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Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 05/07/2022

Quando carregarem no play, pensem em nós.

#ReBPlaylist: Junho 2022

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 05/07/2022

Ainda precisam de um hit de Verão em português? Talvez tenhamos aqui algo para vocês. No entanto, e se forem pelas escolhas da redacção do Rimas e Batidas, a praia ainda não é bem uma realidade. Coloquem a vossa melhor pose introspectiva e sentem-se a ouvir estas canções; o mar pode esperar.


[offworldcolonies] “Ascertained : / /”

Eu não costumo ser assim tão mau, mas a realidade é: além de seguir a editora offworldcolonies ltd. e desta me enviar um e-mail sobre esta tape, assinada por um artista homónimo (vamos presumir que é o patrão do selo), pouco ou nada de informativo tenho a dizer sobre esta cassete Annihilation — e nem o santo Discogs me salva. Salva, no entanto, o contraste entre o abrasivo de sons saturados, baixos abusados e da poeira noise em que se envolve “Ascertained”, e os tons frios de breu que pautam todo o lançamento. É o contraste entre o techno e o industrial que usa as batidas como expressão mecânica de mais uma textura, anulando o acontecimento “dança” da equação. Esta faixa em particular explora as tensões entre estéticas de forma mais esparsa, explorando as paisagens noise em detalhe por mais de metade da duração da faixa e expressando a possibilidade de uma melodia antes de trazer batidas intensas, mas hesitantes para definir o resto do caminho.

– André Forte


[Jack Harlow] “Churchill Downs” feat. Drake

Não há muito que se aproveite de Come Home The Kids Miss You. Ainda assim, lá caímos novamente na cantiga de Jack Harlow, convencidos de que desta vez é que era. De certa forma, a persona cocky e flirty do rapper de Kentucky sempre se reflectiu na sua música: nos primeiros encontros, em singles, encanta-nos e promete-nos vir a ser algo que, num compromisso mais sério, como um álbum, não corresponde, acabando por desiludir. Há mais alguém por aqui a sentir-se uma adolescente aldrabada e de coração partido num teen movie?

No filme de “Churchill Downs” (uma das poucas coisas que se aproveitam de Come Home The Kids Miss You — para lá dos singles enganadores), os planos em câmara lenta são sugestivos: há qualquer coisa aqui que não está bem, como numa cena de um thriller em que o espectador sabe antes da personagem principal o que lhe vai acontecer. É então que Drake entra no Kentucky Derby e mata Jack, o seu aspirante. Sem grande esforço, diga-se de passagem. 

Estranho este enredo em que o autor quer ser o protagonista, chama à cena um verdadeiro mestre destas cerimónias (que dedica mais falas do que é habitual nos últimos tempos), passa com indiferença na altura das suas deixas e fica num constrangedor segundo plano enquanto o verdadeiro artista mostra como se faz aquilo a que o primeiro se propôs, desde o início, a fazer. Entre rimas, batidas e planos nunca chega a haver um clímax, mas é o vilão do costume quem conquista o público. E o suposto herói vê-se perdido numa demanda para a qual não estava, na verdade, preparado. No fim da corrida, o passo revelou-se maior que a perna e o enganado foi o próprio. Vá lá que apareceu alguém para salvar a aposta.

– Paulo Pena


[João Couto] “Pensa em Mim” (feat. Perpétua)

Em 2021, João Couto lançou Boa Sorte, um dos discos pop mais bem-conseguidos no universo da música portuguesa. Também em 2021, os Perpétua, banda de indie pop aveirense formada por Beatriz Capote (voz e teclados), Diogo Rocha (guitarra), Rúben Teixeira (bateria e vozes) e Xavier Sousa (baixo e vozes), colocaram cá fora Esperar Pra Ver, uma das estreias mais sólidas desse mesmo ano. O que acontece, então, quando estes dois universos colidem? “Pensa em Mim”.

