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Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 03/08/2022

Quentinho.

#ReBPlaylist: Julho 2022

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 03/08/2022

Não é muito comum existirem nomes repetidos nas escolhas mensais da equipa ReB e, por essa mesma razão, existe uma certa necessidade de se destacar isso: Joey Bada$$, à boleia do seu mais recente álbum, 2000, dá dupla entrada na playlist de Julho, sinal de que a força da sua música ainda estará longe de desvanecer. PVA, Danger Mouse & Black Thought, DOMi & JD BECK, Steve Lacy, FLO e Surprise Chef completam este ecléctico elenco.


[PVA] “Hero Man”

Há um (bom) argumento a fazer para cada novo lançamento da Ninja Tune: há sempre algo de interessante a oferecer. No caso dos PVA, trio londrino formado por Josh Baxter, Ella Harris e Louis Satchell, fornecem um take muito próprio de sonoridades como a synthpop e dance-punk, onde a rave é o cenário ideal para a sua música. 

Com “Hero Man”, o seu mais recente single e segundo avanço de BLUSH, o seu disco de estreia a ser lançado em outubro deste ano, os PVA afirmam-se (ou melhor, confirmam para melómanos mais atentos) como uma das prospetivas musicais mais interessantes a florescer em terras de Sua Majestade. “Hero Man” soa hipnotizante, pronta a destruir PAs por salas mundo fora, encantadora de AUXs para todo o DJ que se aventurar a passar esta fritaria desvairada. Nota: queremos que sejam muitos.

– Miguel Rocha


[Danger Mouse & Black Thought] Aquamarine feat. Michael Kiwanuka 

O que é prometido é devido e Danger Mouse & Black Thought lançam este ano um álbum que estava na calha desde 2005. Para Danger Mouse, é um regresso ao hip hop – desde The Mouse and the Mask com MF DOOM que o produtor não se aventurava por este género. Já para Black Thought, é mais uma oportunidade para mostrar o seu enorme talento para as rimas, como “Aquamarine” tão bem demonstra.

O rapper nascido Tarik Trotter deixa tudo no estúdio com este novo single. A sua entrega sempre se mostrou assertiva, mas há qualquer coisa de mais intenso neste tema, fruto da sintonia das suas palavras com o engenhoso instrumental de Danger Mouse. A batida é expectante, semelhante ao último olhar de um guerreiro exímio em direcção ao seu inimigo antes de cavalgar para a batalha. Essa energia é igualada por Trotter, que fala do seu percurso com eloquência, bons flows e palavras que tão depressa não sairão da cabeça.

“I take day as a blessing and see the night as a lesson”, diz-nos na estrofe que fecha o tema, palavras pelas quais todos deveríamos viver. “Aquamarine” prova que vale sempre a pena esperar para que os astros musicais se alinhem. A pressa é inimiga da perfeição e esta música prova que Black Thought e Danger Mouse estão cada vez mais próximos dela.

– Miguel Santos


[Joey Bada$$] “Survivors Guilt”

Numa sentida homenagem aos seus falecidos “irmãos” Capital Steez e Junior B, Joey Bada$$ abre o seu coração num dos temas mais íntimos e pessoais da sua carreira. A fechar o seu novo longa-duração 2000, o rapper de Brooklyn enceta “Survivors Guilt” com um excerto de uma entrevista de Steez em 2012 sob um leve dedilhar de piano algo melancólico e nostálgico que antecedem a primeira rima de Joey, e aí quaisquer dúvidas ficam dissipadas: o MC da Pro Era cospe duas das sixteens mais profundas, pessoais e saudosistas da sua carreira – muitos são os momentos em que relembra episódios passados com estes dois companheiros de carreira e, sobretudo, vida. A acompanhar, uma produção rica em musicalidade de Rahki, 0445c e Fred Warmsley que assenta na perfeição com o teor mais sentimental desta nova faixa, a décima terceira de catorze no disco 2000 de Joey. A encerrar, novo excerto (de uma conversa talvez) do rapper Ab-Soul a contar quando e como conheceu o grupo Pro Era, formado em parte pelos supramencionados Joey Bada$$ e o falecido Capital Steez. As personal as it gets.

– Carlos Almeida


[DOMi & JD BECK] “U DON’T HAVE TO ROB ME”

Não querem ser roubados, mas tomam-nos como reféns. DOMi & JD BECK têm o dote de conseguir comunicar a língua do jazz em contextos pop e estão, por isso, a trazer um público mais jovem para revitalizar o género. Quem quis estar associado a esta “marca” foi Anderson .Paak, que agarrou na dupla mal deu arranque à sua própria casa editorial, a APESHIT Inc., que se juntou à Blue Note para o lançamento conjunto de NOT TiGHT. O primeiro álbum capta, acima de tudo, a inocência de DOMi & JD BECK a desconstruir e a brincar com as várias formas sob as quais o jazz se manifesta, sem qualquer preocupação com os resultados, que tanto podem sair mais virados para o formato de canção, como podem assumir uma faceta mais disforme e difícil de catalogar, como este storytelling cartoonesco que é “U DON’T HAVE TO ROB ME”.

– Gonçalo Oliveira


[Steve Lacy] “Sunshine” ft. Fousheé

“Sayin’ ‘my ex’ like my name Ain’t Steeeee-ve”… E cá está ele de volta. Óculos-viseira na cara, como quem se prepara para novos testes de risco, e guitarra na mão, a ferramenta da eleição para a sua obra. Sobe, içado por cabos de uma grua, em direcção ao céu, ao encontro da celestial Fousheé — que nos roubou definitivamente o coração em “Take Me Home” no antecessor de RAMONA PARK BROKE MY HEART,de Vince Staples —, de voz angelical a desarmar-nos em “Sunshine” com sucessivos “I still, I still love youuuuu”. E ele voltou a fazê-lo: sempre que estamos prestes a esquecer, por momentos,  o nome de Steve Lacy, o multi-instrumentista de inventivos e simplistas métodos de gravação relembra-nos por que razão nos conquistou a todos desde os resultados da sua DemoGemini Rights é o lembrete que nos faltava para os próximos tempos. We still, we still love youuuuu, Steeeee-ve.

