um estúdio caseiro e fomos trocando ao longo dos meses muitas ideias musicais, de cinema e de filmes, ela foi escrevendo as letras também, houve uma que escrevemos os dois, que é o “Parangolé”, em que fomos trocando frases, uma coisa um bocado surrealista, mesmo tropicália. As outras duas músicas ela escreveu a letra, uma em português, a outra em inglês, e quando nos enviou as vozes nós achámos fantástico e ficámos “Wow! É mesmo isto”, a voz dela é fantástica. O Eduardo, porque já tem um percurso no passado quando nós estávamos nos Hipnótica (ele tocava harpa e guitarra), mas também com os Power Trio e agora está ligado à música de improviso, contemporânea, e essas ligações de amizade para nós são importantes mantê-las, mesmo ele já não morando em Portugal (agora vive na Eslovénia), mas achamos importante manter essas relações com o nosso passado. A Alison Bryce foi um conhecimento muito curioso, nós participamos num grupo de Facebook comum de música electrónica, e a certa altura eu tinha comprado o disco da banda dela, que tinha saído em 2018, e ela tinha comprado o disco dos Beautify, trocámos impressões e achámos muito curioso porque há muita relação estética entre as duas bandas. Começámos a falar também de influências, haviam muitas em comum e achámos que fazia sentido traçar essa ponte com Nova Iorque e termos a Alyson no disco. E ela fez um trabalho incrível numa música que se chama “Deep Green”, é uma melodia lindíssima e ela inspirou-se na letra num romance que se chama Arcadia, agora não me recordo o nome da autora, porque eu tinha-lhe transmitido um bocado o ambiente de “isto começa com uma referência um bocado pastoral, mas depois entra num ambiente mais urbano, como alguém que tivesse saído do campo e fosse para a cidade” e ela escreveu uma letra relacionada com isso.

Acabámos por ter muita sorte tanto com a harpa do Eduardo, que traduz aquele universo mais cinematográfico, como nas duas vozes femininas. E depois temos a nova voz, que é a Martinez, ela só entrou mesmo para a banda já na fase final das gravações do disco mas ainda a tempo de participar numa música, que é “A Garden by the Sea”, que era uma música que eu tinha combinado com a Helena [Espval] de fazermos um dueto, mas a Helena sugeriu “olha já que a Martinez acabou de entrar porque é que não experimentas com ela?” e foi isso que fizemos, experimentámos com as duas vozes e ficou muito bom, e é um bom cartão de visita para a entrada dela no nosso núcleo duro.

Foi bem recebida, então…

Sim, ela tem uma voz lindíssima e também toca piano, e é importante porque depois nos concertos nós estamos constantemente a trocar — eu não toco bem instrumento nenhum mas vou também fazendo umas coisas nos teclados — portanto é importante que ela também toque, e ela toca bem. Depois a Helena toca flauta, violoncelo, guitarra, o João Moreira também duas violas, mais teclados, o Sérgio vai oscilando entre o baixo e o omnichord, o Tony [Watts] tem um set de bateria assim todo híbrido entre acústico e electrónico. Portanto é sempre bem-vindo alguém que, para além de saber cantar, saiba tocar um instrumento, então encaixou como uma luva.

Falaste logo ao início da dificuldade de não poder apresentar agora este disco, mas esperando pelo melhor, já existem planos para futuros concertos? Expectativas?

Nós estamos a trabalhar em duas coisas ao mesmo tempo para os concertos. Na componente musical estamos a desenvolver um bocado os arranjos das músicas em relação ao disco, as músicas estão em constante mutação apesar de terem ficado ali cristalizadas no disco, elas são organismos que agora ao vivo se vão desenvolver para outros caminhos. E estamos a trabalhar também na componente visual e de palco, queremos trazer elementos novos que tenham relação com esse tal conceito de cosmorama e queremos transpor isso para o palco. Mas a nossa expectativa é que antes do segundo trimestre não vai ser viável, portanto estamos a apontar para fazer alguns concertos de apresentação no início do segundo trimestre e depois mais para o Verão começar mesmo a tocar pelo país, porque aí esperamos que já estejamos todos vacinados, e que possamos voltar a uma certa normalidade. Depois, mais para o fim do ano, queríamos, como referi, voltar a Inglaterra e fazer alguns concertos lá, dependendo da situação.

Para terminarmos, este vosso disco é luminoso (foi uma palavra que também já utilizaste hoje) até nos momentos mais nocturnos, e acho que pode ser o disco que todos precisamos para conseguir esse escapismo, sobretudo neste período difícil. Cosmorama poderão ser também os Beautify Junkyards a mostrar-nos um futuro melhor?

Sim, a nossa forma de interpretar o estado das coisas e canalizar esse estado das coisas, que muitas vezes é um bocado sombrio, é tentar assimilar isso e recriar novas possibilidades mais positivas, a partir deste presente mais cheio de incógnitas e sombrio. E essas perspectivas podem ser encantadoras e muito melhores do que nós perspectivamos, e passa por adquirirmos uma consciência colectiva um bocado diferente e não nos deixarmos levar, mas sermos condutores dos acontecimentos, sermos mais interventivos em termos sociais — porque acho que os tempos actuais assim o exigem –, sermos cada vez mais contraponto a discursos de divisão e a discursos de ódio, e fazer ver às pessoas que todos temos a ganhar com a harmonia, com a partilha de ideias, com a divergência de ideias num ambiente saudável, com o respeito pela magia da natureza, pela proximidade que temos que ter com essa mesma natureza cada vez mais, e tentar contrariar um pouco aqueles ideais do Mark Fisher, do [The] Slow Cancellation of the Future, que pode ser um conceito um bocado angustiante — sabemos que hoje em dia tudo gira em torno do mesmo, que o neoliberalismo é selvagem, que o populismo está a crescer, mas cabe a nós, enquanto cidadãos, termos um papel activo e sermos agentes de transmitir a história para que a história não se repita, e de passar ideias positivas para que todos consigamos perceber que todos podemos caminhar para um sítio melhor. E é um bocado isso.


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