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Publicado a: 24/08/2015

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A Death Waltz de Spencer Hickman, entretanto fundida com a norte-americana Mondo num inédito acordo transatlântico, não seria, em princípio, a escolha mais óbvia para a edição do EP homónimo de estreia da dupla Black Channels. Afinal de contas, a Death Waltz fez nome – e criou descendência – a editar bandas sonoras de filmes de terror e embora assombrada, a música dos Black Channels pertence a outra espécie e faria provavelmente mais sentido na Ghost Box ou até na Finders Keepers (não deixa, aliás, de ser curioso que na mix que assinaram para o programa Solid Steel os Black Channels incluam múltiplas faixas de ambas as editoras). Mas coube então à Death Waltz a responsabilidade pela edição deste registo inaugural do duo de Simon James (homem por trás dos igualmente hauntológicos Simonsound) e Becky Randall (com uma ajuda do baterista Colin Lamont, músico de sessão habituado a estas derivas mais assombradas, como se comprova pelo seu trabalho, por exemplo, em registos de Mr. Chop).

 



Claro que a referência máxima aqui serão os Broadcast, mas Becky não chega para nos fazer esquecer a incrível presença de Trish Keenan. Aliás, nada nestes três temas chega para preencher o vazio deixado pelo desaparecimento dos Broadcast após o inesperado falecimento da sua vocalista. E o elo mais fraco será mesmo a voz de Becky Randall: não por não ser um portento em termos técnicos (porque a de Trish também não era), mas por não conseguir conjurar os mesmos arrepios que a sua provável heroína impunha. Mas Trish era uma erudita – com sólidos conhecimentos da história da folk, da electrónica mais exploratória, do kraut e de outras linguagens arcanas e mais ou menos esotéricas que lhe davam uma bagagem singular e uma nobre autoridade na voz. Já Becky soa ela mesmo como uma cantora de sessão, que foi aqui chamada para se encaixar num conceito que provavelmente não será o dela.

Ainda assim, a produção de Simon James é sólida, com as bases fornecidas pelo músculo de Colin Lamont a serem preenchidas por ecos de electrónica radiofónica. Há, tal como acontecia com Broadcast, uma leve insinuação pop, sobretudo no tema “Oracles”, e uma investida mais assumida por terrenos “deliaderbyshirianos” (perdoem o palavrão, mas é difícil resistir-lhe) no instrumental “Whispering Sons” e no segundo tema vocal, “Depth of Field” que é, precisamente, aquele em que Becky Randall revela as suas maiores fragilidades. Um álbum inteiro de exercícios na veia de “Whispering Songs” poderá, no entanto, garantir mais elogios a esta nova aventura de Simon James.

 

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