“Pensa em Mim” é a faixa que não podem perder este verão. É um hit à espera de explodir, uma faixa da pop mais deliciosa que podemos ouvir por esse mundo fora. As melodias? Como mel a deslizar pelo ouvido. O refrão? Infalível e orelhudo para degustar até ao infinito e mais além. É new wave, é dream pop, é disco. É pop portuguesa que pensa a olhar para a pop contemporânea. É música para dançar no fim do dia e fazer introspecções por entre as ondas de calor. A sério: como é que isto não é O hit deste verão em Portugal? Não respondam: ouçam só, por favor.

– Miguel Rocha


[Gorillaz] “Cracker Island” (feat. Thundercat)

O novo single dos Gorillaz tem tanto de convidativo como de desconcertante: por um lado, a cadência instrumental garante que não se ouvem os sintetizadores cortantes sem bater o pé em resposta. Por outro, a letra profética proferida por Damon Albarn garante que o pessimismo da música é tão intoxicante como a sua sonoridade dançável. Pelo meio, o cabecilha por trás da banda animada mais famosa do mundo conta com o apoio de Thundercat, que qual acólito do apocalipse vai apoiando as palavras de Albarn com tons frios e pesarosos pincelados por um falsete fatalista, aliado a apontamos exímios de baixo, instrumento sinónimo do artista da Brainfeeder. É um tema fugaz, para dançar ao som do alarme de fim do mundo.

– Miguel Santos


[Saya Gray] “SAVING GRACE”

Não perdeu muito tempo com conceitos e 19 MASTERS foi o título mais simples que conseguiu arranjar para o seu álbum de estreia, que saiu no início de Junho. Por cá, elogiámo-la um mês antes da saída do disco, quando a descobrimos a promover a sua arte na montra do A COLORS SHOW e nos deixou completamente rendidos ao doloroso “PAP TEST” a que se submeteu para pisar o palco de uma das rubricas musicais mais adoradas na esfera do YouTube.

Saya Gray é uma alma velha num corpo jovem com uma aptidão super precisa para executar manobras musicais dentro dos meandros da pop sem recorrer a fórmulas gastas. A artista canadiana canta, compõe, toca e produz nas faixas que integram o seu LP de apresentação e mostra-se ao mundo com o mesmo nível de detalhe que temos visto em alguns outros nomes da sua geração, com a sua música a situar-se algures entre o jogo de texturas de Ouri ou o formato de dança mais concreto de Oliver Malcolm.

19 MASTERS é consideravelmente longo e bastante denso ao nível da informação musical nele cravada, o que poderá parecer menos apelativo aos que estão à procura de um formato de canção mais tradicional. “SAVING GRACE” é das mais bem conseguidas desse alinhamento, remete-nos facilmente para o mesmo tipo de “pesadelos” que assombraram Billie Eilish em WHEN WE ALL FALL ASLEEP, WHERE DO WE GO? e para o clima tântrico da terapia de aromas de “Jasmine (Demo)” com que Jai Paul se notabilizou.

– Gonçalo Oliveira


[Yaya Bey] “rolling stoner”

Em 2020, “paterson plank (unmixed)” apanhou-nos desprevenidos: que voz era esta que aparecia assim, sem filtros e sem mistura, a fazer-nos repensar as paixões e os seus lados menos luminosos? A escrita em tom de conversa e a entrega desarmante pertenciam a Yaya Bey, artista de Brooklyn, Nova Iorque, que se estreou em Junho passado pela Big Dada, subsidiária da Ninja Tune, com Remember Your North Star. Foi nesse disco que encontrámos “rolling stoner”, um de vários momentos maravilhosos (como são, por exemplo, “street fighter blues” ou “keisha”) em que, sem aparente dificuldade, se embrulha em ambientes sónicos de baixa fidelidade e desabafos com a máxima honestidade que podem meter naquela playlist onde também colocaram “The Weekend” de SZA ou “See You Again” de Tyler, The Creator.

– Alexandre Ribeiro

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