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Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 02/08/2019

David Bruno, Angel Olsen, Cuco, Blood Orange, Daniel Caesar, Peyton e Chance The Rapper nas escolhas de Julho.

#ReBPlaylist: Julho 2019

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 02/08/2019

Muitos corações partidos (alguns em recuperação; outros já curados) na edição de Julho da playlist da equipa ReB. De David Bruno na companhia de Mike El Nite a Daniel Caesar com Brandy, passando por Blood Orange ou Peyton, a selecção gira à volta de refrões que podem salvar paixões e servir de banda sonora para desamores. Façam favor de ouvir todas estas sugestões e decidir qual é a que vos assenta melhor..


[David Bruno] “Interveniente Acidental” feat. Mike El Nite

David Bruno e Mike El Nite entram em negócio em “Interveniente Acidental” e corre bem. Muito bem. Voando por cima de um lustroso oceano de melosos sintetizadores, o rapper lisboeta e o homem por detrás de O Último Tango em Mafamude e Conjunto Corona encontram-se num místico mundo de lixo e de luxo, que pincela os lugares-comuns do português com toques de Miami Vice. Para ouvir bem alto no carro, de braço de fora da janela, em direcção a Miramar Confidencial, disco de David Bruno que chega em Setembro.

– Beatriz Negreiros


[Angel Olsen] “Mirrors”

A música de Angel Olsen funciona em pedaços crescentes: cada um dos seus álbuns tem sido uma evolução abrangente de som, conceito e textura, mostrando partes mais difusas da sua personalidade. Do folk queixoso de Burn Your Fire for No Witness para o rock vintage de My Woman, “All Mirrors” mostra-se como uma renovação consistente feita em força e vigor, deslocada ao mesmo tempo de qualquer obrigação ou pressão de exteriores. Este é a entrada para um novo mundo da cantora, composto por sintetizadores arrepiantes, combinações de cordas e uma bateria aérea. Por debaixo de todas estas camadas, há um formato lírico subjugado pelo medo e pela incerteza, como se fôssemos confrontados com o lado mais tenebroso do nós próprios — um apelo por composições cujas letras são, na sua raiz, enigmáticas e esculpidas a partir de uma história maior. O título advém de uma necessidade de conhecer a natureza humana na sua plenitude, a parte feia, a parte bonita, a parte desconhecida — ora, Olsen canta cara a cara com o mistério e tenta não sair quebrada: “At least at times it knew me”, para mal dos nosso pecados.

– Miguel Alexandre 


[Cuco] “Bossa no Sé” feat. Jean Carter

Da intimidade do quarto para um acordo milionário com a editora Interscope, Cuco é a nova coqueluche da editora que tem no seu catálogo de luxo nomes tão diversos como a veterana Madonna ou o fenómeno Billie Eilish. Por aqui. o jovem Cuco, Omar Banos no BI, chegou por sugestão algorítmica com o seu disco estreia, Para Mi, a destacar-se nos lançamentos do passado Julho e rapidamente percebi que o que para mim estava a ser uma agradável descoberta era, afinal, já motivo de muita tinta corrida em grandes publicações com a The New Yorker ou a Rolling Stone. As suas músicas de lo-fi de adolescente romântico-introvertido-depressivo, com letras “spanglish” que cruzam a fronteira entre a Califórnia (onde reside) e o México (onde tem as suas raízes) têm uma brisa suave de synth pop e são prova de que não existe melhor estação do ano do que a silly season para consertar corações partidos — se alguém duvida desta afirmação basta carregar no play desta trap-icalia “Bossa No Sé”, onde a melancolia da bossa nova ganhou toda uma nova cor. Para Mi é, no entanto, um disco assimétrico onde a maioria das faixas vivem na sombra dos highlights, “Bossa No Sé” e “Keeping Tabs”, motivos que me parecem ser mais do que suficientes para manter Cuco debaixo do radar.

– Vera Brito


[Blood Orange] “Benzo”

Uma vez. Há certas músicas que basta ouvimos uma vez para nunca mais as esquecermos. Ainda que (felizmente) não sejam as mesmas músicas para todas as pessoas, todos reconhecemos esse sentimento. É o arrepio, o sorriso involuntário, o “espera aí, deixa-me ‘abrir’ os ouvidos que isto vale a pena” depois de ouvirmos os primeiros segundos. Nesse momento, paramos de trabalhar naquela spreadsheet sugadora de vida e damos toda a nossa atenção a este tema que está a ser memorizado em tempo real no nosso inconsciente para nunca mais ser apagado da nossa consciência. “Benzo” de Blood Orange é uma dessas músicas.

Este tema é um dos destaques do novo trabalho do artista Dev Hynes, Angel’s Pulse, lançado pouco tempo depois do biográfico e bem orquestrado álbum Negro Swan. E além de ser um dos pontos fortes desta mixtape — em que géneros como o r&b, a pop e a música electrónica convergem — “Benzo” é uma música que consegue dizer muito em pouco tempo. Começamos por ouvir um diálogo inaudível no fundo da mistura do som, e teclas a tocar notas tristonhas de timbre inocente. Pouco depois, surge um violoncelo com notas “choradas” a deslizar no braço do instrumento. A batida que ouvimos é árida e pouco preenchida, um bombo ensurdecedor e pratos discretos. Mas o espaço vazio deixado pelo acompanhamento minimalista é preenchido pela voz aguda e doce de Hynes.

