[TEXTO] Núria R. Pinto [FOTOS] Bárbara Monteiro
14 mil pessoas, uma aposta perdida para Slow J (que sempre acreditou que a fasquia dos 13 mil se poderia ultrapassar, crença que lhe vai valer um bom jantar pago por Richie) e a afirmação da Bridgetown como uma das mais importantes labels nacionais na entrada de 2018. Outras conclusões que se retirem da subida de Richie Campbell ao palco da Altice Arena, na noite passada serão um mero lugar comum.
A expectativa para a apresentação de Lisboa era elevada e o público correspondeu em massa à chamada da Bridgetown: mais de um 1/3 da Arena ocupada para ouvir DJ Dadda a deixar cair hits da colecção outono/inverno, um por um, e o ponteiro ainda nem batia nas nove. Na plateia, as suspeitas levantadas em entrevista com Richie Campbell, poucos dias antes, confirmavam-se. Como manda a lei, nada se perde, tudo se transforma. O habitual público pré-adolescente estava lá. As famílias estavam lá. Os adolescentes estavam lá. Os adultos estavam lá. A indústria e os pares, estavam lá. E quem não estava, bem… quem não estava com certeza que queria ter estado.
Coube a Mishlawi abrir a festa e trazer meia casa para perto do palco, naquela que seria a primeira demonstração de um trabalho em família. Cá em baixo, as letras sabiam-se de cor e até mesmo os bytes da indústria — vamos ver como corre para Russ no mesmo palco — não eram desconhecidos do público. Ignore them, Mish. Pouco mais de 40 minutos de um verdadeiro trabalho de aquecimento, arrumam-se os pratos, recolhem-se os panos e abre-se espaço para receber o anfitrião.
Pela primeira vez, sinto, não há muito a dizer que não pareça óbvio: 14 mil pessoas na maior sala do país para receber um artista que vimos transformar tudo, menos as metas que traçou para si e para aqueles que o rodeiam. E não estamos a falar de massas — ou será que sim? –, mas de um artista de reggae, um artista de r&b, um músico e, não esqueçamos, um verdadeiro entertainer. Lisboa parece, se olharmos com olhos de “hoje”, só mais uma desculpa perfeita para a mais que aguardada reunião na Altice Arena. Se é grave e intimista em álbum, a verdade é que o disco se tornou festa e alegria em palco, sem perder a emoção, obviamente. Reflexo disso mesmo são aqueles que viriam a ser os três pontos altos da noite: um pavilhão inteiro pintado a luzes de telemóvel em “Pray” que faria chorar até as pedras da calçada, um encontro de irmãos em “Water” com a subida de Slow J a palco e a contagiante inevitabilidade de um hit como “Slowly” — Beatriz, uma das estrelas do vídeo, subiu a palco e deslumbrou a plateia com uma genuinidade própria de uma criança da sua idade. Para mais tarde recordar.
A noite que faltava, se é que faltava mesmo, para consagrar Richie Campbell como um dos mais importantes artistas nacionais aconteceu ontem. Passou rápido, não é? Como todas as coisas boas, de resto. Mas mais importante do que isso, o que aconteceu ontem na Altice Arena foi a celebração da força do trabalho independente da Bridgetown. E fez-se notar também dentro do palco: Plutónio actuou com um pé partido e foram Luís Francos Bastos e Pedro Teixeira da Mota que o trouxeram e levaram do palco, respectivamente. Family business.
A colheita dos frutos de todos aqueles que acreditaram que a indústria pode e deve viver das paixões individuais mas que não há reis sem corte, em qualquer que seja a esfera. E isso só os pode deixar, a eles, cheios de orgulho e a nós, cheios de certezas de que o melhor ainda está para vir.