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Texto: ReB Team
Fotografia: Beatriz Santos
Publicado a: 07/01/2019

NERVE, Pi, Earl Sweatshirt, Princess Nokia, DJ Bone, Pedro Mafama, Bad Bunny, xtinto e Mike El Nite nas escolhas de Dezembro.

#ReBPlaylist: Dezembro 2018

Texto: ReB Team
Fotografia: Beatriz Santos
Publicado a: 07/01/2019

“O que é nacional é bom” é o slogan perfeito para acompanhar a colheita de Dezembro. O Rimas e Batidas junta as canções de NERVE, xtinto, Pi, Pedro Mafama e Mike El Nite às faixas de Bad Bunny, Earl Sweatshirt, DJ Bone e Princess Nokia, criando um pequeno ecossistema com música para todos os gostos.


[NERVE] “Lápide”

Está tudo à mesa e o bacalhau no prato. O que falta aqui? Um novo tema de NERVE provavelmente não seria a resposta mais óbvia, mas (felizmente) é isso que temos. Na véspera de Natal, o rapper decidiu prendar o público com “Lápide”, tema totalmente feito pelo próprio. Tiago Gonçalves declamou, produziu, gravou, misturou e masterizou a canção, e a arte gráfica — como já é apanágio — também foi feita por si. Foi o abraçar do total controlo criativo e não podia ter corrido melhor.

“Lápide” é uma música que não destoa da atmosfera sonora de Auto-Sabotagem — o EP que lançou o ano passado — mas com uma progressão que a separa desse conjunto de canções. A nível de escrita, Tiago apresenta-se mais uma vez em forma, munido de uma multitude de rimas e combinações fonéticas capaz de destronar o mais aguçado dos artistas da palavra. Na primeira parte da música, distribui escárnio e sarcasmo em doses largas, proferidas ao piano com um copo de vinho por perto e ditas numa pausa de um cigarro quase consumido no cinzeiro: “Crítico, se estimar que morras é só ‘a minha opinião’”, ouvimo-lo cuspir com veemência sob uma batida esparsa e arrastada.

Depois de um interlúdio ambíguo a segunda parte é puro braggadocio com grande intensidade: “ ‘O NERVE não é assim tão incrível.’/Nunca ouvi tal merda”. Tem uma batida mais acelerada cuja tensão vai aumentando até culminar com o ressoar abafado de uma tarola seca, com um sempre presente tom agudo na percussão que se assemelha ao talhar de uma lápide, como se NERVE cravasse as suas palavras venenosas em pedra. Tiago decidiu acabar assim o ano, com um estrondo, mais um capítulo na história do “sacana nervoso”, o rapper que “nunca chegou a sair”.

– Miguel Santos


[Pi] “Jardim Ilógico”

Sem, ainda, faixa comparável, “Jardim Ilógico” destaca-se pelo flow de Pi. Fresco, assertivo e com boa dicção a sobressair, cadenciado, do beat. A temática consciente é tratada com palavras simples que, ainda assim, não caem no comum e demonstram uma agradável construção de metáforas. Do instrumental fica no ouvido o dedilhar da palheta entre as cordas do bandolim.

– Alexandra Oliveira Matos


[Earl Sweathshirt] “December 24”

É à quinta faixa de Some Rap Songs que Earl Sweatshirt demonstra ter as credenciais necessárias para abordar o gangsta rap. No meio do abismo, do caos e da depressão, o rapper encarna Allen Iverson enquanto gira pelas ruas a distribuir estupefacientes, comparando os movimentos de compra e venda com jogadas de basquetebol. Sujo o suficiente para agradar o mais puro dos OGs e nerdy quanto baste para que o seu cunho fique pregado à essência do tema, fazendo justiça à figura de culto que representa entre os militantes do underground.

Sem nada que lhe faça frente na primeira metade do único verso da faixa — Earl permanece calmo em frente à polícia, mesmo com a sua casa rodeada de Crips –, o caso muda de figura quando aborda a frágil situação em que se encontrava a avó, sedada por morfina, nos últimos dias de vida. O mundo cai perante os seus pés e a fragilidade vem ao de cima, terminando a música a apelidar-se de “maçã estragada” da família, talvez derivado de um ácido adulterado que selara na língua entre o constante ciclo de drogas com os quais alimenta o corpo. “They been callin’ me savage from the get go.”

– Gonçalo Oliveira


[Princess Nokia] “Versace Hottie”

Permitam que Princess Nokia se reapresente: Metallic Butterfly, a mixtape com que se mostrou ao mundo em 2014, mereceu uma reedição no passado Dezembro pela Rough Trade, o mês do ano afinal reservado a balanços e retrospectivas. A reedição trouxe um novo artwork menos ingénuo, os originais remasterizados e três “novas” faixas, que já circulavam pelo SoundCloud há algum tempo, mas que passaram desapercebidas, como esta pulsante “Versace Hottie”. Em Metallic Butterfly, Destiny Frasqueri apontava em muitas direcções distintas: trip hop, r&b, hip hop, roçando vários outros estilos, levando-a a afirmar “when the music industry wanted me to rap I chose to be different and show the world who I really was”, no entanto quatro anos depois ainda não percebemos bem em que mares Princess Nokia quer navegar, como se percebeu no emo rap sua última mixtape A Girl Cried Red. Talvez por isso este regresso a Metallic Butterfly seja uma forma da nova-iorquina voltar a colocar na mesa que o seu percurso continuará a ser tão errático como quando começou. Para já, “Versace Hottie” é contagiante, mesmo por entre as suas rimas e ideias algo desgovernadas, e tem o mérito de nos fazer desprezar o vazio e narcisismo da moda, enquanto ao mesmo tempo nos coloca a todos com vontade de desfilar numa passerelle.

