LP / CD / Digital

Tyler, The Creator

DON’T TAP THE GLASS

Columbia Records / 2025

Texto de Miguel Santos

Publicado a: 11/08/2025

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Tyler Okonma é um homem ocupado. Ainda antes de ter lançado o vibrante e confessional CHROMAKOPIA no final de Outubro de 2024, o artista norte-americano que assina como Tyler, The Creator já tinha anunciado uma massiva tour para promover o álbum. Foram anunciadas dezenas de datas nos Estados Unidos e um pouco por todo o mundo, meses intensos de apresentação ao vivo que fazem parte de uma digressão que ainda está a decorrer. Como se isso não bastasse, contribuiu para o álbum de regresso dos Clipse, o estelar Let God Sort Em Out, num impressionante e curto feature em “P.O.V.”. E no meio disto tudo, arranjou tempo para escrever e lançar um novo álbum, DON’T TAP THE GLASS. Quer lhe chamem de alguém que vive para o trabalho ou digam que tem uma incessante paixão musical, a verdade é que há por aí mais um trabalho de Tyler, The Creator para ouvir, e isso é por norma um bom sinal. 

O nono álbum do artista nativo da Califórnia é irrequieto e não dá para ouvir parado — pés colados no chão são a antítese deste projecto. Escrito e produzido pelo próprio — que recrutou também convidados para alguns deveres vocais — a sua energia frenética remonta por vezes ao malogrado Cherry Bomb, mas a entrega de Okonma é mais refinada e madura. “Big Poe” define o tom digital e de grande pujança do resto do álbum, introduzindo um personagem sem rodeios que despreza quem tem problemas com isso. Já “Sugar on My Tongue” é mais dançável e convidativa, sem papas na língua e com uma produção que é simultaneamente reminiscente dos êxitos pop dos anos 2000 à la The Neptunes e dos sintetizadores ruidosos de IGOR. Não é o único momento em que Tyler, The Creator mistura passado e presente: “Sucka Free” apresenta-se com uma produção vintage muito intoxicante, com direito a vocoder utilizado com intuito numa música que nos transporta instantaneamente para o Sol e para a liberdade que nos traz esse astro caloroso. Juntamente com “Ring Ring Ring”, estes três temas apresentam vários detalhes sonoros que garantem que não são só os pés que ficam entretidos, os ouvidos também.

Apesar de não ser tão profundo como o álbum que o antecedeu, DON’T TAP THE GLASS tem momentos que fazem mossa, em lados opostos da escala emocional. Ouvimos Okonma combativo na fugaz “Mommanem”, brutalmente honesto através de um refrão que rapidamente se aloja na mente e barras ameaçadoras fielmente acompanhadas por uma batida perscrutante, e ouvimo-lo igualmente lutador nos graves descontrolados de “Stop Playing With Me”. Esses sons distorcidos informam-nos sobre alguém que não está para brincadeiras, com uma arrogância desmedida (“You’re ‘and others’ if I crash this plane”) e no topo da montanha a proclamar-se dono disto tudo. Mas por outro lado, o rapper é capaz de momentos como “Don’t You Worry Baby” — provavelmente um dos refrões mais açucarados do ano, cantado por Madison McFerrin — que conjura uma promessa de entrega total de alguém que exige o mesmo, sob uma atmosfera encantadoramente leve. De maneira semelhante, o instrumental angelical de “I’ll Take Care of You” deixa suavemente uma promessa no ar antes de ser engolfada por uma bateria exasperada, cortesia de um sample da sua música “CHERRY BOMB”. São exemplos de como Tyler, The Creator é capaz de gerir a sua energia para o que a música está a pedir, disparando de forma certeira em várias direcções. 

A única excepção à atmosfera gingada do álbum é a música final. É também o momento mais intimista do projecto, de alguém que procura respostas sob melodias interrogativas. Termina com um cooldown físico e emocional, espelhando o cansaço anunciado que é fruto da sonoridade de DON’T TAP THE GLASS. Num vídeo recentemente partilhado pela Complex Music no Instagram, ouvimos Tyler, The Creator dizer aos fãs que criar este álbum durante a tour o ajudou a lidar com o cansaço da vida na estrada. Essa vida certamente inspirou o álbum: quase 30 minutos de músicas que vão directas ao assunto, desenhadas para ribombarem em estádios e arenas e que certamente virão a fazer parte das setlists de elevadas octanas dos seus concertos. Podemos então concluir que Tyler, The Creator é alguém que vive para o trabalho e que tem uma incessante paixão musical. E voltou a comprovar-se o seu compromisso em fazer música com qualidade e critério.


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