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Fotografia: COLORS STUDIOS
Publicado a: 19/07/2023

No caminho para o terceiro álbum, João Batista Coelho desvenda o processo criativo de “Sem Ti”.

Slow J: “O nível da colaboração neste álbum foi muito mais longe”

Fotografia: COLORS STUDIOS
Publicado a: 19/07/2023

Slow J tem vindo a antecipar o seu terceiro álbum, ainda sem título desvendado, que há-de chegar este ano. Embora não se conheça a tracklist, nos últimos meses apresentou os singlesWhere U @ e “Sem Ti”, além do tema “Grandeza”, que levou ao A COLORS SHOW. 

Em entrevista ao Rimas e Batidas, que também serve para antecipar o concerto que vai apresentar este sábado, 22 de Julho, no Summer Opening, na Madeira, João Batista Coelho fala do processo criativo de “Sem Ti” e revela como os GOIAS duo dos irmãos Henrique e António Carvalhal são produtores executivos de todo o disco. Também aborda como tem sido o regresso mais intensivo aos palcos.



Apresentaste este ano os singles “Where U @”, “Grandeza” e “Sem Ti”, que são bastante diferentes entre si. O que é que já podes desvendar sobre o álbum e o seu conceito?

Não queria fazer muitas revelações, até para falarmos disso a seu tempo. Mas, agora que estavas a dizer isso, dá-me muitas vibes da altura do The Art of Slowing Down, com uma cena que sempre tentei um bocado fazer: como fã, não consegues prever minimamente a que é que vai soar o próximo single. E agora, quando os enumeraste, isso não foi muito intencional, mas é algo que me deixa contente. O trabalho do estúdio também é esse: chegar a uma vibe e no dia a seguir não vamos para lá para tentar fazer outra igual. É sempre tentar continuar a explorar. Mas há uma linha que os liga a todos e que vai fazer sentido no final. 

Há uns dias antecipaste nas tuas redes sociais que o álbum estava terminado. Podemos esperá-lo para breve?

Mais um bocadinho. Vai ser este ano, mas quero que o lançamento seja mesmo bem trabalhado.

O processo criativo neste disco tem sido diferente em relação ao You Are Forgiven? Ou tens mantido um bocado o mesmo método? Sei que tens trabalhado com vários artistas.

Diria que é semelhante, mas todos os aspectos meio que cresceram. Quando eu comecei a trabalhar, fazia tudo praticamente sozinho, não é? Então demorei um bocado a deixar de sentir resistência ao entregar o controlo das coisas, a delegar e a colaborar. Sempre foi algo que vi como o ideal, mas tinha alguma dificuldade em chegar lá. E sinto que o nível da colaboração neste álbum foi bastante mais longe do que no anterior, em termos de processo de estúdio, dos produtores, das ideias que vinham de outras pessoas. E estou bué contente nesse aspecto: sinto que continuo a crescer, tanto no álbum como ao vivo, a colaborar com mais pessoas, para criar uma visão maior. Trabalhar sozinho é muito bonito até bateres no tecto. Há 24 horas por dia, 365 dias por ano, e não dá para passar de certo ponto.

E como é que nasce o teu mais recente single, o “Sem Ti”?

Nasceu mesmo de uma experiência pessoal, acho que dá para perceber isso. É engraçado porque foi uma música que passou mesmo por um processo muito grande. Estou a trabalhar neste álbum há quatro anos e a versão original era uma cena bué rock. Comecei a gravar no Charlie [Beats], lembro-me perfeitamente dessa noite: já eram duas ou três da manhã e estávamos os dois a ouvir a guitarra com a voz e foi “puto, isto ficava aqui bué bem uma bateria mesmo à antiga”. E o Charlie, que foi baterista, todo entusiasmado a ir lá para dentro gravar a bateria. Lembro-me perfeitamente da energia desse dia, foi brutal. Ficámos com a sensação de que estava ali uma cena especial mas ainda não estava lá… Quando ouves uma música e chegas ao fim, há um certo tipo de sentimento que quero que sintas. E há outros sentimentos que não quero que sintas [risos]. Pode ser um bocado abstracto, mas sentia que a música te retirava algo em vez de te dar qualquer coisa. Ou pedia-te mais atenção do que a energia que te dava. Às vezes é um bocado abstracto na minha cabeça, mas quando sinto a cena é bué concreto. Então ficou ali na gaveta durante uns anos. Fiz uma versão que ficou ainda mais dark, de riffs de metal com drums de trap. E eventualmente, há uns meses, fizemos um camp no Porto com os GOIAS e o FRANKIEONTHEGUITAR e foi bué fixe, porque esta versão se desenrolou toda numas horas. O Henrique puxou dum sample que ele tinha feito, começámos a cantar a melodia, ficou super bem, fizemos os drums, eu peguei num microfone barato que lá tínhamos, estávamos na sala do Airbnb e cantei a música toda do início ao fim — e regravei tudo, o que é algo muito raro, eu quase nunca regravo sons. E a ideia de “Sem Ti”, de separação, foi bué dar à sensação de aceitação. Pelo menos a música, para mim, é muito isso. É a aceitação de que as pessoas às vezes seguem caminhos distintos. E que um gajo não precisa de ficar chateado ou frustrado com isso, é a vida. Os caminhos das pessoas por quem temos carinho eventualmente hão-de voltar a cruzar-se com os nossos, se assim fizer sentido, e há que aceitar apenas. E a versão final sabe-me muito bem, sabe-me a esse dia de sol em que estávamos com uma janela grande no Airbnb que dava para o jardim, todos bem-dispostos e a fazer exercício…