– Vera Brito

https://www.youtube.com/watch?v=4rwRuDD9e8s


[DJ Bone] “With a Vengeance”

Tal como numa casa assombrada, várias vozes e sons ecoam em “With a Vengeance”. Este tema é o confronto de várias vidas passadas que DJ Bone carrega neste novo álbum; e esta faixa em particular resume-o bem: horripilante, frenética, mas ao mesmo tempo interessante o suficiente para captar a atenção de qualquer amante de música electrónica. Nas últimas décadas, o DJ cultivou um universo especial na sua música, baseando-se em contar as historias de quem se cruzou com ele, e aliando-na a um jogo equilibrado de psicadélica, hip pop e trance. Nesta utopia, “With a Vengeance” toca em pleno loop e ninguém se cansa disso.

– Miguel Alexandre


[Pedro Mafama] “Arder Contigo”

Da “Nova Lisboa” que Dino D’Santiago cantou em Mundu Nôbu, fazem parte muitos jovens portugueses que cresceram inspirados — muitas vezes sem se aperceberem — pelo verdadeiro caldeirão multicultural que os rodeava. Hoje, podemos ouvi-los nos beats de PEDRO, nas criações de Conan Osiris, na música despida de géneros de Slow J ou na essência de Pedro Mafama. Mafama foi uma das maiores revelações da música portuguesa em 2018 e encerrou um ano de sucesso com o single “Arder Contigo”.

Tal como todo o trabalho que o cantor e produtor lisboeta tem apresentado, “Arder Contigo” condensa uma série de géneros. Pedro Mafama agarra no fatalismo do fado e trá-lo para a modernidade. Incorpora o auto-tune e os sons graves do trap mas também a força da electrónica baseada em ritmos africanos. É um tema tão intenso na voz como no instrumental.

Como explicou ao Rimas e Batidas, Mafama inspirou-se nas gravuras dos autos de fé no Terreiro do Paço para criar esta faixa quente, urgente, e com uma vitalidade que só poderia brotar de Lisboa. Pedro Mafama representa na perfeição o romantismo que se vive hoje em torno desta cidade aberta a turistas e imigrantes, orgulhosa da sua multiculturalidade que é secular, que tem tanto de europeia como de africana. Ainda bem que assim o é. É deixar arder.

– Ricardo Farinha


[Bad Bunny] “Solo de Mi”

“Solo de Mi” é mais uma tremenda canção de Bad Bunny que finalmente nos deu um trabalho de maior fôlego com o álbum X100Pre, uma alucinante viagem entre o latin trap e o dembow, entre o reggaeton e a bachata, ou seja pela avenida que se está a afirmar como um dos mais relevantes filões da pop contemporânea, o “urbano”. Ainda assim, Bad Bunny quer vincar a diferença: o seu croon grave parece perfeito para afirmar uma certa masculinidade, mas no seu estilo visual extravagante há a manifestação de um claro desejo de desafio das normas e em temas como este “Solo de Mi”, servido por um simples, mas fortíssimo vídeo, há igualmente uma declarada mensagem de elevação, contra a violência sobre as mulheres. Aliar o lado mais delicodoce da pop a uma certa ideia de responsabilidade social e aproveitar a enorme plataforma que possui — foi o terceiro artista do mundo mais visto no YouTube em 2018!! — para transmitir mensagens positivas e construtivas são indicadores claros de uma diferença que merece aplauso. Sim, é pop. E sim, é bom.

– Rui Miguel Abreu


[xtinto] “Quentin Miller”

Um dos maiores bangers do ano passado saiu no dia 19 de Dezembro. Servidas em cima de um beat perfurante (e em esteróides) de rkeat e com a pós-produção, captação, mistura & master de benji price, as reviengas líricas de xtinto ganharam (em definitivo) uma nova amplitude que já tinha sido ensaiada em “Opus Magnum” e “Jurássico Barco”, faixas produzidas por outros dois associados da Think Music: Osémio Boémio e LVIN (que anteriormente assinava como Ventura).

De “4’33 à John Cage” a “Quentin Miller”, Francisco Santos, rapper oriundo de Ourém, acrescentou várias camadas (que neste caso traduzem-se em novos flows e novas métricas) à sua expressão artística e obrigou o hip hop nacional a virar os holofotes para si. 2019 tem tudo para ser o seu ano de afirmação.

– Alexandre Ribeiro


[Mike El Nite] “Caixa Negra” feat. J-K

Em Dezembro, Miguel Caixeiro presenteou-nos com o seu Inter-Missão, álbum acompanhado de uma banda-desenhada, no qual, ao longo de 30 minutos, o rapper orquestrou toda a narrativa por vários universos musicais diferentes. Em “Caixa Negra”, a equipa Monster Jinx é representada por J-K, que abre o palco para Mike brilhar consigo — as vozes dos dois rappers juntam-se muito bem–, e Maria, produtor que assina uma batida pujante e um instrumental electrizante. Dentro do registo mais melódico que compassa todo o disco e numa sonoridade predominantemente electrónica (tipicamente jinxiana), Mike El Nite não se fez rogado, ensaiando a sua mestria lírica (que nem sempre é devidamente valorizada) com recurso a metáforas.

– Vasco Completo

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