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Publicado a: 14/09/2016

20 discos de hip hop de 1996 – 20º ao 11º

Publicado a: 14/09/2016

[TEXTO] Rui Miguel Abreu[FOTO] Direitos Reservados

 

Primeira parte de uma lista de 20 discos que complementa o ensaio que ontem se publicou por aqui. Viaja-se por 10 dos 20 marcos que Rui Miguel Abreu aponta como razão principal para entender 1996 como um ano vintage na história do hip hop. Amanhã publicaremos os 10 primeiros títulos desta lista.

 


11º – [MOBB DEEP] Hell on Earth

 

Quando se procuram exemplos clássicos do som de Nova Iorque poucas escolhas poderão ser mais acertadas do que Hell on Earth, terceiro registo na carreira dos Mobb Deep e sucessor directo de The Infamous. Havoc e Prodigy estão aqui em topo de forma e rodeados de aliados de peso – Nas, Raekwon, Method Man ou Big Noyd marcam presença. É uma amostra de força necessária, porque há uma guerra para travar, como “Drop a Gem on ‘Em” – resposta ao diss de 2Pac “Hit Em Up” – deixava claro. Samples escolhidos com critério, beats pesados, tons sombrios – soava assim este Hell on Earth.


12º – [UGK] Ridin’ Dirty

 

Pimp C e Bun B colocaram o Texas no mapa, diversificando ainda mais a cena rap americana. Ao terceiro álbum, a dupla conseguiu igualmente a proeza de assinar um clássico. Com a produção quase totalmente assegurada por Pimp C, que elege samples de funk dos anos 70 dos Isley Brothers, Curtis Mayfield ou Fatback Band como base, Ridin’ Dirty abre com a poderosíssima “One Day”, uma das melhores e mais emocionais canções da história do rap: “Mama put me out at only fourteen / So I start selling crack cocaine and codeine”. E a partir daí é sempre a subir…


13º – [DR DRE] First Round Knock Out

 

Esta compilação serviu para Dr. Dre marcar o passo enquanto resolvia a sua vida depois da saída abrupta da Death Row. Apresentado quase como uma mixtape budget, First Round Knock Out ainda assim tem argumentos de peso em faixas de World Class Wreckin’ Cru (o primeiro grupo de Dre, pré-N.W.A.), The D.O.C., Snoop Dogg, Michel’le, Rose Royce ou Kokane. Mesmo sem uma editora sólida por trás e um bom budget para convidados de primeira linha, esta ainda é uma considerável amostra das singulares capacidades de Dre.


14º – [BEASTIE BOYS] The In Sound From Way Out

 

Os instrumentais criados pelos Beastie Boys para Check Your Head e III Communication foram reunidos num álbum que levou a ideia de sampling ainda mais longe sendo apresentado com o mesmo título e praticamente a mesma capa de um clássico de Jean-Jacques Perrey e Gershon Kingsley. Por esta altura, o estudo atento das origens do hip hop já tinha levado os Beasties a mergulhar no passado de onde emergiram com música que dispensava as palavras porque possuía uma carga narrativa própria, bem evidente para os que interpretaram o hip hop como um mapa para a exploração de outros géneros musicais.


15º – [BUSTA RHYMES] The Coming

 

Estreia a solo de Busta Rhymes, veterano já na época graças à sua passagem pelos Leaders of the New School (que aparecem aqui, no último tema que gravaram juntos), The Coming também antecipa o futuro já que vários dos nomes que viriam a compor a sua Flipmode Squad também se fazem aqui representar. É por isso um disco entre o passado e o que estaria para chegar. Com produção de The Ummah, Easy Mo Bee ou Dj Scratch é também um claro “showcase” do talento de Rhymes no microfone. Melhor momento? O clássico “Woo Hah! Got You All In Check”.


16º – [REDMAN] Muddy Waters

 

Redman, rapper que trabalhou abundantemente com Method Man e que integrou a Def Squad, é o que se pode descrever como um “rappers’ rapper”, um artista apreciado pelos seus pares. E entende-se porquê, ouvindo este Muddy Waters, terceiro álbum da sua carreira que ele mesmo produziu juntamente com Erick Sermon: rimas afiadas, humor certeiro, muitos interlúdios que conferem uma unidade narrativa ao todo, beats com o peso certo para fazerem sentido nos walkmans ou nos carros. É ouvir “Whateva Man” para se perceber.


https://www.youtube.com/watch?v=4s9epKCKbec

17º – [EMINEM] Infinite

 

Infinite é o disco de Eminem que nunca ninguém ouviu, a prova secreta do passado em Detroit de quase miséria, das dificuldades que atravessou enquanto lavava pratos num restaurante e tentava sobreviver e educar a sua filha. Infinite só teve uma prensagem de mil cópias (há uns anos foi oferecido como um download gratuito antes da edição de Relapse) e mostra um Eminem ainda longe da forma que viria a demonstrar nos dois álbuns seguintes, muito colado a rappers como AZ, mas cheio de fome e de vontade de vencer.


https://www.youtube.com/watch?v=2qK_gO965xU

18º – [KOOL KEITH] Dr Octagonecologyst

 

Kool Keith é um dos mais raros cromos da caderneta hip hop. Vindo dos Ultramagnetic MCs, Keith criou mais alter-egos do que Fernando Pessoa, o primeiro dos quais logo nesta estreia a solo – Dr. Octagon. Produzido por Dan The Automator (que haveria de trabalhar no primeiro álbum dos Gorillaz) e com scratch do enorme Q-Bert, este álbum é uma delirante amostra dos talentos de Kool Keith que aqui nos leva ao interior da mente de um ginecologista homicida e extra-terrestre capaz de viajar no tempo. Sim, é um disco desses…


19º  [BAHAMADIA] Kollage

Natural de Filadélfia e com ligações à Gang Starr Foundation, Bahamadia estreou-se com Kollage, disco sem impacto comercial mas com estatuto de culto, muito graças às capacidades líricas de Bahamadia e à produção clássica de DJ Premier e dos Beatminerz (os conterrâneos Roots assinam uma das faixas). Hoje, Kollage é encarado como um clássico do período áureo do som de Nova Iorque, delicado rendilhado de beats equipados com samples de jazz e soul e com uma “sista” consciente e talentosa a brilhar em cima.


20º – [GETO BOYS] The Ressurrection

Os Geto Boys, grupo do rapper Scarface, são naturais do Texas, como os UGK, e devem ter passado muito tempo fechados num quarto com Texas Chainsaw Massacre a rodar em “loop”: as letras são negras e abordam assuntos tabu como a necrofilia e diversas experiências psicóticas. The Ressurrection era já o quinto álbum dos Geto Boys e mostrava-os com a fórmula apurada e em absoluto topo de forma . A ideia de gueto é, claro, fortíssima no seu universo lírico – “The World is a Ghetto” é a prova.

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