Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça. Por dentro e por fora.
[Buba & Cabril] “Oh Yes”
Guitarra ao peito, do avesso, como chuva em pleno mês de Agosto. É nesse absurdo que Buba e Cabril surfam a onda chuvosa do Verão com rimas satíricas e batidas enigmáticas. Dupla descomprometida na prática de um exercício que levam muito a sério, nos preliminares de uma peça com mais actos por desvelar directamente da Armário Records: contas para o próximo rosário dos nossos…
[L-ALI] “olhos nos olhos”
Diga lá, senhor ouvinte, olhos nos olhos, seja de quem a si se dirige nestas linhas ou nas que compõem a canção em evidência: porventura tem ideia de qual será o próximo passo de L-ALI? Poupamos-lhe o fôlego e adiantamos-lhe a resposta — não, não sabe; e bem pode dar-se por felizardo ao não sabê-lo. Até porque, se da pouca literacia financeira que em sede académica lhe passaram, fizeram certamente questão de plantar a ideia de que a imprevisibilidade traz consigo más notícias, nesta matéria, pelo contrário, a conta é certa. A garantia, se é que vale de alguma coisa, é assegurada por nós. Invista sem reservas neste activo de variações constantes. A vantagem? É que, mude o que mudar, o ouvinte sai sempre a ganhar! E olhe que já vai bem tarde… Mas, felizmente, sempre a tempo.
[$TAG ONE] “Capital”
Os mais recentes desenvolvimentos da Inteligência Artificial ainda nos fizeram bater o pé atrás, mas parece ser legítima a reprodução da inusitadamente incisiva caracterização do “portuense” feita por José Hermano Saraiva. As improváveis palavras do célebre historiador servem de mote a “Capital”, single de apresentação do próximo álbum de $TAG ONE, Gaiato, que a julgar pelo primeiro tema a ser revelado terá o rapper e produtor portuense (lá está) em doses redobradas de acidez à moda do Porto.
[Real GUNS] “Cobras” feat. Lev GUNS & PCC
Real GUNS está de volta e não vem só: o rapper que se tem destacado a passos largos de grande parte dos seus pares — no que ao rap cantado em crioulo diz respeito — regressa aos singles à boleia da produção inconfundível de MikelPotter, o seu mais fiel aliado nestas lides, contando ainda com os contributos dos seus parceiros Lev GUNS e PCC em mais um tema electrizante. Para o autor de DAVIDS, à semelhança da figura a quem o seu último álbum a solo presta homenagem, ficar parado parece não ser, mesmo, uma opção.
[KD One Seven & Nzamba] #SPG01
“Dá-se uma nova onda de grime com influências brasileiras, algo que reverberou em Portugal, onde Gabriel Nzamba e João Sanchez, dois emigrantes influenciados por essa fusão de sons decidiram criar SEKA PELI Grime Station, um projeto que visa promover e expandir a cultura do grime nos PALOP.” É desta forma que KD One Seven e Nzamba se (re)apresentam em nome da SEKA PELI Grime Station, num confronto directo “até secar a pele” — tradução à letra da expressão cabo-verdiana que dá nome a este novo segmento — de quem dá de caras com as barras destes dois rappers de ascendência comum, com o grime de influência canarinha em evidência durante um exaustivo quarto de hora.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)