E os GOIAS parecem estar muito presentes neste disco, pelo menos nos singles que já saíram.

Sim, eles estão a fazer a produção executiva do álbum inteiro comigo. Foi um processo muito orgânico, o Lhast já me tinha falado muitas vezes deles. Eles, que tocaram na banda do Dillaz, estão em bué cenas: no “Water”, no “Do You No Wrong”, em montes de coisas que foram produzidas pelo Lhast. E eu curto bué disso em retrospectiva, embora nunca tenha ligado muito. E eventualmente aconteceu, e o Lhast ficou tipo: “óbvio, já vos tinha avisado”. Já não me lembro das primeiras vezes em que nos cruzámos, mas deve ter sido num ensaio do Dillaz, quando ele estava a ensaiar ao pé do meu estúdio, há uns anos. Começámos a conversar e eventualmente enviei-lhes um som, eles fizeram uma versão, eu curti bué e percebia que havia um caminho muito louco que poderíamos fazer juntos. 

E o facto de serem instrumentistas que também compreendem a produção e o sampling também é importante, não é?

Sem dúvida. E a diferença hoje em dia entre chamares a alguém um instrumentista ou alguém que simplesmente faz samples é que a pessoa que faz samples entrega-te uma sonoridade, não te entrega só as notas. Então, é totalmente diferente para um produtor como eu poder contar com essas pessoas como produtores executivos. Não como as únicas pessoas que fizeram parte do álbum, mas como pessoas que ajudaram a guiá-lo e no processo do dia a dia.

Já agora, como surgiu a capa do “Sem Ti”? Foi mais uma colaboração com o artista Fidel Évora, certo?

Foi um pouco como a capa do “Where U @”, em que veio um bocado da discussão com o Fidel, de onde é que podíamos ir nesta capa especificamente. E partimos da ideia de fotos de família para criar este artwork. Mais uma vez, fiquei de boca aberta quando vi a proposta dele.

Suponho que estejas expectante em colocar este álbum cá fora. Dirias que é um disco que te leva para uma nova direcção?

Não sei, espero que sim. É sempre muito difícil tentar prever o que é que as pessoas vão achar. Para mim, é a última Coca-Cola do deserto, trabalhei com o objectivo de fazer o melhor trabalho possível. E ter acabado tirou-me um grande peso de cima dos ombros [risos]. Eu raramente faço posts daqueles, não é? Estava mesmo contente por terminar essa parte e de agora me poder focar em tudo o resto: na apresentação, em como é que o álbum vai chegar às pessoas… Mas, sim, estou com pica!

E já tens o feedback destes singles e suponho que já os estejas a tocar ao vivo, como acontecerá agora no Summer Opening, na Madeira.

Sim, e tem superado as minhas expectativas, como tento sempre não esperar muita coisa [risos]. Eu tive ali um intervalo grande dos concertos, não é? Foram quase quatro anos em que dei muito poucos concertos. Mas foram saindo sons e é muito fixe estar aqui neste momento e sentir que o catálogo, o trabalho que vamos desenvolvendo no estúdio, is paying off. Lembro-me do tempo em que um gajo tinha de estar a espremer o limão para fazer uma hora de concerto [risos]. “OK, o público não quer ouvir esta, eu também não quero assim tanto tocá-la, mas não podemos tocar só 45 minutos…” E agora inverteu-se completamente. Estamos a tirar músicas das mais ouvidas porque, ya, não vai dar tempo. É um momento muito bonito na minha carreira, nesse aspecto está a ser bem rewarding.


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