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Texto: ReB Team
Publicado a: 03/09/2021

Cantigas quentes.

#ReBPlaylist: Agosto 2021

Texto: ReB Team
Publicado a: 03/09/2021

Em Portugal, Agosto é sinónimo de férias e Verão, e é isso que procuramos na selecção mensal deste mês. E o que encontramos por aqui? Túneis que são pistas de dança, reflexões sobre corações que se partem, uma força pop improvável em ascensão, lágrimas salgadas e veraniças, javardices de veterano e pesadelos que são tudo menos uma brincadeira. A aprendizagem? Cada um interpreta o calor que recebe de maneira diferente.


[Moullinex] “360”

Numa altura em que o mundo parece querer voltar, dentro do que é possível, àquilo que era o seu “antigo” normal, Moullinex apresenta-nos um lado B em que se mantém o registo contemplativo, cerebral e cinzento presente em Requiem For Empathy

Contudo, estamos todos com saudades de calcar a pista, e até a sua electrónica, por muito dark que ainda o seja, sente isso. “360” é mais brilhante e luminosa que as faixas anteriormente conhecidas, há um sentido de liberdade mais presente, um maior rejúbilo e, sobretudo, mais cor nas melodias dos seus sintetizadores, por muito que estes, eficazmente, ainda nos empurrem para um longo e sombrio túnel sonoro.

Não podemos dizer que o party mode de Luís Clara Gomes regressou, mas é bom ver que há luz e esperança a crescer.

– Luís Carvalho


[Jenevieve] “Résumé”

Atribui-se ao coração as dores da mente, e os amores e desamores da vida doem no tronco e não no cérebro. Segundo Jenevieve, esses amores e desamores são linhas no nosso currículo pessoal intransmissível, como nos diz no seu mais recente single, “Résumé”. Fala sobre as suas dores de coração e, depois do r&b psicadélico de “Eternal” e da sedutora “Midnight Charm”, este tema aguça ainda mais o apetite para o álbum de estreia da artista norte-americana. 

O encanto com “Résumé” surge logo após a primeira audição. O beat é simples e açucarado, de percussão espevitada e apontamentos suaves de guitarra, e a voz da cantora funde-se com o pano de fundo de forma natural. O instrumental optimista esconde a tristeza dos versos de Jenevieve, que canta sobre estar no currículo de outro, mas é uma reflexão pessoal sobre o tipo de pessoa que era quando estava com ele, e como se sentia invisível, sem ser vista por quem a devia ver sempre. O refrão, brilhante como o sol a reflectir no mar, é a doce epifania de Jenevieve, a certeza de que ficará para sempre na memória da outra pessoa, tão certo como é o final da sua relação e as suas dores de coração. E se fossem todas assim tão melodiosas, quantos mais não quereriam dançar de lágrimas nos olhos?

– Miguel Santos


[Remi Wolf] “Quiet On Set”

De vez em quando lá aparece uma figura feminina irreverente a assaltar o circuito da pop, contra todas as expectativas. Remi Wolf está a tornar-se rapidamente num desses casos em que, longe de todos os rigorosos padrões ditados por um género especialmente controlado pela indústria musical, se abre um espaço imperativo; um comboio em marcha rápida que não pode nem deve ser travado.

“Quiet On Set” é um dos vários exemplos que ilustram este fenómeno protagonizado pela cantora californiana. É rock psicadélico e pop colorida; é loucura extravagante e sex appeal subtil; é caos conceptual e destreza artística; é ousadia flagrante e talento indiscutível, de “What’s better than two girls, two cups” a “Orgy at Five Guys with five guys/ That’s ten guys and holy christ/ I’ve never seen more nuts in my life”.

No fundo, é tudo o que não se espera mas se deseja de uma anti-estrela com um brilho intenso e incandescente, talhada para um sucesso massivo e, de certa forma, acidental. Pouco importa se não há espaço para esta personalidade na casa das bonecas. Remi é peça única e tem um lugar individual reservado lá no topo, uma força criativa imprevisível entre as tendências calculadas. Agora, silêncio no estúdio. Remi Wolf entrou em cena.

– Paulo Pena


[SZA] “21 Joni – RB ConA 08222”

O resultado final, que eventualmente estará num futuro disco, até poderá ser uma “música de trap da perspectiva de Joni Mitchell” — e está a pedir Frank Ocean por todos os lados –, mas a despida demo (leakada por si numa conta não-oficial de SoundCloud) é, facilmente, do melhor e mais cru que ouvimos de SZA, que puxa dos galões para mostrar que não deve ser desconsiderada quando é hora de falar nas melhores vozes de r&b que por aí andam.

Em cima de uma citação directa de “Angeles“, tema de Elliott Smith, Sólana (com areia nos pés e sal no corpo) oferece-nos a música para o fim deste Verão e, honestamente, para todos os que ainda estão para acontecer. “Perfect timing“, sem dúvida.

– Alexandre Ribeiro


[Bambino] “Javardo”

Fiel à tradição, Bambino mantém o mesmo nível de “javardice” e irreverência que marcou o início da cultura hip hop em Portugal, revolução para a qual contribuiu directamente no início dos anos 90. Mesmo sem duplos ou triplos sentidos, punchlines vistosas ou outros ilusionismos, o carisma e a entrega da lenda viva da RAIA Records deviam ser um caso de estudo, tal é a força com que o rapper “poliglótico” nos agarra à faixa.

Mas e o beat? Tem assinatura do próprio Bambs e é dele que surge o primeiro alerta de que aquilo que se vai passar a seguir é do mais imundo que encontramos no subsolo, de onde nunca quis sair. Com um filtro na ganza e outros três ou quarto a desfigurar por completo o sample original, torna-se claro que o Mad Nigga não veio para brincadeiras com o Rap de Gente Grande cravado debaixo da língua. Modas vão e voltam consoante os anos passam mas nunca será tarde de mais para um tão esperado e merecido álbum de estreia por parte de um dos pilares da cena rap tuga.

– Gonçalo Oliveira


[Kate NV] “d d don’t”

Kate NV tem muitos sonhos. Em Binasu, disco de 2016, eram digi-percussivos e lancinantes; a nano-pop de для FOR (2018) era táctil e microscópica. No ano passado, Room for the Moon levou essa premissa ao limite: um quadrante aluado de city pop frita, feita num oito, do adormecer mais pacífico à insónia mais fulminante. “d d don’t”, lançamento integrante da série Adult Swim Singles, não é tão essencial, mas segue a mesma vibração – uma brincadeira imaginada de sótão, golpes e buzinadelas de corda, um pesadelo tocado com um teclado Casio.

– Pedro João Santos

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