Ao som de esporádicas e soberbas linhas de sopros melancólicos, Hynes canta sobre um sentimento escondido, e palavras nostálgicas sobre medos que cresceram com ele. Mas no refrão apoteótico entrega-se ao mundo e surge a epifania. “Outside, I saw where I belong”, é quando sai para a rua que a música se revela verdadeiramente ao mundo. A harmonia vocal é soberba, ouvimos três linhas vocais distintas que confluem para dar força à mensagem que cantam. E apesar deste clímax durar apenas 12 compassos de batida dançável, a música deixa de ser a mesma a partir do momento em que o ouvimos. “Benzo” é um tema esparso e curto, como uma confissão gritada no meio de uma cordilheira de beleza abismal. Mas foi por causa de pequenas avalanches como esta que foi inventada a função de repetir a mesma música. Para ouvirmos e ouvirmos e relembrarmos aquela fantástica primeira vez.

– Miguel Santos


[Daniel Caesar] “Love Again” feat. Brandy

Daniel Caesar já esteve no céu e agora está no limbo — se um limbo puder ser também deleite. Com o expansivo CASE STUDY 01 editado há semanas, o meteórico compositor de Oshawa, Canadá, move-se sem atrito entre o r&b neo-clássico que aperfeiçoou em Freudian e as novas bifurcações que nascem na sua arte como possibilidades de florescer. A capa é uma boa pista: a flexibilidade e indefinição de uma sombra projectada no céu como vista de um porto seguro — a abertura de “ENTROPY” fá-lo gravitar para a soul impura, cheia de detritos, para depois aterrar novamente nos caminhos já bem desbravados do r&b que deve mais à velha guarda (e que na verdade baseia sempre a sua escrita), como em “OPEN UP”. O primeiro significará crescimento; o segundo é o que o fez tornar-se uma espécie de novo peso-pesado, ou a marca Daniel Caesar — o que resume aquilo que os grandes nomes desejam ao requisitar os seus serviços. Foi o que aconteceu quando Nao o recrutou para ajudar a compor a faixa-título de Saturn, em que não contribui vocalmente, mas não inibe a sua propriedade sobre a música — a melodia e o polvilhar de lugares-comuns são inconfundivelmente (e demasiado) Caesar.

No caso de Brandy, a alma-metade em “LOVE AGAIN”, há maior permissividade: os elementos primordiais da marca — a técnica melíflua da voz a fluir de secção para secção; a compaixão sonante; os agudos — estão firmes no lugar, mas executados com prazer, livremente. É um feliz encontro este de uma voz caracteristicamente metamórfica e complexa do r&b — o que se concretiza logo na sua entrada arrepiante, pouco depois do primeiro refrão, com o seu empilhamento nascente — e uma promessa em fomento. Este que se anuncia como single de CASE STUDY 01 e introdução ao novo disco de Brandy selecciona um groove cálido e um baixo suave. Não reinventa a roda, apenas a gira para produzir nova energia — e não encerra Brandy (a mesma que nos brindou com alguns dos álbuns mais inovadores do seu campo de trabalho, especialmente Afrodisiac) numa via extenuante de sons cansados e lentos, como raramente tem sugerido. Caesar deverá continuar a aproveitar o groove e a oportunidade de trabalhar com divindades destas, mas olhando sempre para trás, não vá ele ser enclausurado pelas expectativas.

– Pedro João Santos


[Peyton] “to spare”

Se chegou com o selo da Stones Throw Records, o melhor é não meter de lado. Uma das mais ilustres editoras independentes dos Estados Unidos da América continua a aumentar a sua equipa e Peyton, jovem artista de Houston, é a mais recente contratação.

“to spare”, tema que antecipa o EP Reach Out, tem embalo r&b com drums que se mostram despudoramente e uma voz que se infiltra como se fosse uma memória em alta definição de um passado que nunca vivemos.

Apesar de só agora aparecer no radar deste que vos escreve, não estamos a falar de uma novata: já lançou discos em nome próprio e em grupo (forma dupla com Chase of Nazareth nos Pink Destiny) e até fez parte da banda sonora de Insecure.

– Alexandre Ribeiro


[Chance The Rapper] “Hot Shower”

“Hot Shower” começa simples: kick, snare e hi-hat a ostentarem a sua “genética” condição electrónica, com DaBaby e MadeinTYO ao lado de Chano num tema que é uma abordagem irónica ao trap. Para um rapper interessado na comunidade, na família, na dignidade das mulheres e na reverência ao velho OG que nos olha lá de cima (dizem…), esta canção só pode ser entendida como um gozo: pedem-se nudes por AirDrop, fala-se de Louis V e de brand new whips, de law suits e de smoking green, num festival de braggadoccio capaz de encher de urticária os mais moralistas e ortodoxos crentes na igreja Boom Bap (ámen…). Mas, e é um grande MAS, este tema é pura diversão, simples, capaz de atingir todos os músculos certos (e zero neurónios, por isso tudo ok… ninguém corre perigo) quando estamos no clube às duas da manhã com o terceiro vodka no bucho (quem nunca?…). Ponham lá o volume no máximo, se fizerem favor…

– Rui Miguel Abreu

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