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Publicado a: 24/10/2015

5K7s #6

Publicado a: 24/10/2015

[TEXTO/FOTOS] Rui Miguel Abreu

 

Começa a ser complicado arranjar um esquema de arquivo decente para as cassetes aqui em casa. Nalguns casos específicos de editoras (Finders Keepers, Folklore Tapes…) tenho-as guardadas numas caixas catitas de papel que se vendem no Ikea e que também uso para os meus singles de vinil. Mas depois, o resto, divide-se por um móvel que já está arrumado por camadas o que torna complicado às vezes localizar uma cassete específica. Enfim, é o único aspecto menos positivo de que me lembro assim de repente no que ao formato diz directamente respeito. De resto, nada a contrapor: este suporte continua a ser eleito por quem, sobretudo nos domínios mais experimentais da electrónica, pretende atribuir dimensão física a música que, de outra maneira, estaria condenada por questões económicas a viver apenas no domínio digital. E hoje trago alguns bons exemplos disso mesmo.

 


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[MATTHEW AKERS]
(Whitest Hunters, Blackest Hearts, Musica Originale/Suite 309, 2015)

Falta-me apenas um título na já considerável discografia de Matthew Akers (11 títulos distribuídos por edições em vinil, CDr ou, sobretudo, cassete) para possuir a sua obra integral, não porque seja motivado por algum ímpeto completista, muito pelo contrário, mas porque a sua música me interessa genuinamente. Será, ao lado de Steve Moore da dupla Zombi, um dos intérpretes mais fiéis do espírito da música de John Carpenter, o que é bem distinto de dizer que é um mero copista. Para começar há um certo rigor técnico na sua música que lhe confere uma riqueza tímbrica assinalável (neste título, uma banda sonora imaginária, usa uma lista generosa de synths – Kurzweills, Oberheims,. E-Mus, Yamahas, Rolands, etc.) e depois uma ambição artística que parece atirar esta música altamente evocativa (mas não meramente derivativa) para o domínio dos VHS de títulos obscuros dos anos 80. Nada nesta música soa fake, e isso é uma proeza para o músico e compositor de Detroit.

Edição em caixa transparente, com insert a cores, desdobrável e cassete em concha azul opaca com impressão de títulos.

 


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[COLIN POTTER]
(Albums and Rarities, ICR, 2015)

Ok, assumo: vigarice! A coluna designa-se 5K7s, mas só de uma penada vou aqui arrumar seis. Trata-se de uma nova edição de Colin Potter, engenheiro de som ligado à cena industrial britânica (trabalhou com gente como Current 93 ou Nurse With Wound) que também possui uma profusa discografia a solo que remonta aos alvores da década de 80. O ano passado, por ocasião do Cassete Store Day (para quando o Reel to Reel Store Day? Ou o Flexi-Disc Store Day? Ou o 8-Track Tape Store Day?… Mini-Disco Store Day?…), Colin Potter editou uma quantidade limitada de seis títulos raros (incluindo registos de 1980 e 1981) em cassete usando o mesmo artwork original, etc.. O lote esgotou muito rapidamente, obrigando Colin a fazer uma segunda edição, com capas de cores diferentes, que foi aquela a que eu consegui deitar a mão. Este ano fui mais célere e apanhei o novo lote disponibilizado por Colin Potter: dois volumes de Recent History (com datas de 1989 e 1990), See (1990), Are We Nearly There Yet? (compilação inédita de trabalhos soltos de finais dos anos 80 e inícios dos anos 90) e ainda dois volumes de Hiss Story (mais duas compilações inéditas de peças que, como o título indicia, remontam a um período mais inicial da sua carreira, nos finais dos anos 70 e arranque dos 80, quando a fidelidade ainda não era a mais apurada). Música ambiental de diferentes tons de luminosidade, feita sobretudo com recurso a sintetizadores e múltiplos efeitos, a aproximar-se por vezes de algumas estratégias da new age, mas com um recorte emocional bem mais sombrio.

Edições em caixa de plástico transparente, com inserts simples impressos a cores em cartão de qualidade e cassetes com concha transparente com etiquetas de papel coladas.

