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Quando a esmola é muita, o pobre desconfia. Mas quando esta é pouca… Talvez seja apenas sinal de que se avizinha o Natal e os artistas estão a guardar os melhores presentes para mais perto da data. 2023 tem-se mostrado farto em em matéria discográfica semana após semana, e a falta de opções no dia de hoje não deixa de causar alguma estranheza. Independentemente da quantidade, não pomos de lado a tarefa de vos ajudar a navegar pelo mar (ou riacho?) de edições, com 5 delas em destaque ao longo desta peça.
Como suplemento, tenham ainda em conta os projectos rubricados por gente como semivitae (Vultos Dançantes), Desidério Lázaro (MicrUs), Busta Rhymes (BLOCKBUSTA), Teresa Winter (Proserpine), Snow Strippers (Night Killaz Vol. 1 EP), Fetty Wap (King Zoo), Kamaiyah (Another Summer Night), jungle bobby (wibe world) e Palle Mikkelborg, Jakob Bro & Marilyn Mazur (Strands: Live at the Danish Radio Concert Hall).
[Slow J] Afro Fado
O título não podia ser mais explicativo. Afro Fado é um hino à mistura, um lembrete de que não importa a cor com que se nasce ou a ancestralidade de cada indivíduo, pois viemos todos ao mundo com o constante desejo de nos sentirmos respeitados — e para isso há que respeitar também. Mais do que nunca, Slow J abraça todos os traços do seu ADN a atira-se a um novo disco fundindo diferentes pedaços da música lusófona e recuperando na capa uma mítica — e bastante representativa desta sua mensagem — fotografia que exibe Eusébio da Silva Ferreira a cumprimentar Amália Rodrigues no meio de uma vasta multidão. Mais uma vez, e porque só assim faz sentido: juntos e misturados. Esse é o lema e Afro Fado a sua nova banda-sonora. Alicerçado sobre a magia musical dos irmãos GOIAS — que já estiveram em destaque no ReB este ano —, o sucessor de You Are Forgiven reúne ainda as contribuições vocais de Teresa Salgueiro e de Gson.
[O.] SLICE
Se a corrente que passa nas tomadas que alimentam os nossos aparelhos electrónicos vivesse de ondas sonoras, o EP de estreia de O. seria uma óptima fonte de energia, capaz de aguentar dezenas de electrodomésticos a trabalhar em simultâneo sem nunca fazer o quadro disparar. Joe Henwood (saxofone) e Tash Keary (bateria) chegam à editora de culto Speedy Wunderground com a proposta de um jazz fervoroso que pisca o olho quer ao lado mais fumarento do rock, quer ao swing típico das batidas de música electrónica de dança, como facilmente atestamos pelas 4 malhas encapsuladas nesta primeira SLICE do seu output discográfico enquanto dupla.
[Pedro Marques] Rabo de Peixe (Música da série Netflix)
Não é só do acting que vivem as séries televisivas. Cada vez mais, numa sociedade que se conecta através da música e a consome de forma desenfreada, importa bastante a escolha da banda-sonora que serve de pano de fundo às tramas, seja ela original ou não. No caso de Rabo de Peixe, há uma mistura dessas duas vertentes que foi até analisada ao detalhe entre as páginas do Rimas e Batidas, quando Ricardo Farinha conduziu uma entrevista a António Porém Pires, supervisor musical desta criação nacional para a Netflix. Os temas criados propositadamente para a série ficaram à responsabilidade de Pedro Marques e têm agora vida própria através de uma edição discográfica.
[Vários Artistas] Light in the Attic & Friends
Juntar a Light in the Attic e os seus amigos numa compilação será sempre boa ideia. A editora independente de Seattle ultrapassou em 2022 a marca dos 20 anos de vida e viu nisso uma boa razão para convocar as suas tropas e demais afiliados num projecto conjunto que totaliza precisamente 20 malhas — umas já tinham eram conhecidas, outras são completamente inéditas. Da soul plena de emoção de Charles Bradley ao r&b de contornos jazzísticos dos BADBADNOTGOOD com Jonah Yano, passando pela estética indie de Mac DeMarco e pela folk sentimental de Angel Olsen, há todo um mar de texturas sonoras pronto a ser explorado neste Light in the Attic & Friends.
[TOTA] TOTA
“TOTA é uma elucubração, uma personagem que é toda a gente dentro de si própria —e às vezes fora de si. Um orador idiota.” É desta forma que Jónatas Tota Pereira se apresenta no comunicado que deu conta ao ReB da chegada do seu primeiro disco em nome próprio, cereja no topo de um bolo que, entre as suas camadas, lhe proporcionou ser uma espécie de braço direito de EU.CLIDES durante o seu processo de composição. Editado pela MAR Records, TOTA mostra-nos o talento em estado bruto de um cantautor com sólidos argumentos para se fazer cimentar na música portuguesa, não apenas pelo redobrado cuidado no empregar das palavras, mas também pela escolha menos óbvia das “camas” instrumentais nas quais a sua voz se deita.
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