Ao passo que a noite começa a ter mais pressa de chegar, também a música começa a arrefecer. O vento já se sente na órbita fria dos Blacksea Não Maya, na reflexão pesarosa de Tricky e na meditação urbana de SLAUGHTER. Mas, para quem ainda dorme abraçado ao Verão, há o caleidoscópio de Big Sean, o caramelo reggaeton de Ozuna e o cloud rap sem compromissos de Danger Incorporated.
E não se esqueçam de aproveitar este dia para apoiar a associação SOS Racismo através da compilação solidária Labanta Braço, disponível no Bandcamp.
[Big Sean] Detroit 2
O que parece ter sido a maior pausa na carreira de Big Sean foi, na verdade, o seu período útil mais focado. Detroit 2 é a sequela de uma mixtape que, em 2012, abalou os servidores da plataforma DatPiff – três anos antes do êxito transversal do álbum Dark Sky Paradise. Uma hora e 11 minutos carregados com participações que vão desde Dwele (da mítica “Flashing Lights”) a Travis Scott (do McDonald’s, claro).
[Tricky] Fall to Pieces
O que está no yunomi (um copo japonês de chá) que alguém segura na capa do novo disco de Tricky? Suaves estilhaços de música em que o som não é rigorosamente Bristol, nem a voz é da suspeita usual Martina Topley-Bird – é a polaca Marta Złakowska quem domina Fall to Pieces, ao lado da dinamarquesa Oh Land. 28 minutos enlutados, mas fluidos, com um momento (“Fall Please”) em que Tricky diz apresentar a sua versão de música pop.
[Blacksea Não Maya] Máquina de Vénus
A ligação necessária entre o Bairro da Jamaica e Manchester rende mais um EP aos Blacksea Não Maya, pela chancela Príncipe. Os irmãos DJ Noronha e DJ Kolt voltam a juntar-se a DJ Perigoso em Máquina de Vénus, um conjunto de frequências muito menos amorosas do que o título pode sugerir.
[Danger Incorporated] Hackers of the World Unite
Cloud rap proveniente de Atlanta, com o selo de aprovação da Awful Records (responsável por Abra), e o cartão-de-visita de “Diamonds”. Os Danger Incorporated chegam agora ao seu segundo longa-duração, Hackers of the World Unite, que descrevem como um “best of” de tudo aquilo em que trabalharam de 2018 a 2020.
[SLAUGHTER] Grand Pacific
Facilmente o nome mais underground da lista, SLAUGHTER é um produtor de hip hop australiano e pouco mais sabemos dele. Também não é necessário: basta o seu boom bap vitaminado, carregado de estática e lamento, sobre o qual surge alguma realeza do Bandcamp: o nova-iorquino SmooVth, The God Fahim directamente de Atlanta, ou Koncept Jackson vindo da Virgínia.
[Ozuna] ENOC
A popularidade de um artista pode ser medida pelos colegas que recruta para o seu álbum. No caso de Ozuna, o dito novo rei do reggaeton, o elenco do seu quarto álbum ENOC fala por si: Daddy Yankee, Sia, J Balvin e Nicky Jam. No ano passado, juntou-se a Rosalía para “Yo x Ti, Tu x Mi”; recentemente, tem estado em altas com os Black Eyed Peas no single “Mamacita”. O mesmo sucesso a solo espera-se daquele que, em 2018, era para a revista Time um dos 100 mais influentes do mundo.