(Na impossibilidade de localizar áudio SoundCloud ou Bandcamp para estas edições de Colin Potter, deixamos aqui uma outra amostra do seu trabalho).

 


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[BLACK CHANNELS]
(Two Knocks For Yes, Castles in Space, 2015)

 

Os Black Channels estrearam-se com um dez polegadas na Death Waltz (a que demos atenção aqui no ReB) e agora avançam na discografia com a edição de um álbum em cassete na Castles in Space. Desta vez, os Black Channels querem menos apontar ao universo explorado pelos Broadcast e a personalidade hauntológica de Simon James (homem dos interessantes Simonsound) vem mais ao de cima, sobretudo na primeira e longa peça que dá título ao álbum e que se estende pelos 26 minutos do lado A. Trata-se de uma auto-descrita peça de investigação radiofónica com um conceito em torno dos poltergeists (a cassete vem aliás com dois inserts que são cartões para anotar aparições de fantasmas – mais hauntológico seria impossível). Essa dimensão conceptual confere espessura à música que é evocativa de velhas peças do Radiophonic Workshop, com todas aquelas vozes a soarem, de facto, a velhos fantasmas presos na fita. O lado B faz-se de peças mais curtas, mas ainda assim instrumentais e sem a voz de Becky Randall presente no tal 10 polegadas inaugural, a música de Black Channels remete-se a uma dimensão mais abstracta e francamente mais interessante.

Edição em caixa transparente, com insert em cartolina vermelha impressa a uma cor com adição de dois cartões para anotação de aparições de fantasmas; cassete em concha transparente com etiqueta de tamanho reduzido colada.

 


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[BITCHIN BAJAS]
(Bitchin Bajas, Drag City, 2014)

Esta cassete já por aqui anda desde a primeira edição do Mercado de Música Independente (que está de regresso, já agora importa dizer, nos próximos dias 27 e 28 de Novembro, como parte integrante do programa do Vodafone Mexefest), comprada ao enorme Fred Somsen na banca da Drag City. Trata-se de uma edição especial do trabalho destes krauters comandados por Cooper Crain que no formato de cassete expande a edição original de oito temas (que ocupam uma cassete inteira) para uma dupla cassete que inclui mais de uma hora de material original sob a forma de duas longas peças do que o trio identifica como “Relaxation Version”. Derivas ambientais/new age, servidas por drones sintetizados e apontados ao cosmos, como interessa, claro. Música perfeita para os dias outonais que se avizinham!

(Bitchin Bajas estarão também dentro de algum tempo a tocar ao vivo em Lisboa!)

Edição em caixa de cassete dupla de plástico, com inserts simples e cassetes em conha de plástico negro opaco com impressão directa.

 


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[NEHRUVIANDOOM]
(NehruvianDOOM (Sound of The Son), Lex, 2014)

Outra cassete que já por aqui anda a algum tempo, mas que ainda não tinha sido mencionada. É muito curioso, o facto de eu associar alguns géneros a suportes específicos – o jazz em vinil, por exemplo, ou o funk em sete polegadas, são exemplos claros – e de como tanto uma certa electrónica como o hip hop fazer tanto sentido na minha cabeça e sobretudo nos meus ouvidos neste formato de cassete. Há aqui um significado emocional qualquer, certamente, ligado ao facto de ter descoberto estes géneros em cassetes copiadas em tempos de amigos. Enfim, e por isso mesmo não descansei enquanto não encomendei este título que une os talentos de Bishop Nehru e de Doom – que já possuía em vinil – neste quente suporte de fita magnética. Tenho que ver se compro uma boom box a sério para cumprir a fantasia de forma mais fiel. Seja como for, este é um álbum que já foi bastante analisado, uma pequena pérola que soa a uma espécie de candidatura da dupla Nehru/Doom a membros honorários do Wu-Tang Clan, com tudo o que isso tem de elogioso: beats carregados de pó, rimas atiradas livremente para o microfone em derrapagem constante pelas margens do sentido. Mel para os ouvidos.

Edição em caixa de plástico, com insert desdobrável a cores e cassete em concha transparente com etiqueta em película dourada e impressa aplicada no interior da concha!

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