– Paulo Pena


[Joey Bada$$] “Brand New 911” ft. Westside Gunn

Ao circular por 2000, este novo álbum sem skips de Joey Bada$$, é possível vermos grandes nomes de colaborações, mas, desta vez, decidimos fazer uma paragem brusca com o Porsche e estacioná-lo na quarta faixa desta obra para deixar entrar um dos passageiros mais distintos da mesma: Westside Gunn. Não é o primeiro passeio desta dupla que se juntou previamente — embora que com mais intervenientes — em “327”, faixa presente no aclamado álbum Pray for Paris, de Gunn, em 2020. Agora, em 2022, chegou a vez de Bada$$ retribuir o convite para a viagem, passando o aux cord ao produtor Chuck Strangers e esperando que se lembrem todos de apertar bem os cintos.

Depois dos versos introspectivos de Bada$$, de forma a enaltecer algumas das suas conquistas, o rapper de Buffalo chega de forma estrondosa, como os seus próprios ad libs pedem — boom boom boom boom boom – sem dar oportunidade a ninguém para se esconder deste driveby; com astutas barras a que já estamos habituados e o seu tom distinto, vem pronto para dar continuidade à linha de pensamento de quem o antecedeu, sobre um instrumental que faz lembrar tempos antigos passados pelas ruas de Nova Iorque, com acentos imponentes de saxofone na batida.

Embora esta música seja apresentada num estilo clássico de ostentação, é admirável a forma como Joey Bada$$ introduz o verso: “We expose the secrecy, screamin’/Rest in peace to Steez (Rest in Peace)”, antecedendo a homenagem completa a Capital Steez, presente mais à frente no álbum na música “Survivors Guilt”, enaltecendo assim, novamente, o cariz pessoal e íntimo a que nos acostumou com as suas canções, sem nunca deixar de perder a sintonia com esta colaboração de peso.

O sentimento algo nostálgico que emana deste beat, unido às lufadas de modernidade vindas dos versos e vozes de quem as canta, contribuem para um balanço perfeito numa música que, não ironicamente, seria a escolha perfeita para um passeio de carro num dia ensolarado. 

E falando ainda em percursos que interessam, o verso de Bada$$: “I copped the 911, now I’m thinkin’ bout’ the Bentley”, presente nesta mesma faixa, pode servir como um bom ponto de reflexão relativa a qual será o destino deste rapper, cuja obra pode ser considerada como uma das mais consistentes no que toca a novos nomes na esfera do hip hop; é de se tomar atenção à estrada.

– Beatriz Freitas


[FLO] “Summertime”

Na passada sexta-feira, Beyoncé voltou com RENAISSANCE, mostrando-se cada vez mais distante dos tempos em que era parte das Destiny’s Child (pode parecer estranho falar do grupo a propósito disso, mas aguentem-se aí). No entanto, e na caminhada para o seu novo álbum, o trabalho de casa por aqui foi simples: ouvir toda a discografia a solo e perceber que trabalho seu, em Julho de 2022, agradava mais. Dangerously In Love (2003), o seu primeiro longa-duração, saiu por cima — a nostalgia do r&b dessa época bateu com força. Não é de estranhar que The Lead, o EP de estreia das FLO, trio londrino, tenha encaixado tão bem: a música de Renée Downer, Jorja Douglas e Stella Quaresma é feita de maneira cirúrgica para os nostálgicos por esse som em particular. Dos cinco temas no alinhamento do projecto, há três que são, indubitavelmente, tiros em cheio: falamos de “Cardboard Box”, “Immature” e “Summertime”, este último (com todos os elementos sonoros — incluindo as vozes — no sítio certo) a chegar na altura indicada para servir de pano de fundo para dias leves, quentes e despreocupados. “Me and my girls are going in this summer” não é só uma parte do refrão, é um mood para um dia normal das FLO neste Verão.

– Alexandre Ribeiro


[Surprise Chef] “Money Music”

De Melbourne para o mundo, da sua própria College of Knowledge Records para a Mr. Bongo, primeiro, e daí até à americana Big Crown Records: um percurso digno de nota. O terceiro álbum dos Surprise Chef está próximo e cada novo sinal é digno de atento escrutínio. Já escutámos em Maio passado um single que abre o apetite – “Velodrome”/”Spring’s Theme” – e mesmo ao cair do pano do mês de Julho mais uma pista: “Money Music”. Não sei se esta música instrumental, carregada de nervo mas pouco alinhada com o lado mais comercial do zeitgeist, se poderá efectivamente classificar como “música de guito”, mas é, sem dúvida, música pela qual não me importarei de pagar. Em vinil, de preferência. O grupo de Lachlan Stuckey, Jethro Curtin, Carl Lindeberg, Andrew Congues e Hudson Whitlock é mais tight do que um parafuso numa porca de tamanho abaixo, isso é certo. Baixo hipnótico, bateria-abana-cabeças, percussão discreta, mas certeira, vibrafone e piano de classe absoluta e ainda a guitarra a coçar no sítio certo. Ferramentas de pura elegância usadas aqui para expressarem em notas ritmadas o que é afinal essa coisa a que gostamos de chamar groove. Um dia destes, Jay-Z faz aos Surprise Chef o mesmo que fez à Menahan Street Band e isso vai ser bonito. Matéria é coisa que não falta aqui…

– Rui Miguel Abreu

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