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Publicado a: 05/09/2018

#ReBPlaylist: Agosto 2018

Publicado a: 05/09/2018

[FOTO] Kenneth Cappello

Agosto teve novos álbuns de Mac Miller, Travis Scott, YG, Nicki Minaj ou Eminem, mas o menu mais caro ficou de fora das contas da equipa do Rimas e Batidas, deixando apenas um ar da sua graça com Trippie Redd, nome emergente que colocou o seu álbum no top 5 da Billboard 200 em semana de estreia, e 6LACK, artista que está a preparar o lançamento do seu próximo longa-duração.

Em português, Papillon, Holly Hood, Rashid, Kamau, Rincon Sapiência, GSon, Sir Scratch, Drik Barbosa valorizaram a língua num encontro raro e Djonga desfilou críticas sociais numa faixa que já gerou polémica no Brasil. Longe das maiores montras, Buttress, Phony Ppl e Pink Siifu apresentaram peças singulares que também merecem a vossa atenção.

 


[Trippie Redd] “Taking a Walk”

As mortes de XXXTentacion e Lil Peep deixaram mais do que um vazio criativo. Os dois rappers falavam directamente para uma nova geração de ouvintes de hip hop que encontrou na plasticidade do emo-rap a ressonância perfeita para as angústias e frustrações da adolescência. Este filão tem, claro, os seus sucessores e é na linha da frente que encontramos Trippie Redd e o seu terceiro álbum, Life’s a trip.

E esta é uma viagem que vale o bilhete. Trippie Redd não é propriamente um poeta, mas as suas letras são cruas e directas e a sua interpretação elástica — ora em gritos histriónicos que lembram um concerto punk, ora num tom mais reservado e próximo da pop.

Prova dessa versatilidade é “Taking a Walk”, faixa em que o rapper de Ohio fala sobre a sua própria morte (“Bet my coffin would be nice”) e ameaça inimigos sem nome (“Chicken noodle ass ni***, man, you boneless/Yeah, I keep my ratchet, boy, you pole-less”) ao som de um instrumental feliz e despreocupado.

É uma melancolia estética e “cool”, mas nem por isso menos genuína, que Trippie Redd, como poucos, consegue exprimir. O emo-rap está bem entregue.

– Hugo Jorge


[Buttress] “The Lightbringer”

Buttress entra num estado de transe profundo na batida de Jak Tripper, naquele que é um dos temas mais bem conseguidos na sua ainda curta carreira. Boom bap necrófago que visa exorcizar demónios que pairam na cabeça da MC de Nova Jérsia, num breve exercício de escrita em que se mostra disposta a desafiar mentalidades fechadas, apontando o caminho para a iluminação no meio das trevas. Que o trajecto traga também um sucessor para Behind Every Great Man, o único projecto editado por uma das rappers femininas mais entusiasmantes do circuito norte-americano.

– Gonçalo Oliveira


[Phony Ppl] “Before You Get A Boyfriend”

O querido mês de Agosto já passou. Para compensar, os Phony Ppl voltaram e fizeram-me reavivar aquele (específico) período de amores: o sol e os sonhos ganham outras cores, outros contornos. O Paredes de Coura serve de paisagem (idílica) em que as folhas das árvores brilham e, por entre elas, as faces das pessoas também. Perto está o rio Taboão. O som de fundo que vem do palco é r&b meloso de baixo gingão, com refrão em níveis T-Pain. “Será que estou a ouvir The Internet?”, estará um jovem melómano questionando-se em 2019. “Não, seu parvo”, direi eu, aproximando-me. “São os Phony Ppl. Sem eles, não existiriam The Internet”, acrescentarei eu num tom sabichão.
Onde estava eu? Sim. Os Phony Ppl voltaram e já não os ouvíamos desde 2015, quando editaram o álbum Yesterday’s Tomorrow. O conhecimento musical do grupo é vasto e o statement, neste retorno, recai sobre a personificação dos fantasmas de canções românticas emblemáticas, fazendo reverência à inteligência lirical de A Tribe Called Quest em “Bonita Applebum”. Rapaz conhece rapariga, rapaz apaixona-se, entra num loop complicado de pensamentos e surpreende-se com as intenções da rapariga (não farei spoiler). Uma sequência clássica, com classe. Nada de novo, mas gosto de voltar a lugares onde fui feliz.

– Rui Correia 


[6LACK] “Nonchalant”

“Nonchalant” pode ter um vídeo carregado de gelo, filmado em frente de glaciares islandeses, mas — e talvez até por isso — revelou-se perfeita para o Verão quente que acabámos de atravessar. A toada relaxada do beat e a entrega do homem que tem East Atlanta Love Letter programado para breve têm o efeito de uma brisa relaxante que permite apreciar ainda mais o calor. E as palavras são fundas: “I turned a nightmare right into a dream, yeah / I keep my sanity, ‘cause I ain’t on the scene, yeah”. R&b contemplativo, como se David Sylvian fosse uma referência mais forte do que R. Kelly, como se este fosse um tempo novo, como se este fosse um som novo, como se 6lack fosse a salvação. Para uma certa tarde quente na praia, quando o mundo parecia escaldar, foi mesmo. E às vezes isso basta. Venha de lá o resto da carta de amor…

– Rui Miguel Abreu


[Cypher e Djonga] “Língua dos Campeões” & “A Música da Mãe”

Não há fome que não dê em fartura e, do lado de lá do Atlântico, Agosto foi um bom exemplo disso. Este mês, a lista do que melhor nos chega do Brasil inclui não um mas dois trabalhos que valem a pena fazer vibrar os tímpanos. A viagem começa em Lisboa, mais precisamente na cypher que junta Rashid, Kamau, Drik Barbosa, Rincon Sapiência e DJ Nyack aos nossos Sir Scratch, Papillon, Holly Hood, Gson e Dj Big. “Língua dos Campeões” traz os peso-pesados intercontinentais naquele que se espera que seja um início oficial de conversações diplomáticas para dar voz às novas escolas lusas.

Já que falamos de escola, este também foi o mês em que Djonga nos deu uma aula sobre preconceito no polémico vídeo de “A Música da Mãe”. A Internet foi aos arames quando viu o mineiro entrar, literalmente, a pé juntos no YouTube para nos dar uma lição de discriminação racial e representatividade negra na era 2.0. Mas não só: alguns easter eggs menos óbvios, e igualmente preocupantes, escondem-se ao longo dos 5m30 do vídeo, assinado por Naio Rezende e Djonga.

– Núria R. Pinto


[Pink Siifu] “decisions ova jerk chicken”

Pink Siifu apareceu no radar como parte dos B. Cool-Aid, dupla em que dividia o protagonismo com o produtor Ahwlee. BRWN, o álbum de estreia, encaminhava-nos para NxWorries ou D’Angelo, mas ensley, a nova mixtape a solo de Siifu, envia-nos para outros lados e aterramos perto de King Krule ou Frank Ocean, por exemplo.

No meio de todo o cenário fumarento que é ensley, Slauson Malone chega com uma guitarra que transborda reggae por todo o lado, acompanhado por um vídeo lo-fi, o único que saiu deste projecto. “decisions ova jerk chicken”, uma das 25 faixas do alinhamento, é um curto passeio por ruas onde as paredes se enchem de poesia. Fiquem com um excerto:

“The moon hit my skin, got me shining
The queen I admire, she a lion
If I say I’m on the way she probably riding
Pieces of my heart she can tie in, inside”

– Alexandre Ribeiro

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