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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça. Por dentro e por fora.
[xullaji] “Surto” & “Açaime”
Enquanto uns clamam “Basta” em gritos vazios de intenções e de honestidade intelectual, actores de uma auto-proclamada intervenção bacoca por via do rap, há quem, de facto, o faça com propriedade. Chullage sempre foi uma referência maior das questões sociais que o hip hop levanta, desde uma altura em que poucas ou nenhumas outras referências havia, e depois de um interregno nesta frente, voltou ainda mais inconformado e assertivo sob o alter-ego de xullaji. PREC (Poesia Revolucionária Em Curso) será o seu próximo trabalho autoral, com “Surto”, primeiro, e “Açaime”, depois, a abrirem caminho a um disco que vem numa altura em que nem as palavras têm chegado para enfrentar males maiores. Urgência absoluta nestas que declama. Se ainda vierem a tempo… Quando mais não seja para nos servirem, a todos, de carapuça para o que colectivamente temos vindo a semear.
[ProfJam] “NR6”
É, novamente, sobre amor que ProfJam volta a falar em mais uma faixa extraída de L.S.D. (Love Songs Die), título do sucessor de MDID (Música De Intervenção Divina). Mas o romantismo patente em “NR6” não deve ser confundido com rosas e chocolates de São Valentim: ser romântico, como Mário Cotrim mostra não só aqui ser, é neste caso procurar um tempo — e, à sua imagem, uma Lisboa — que, apesar de ainda hoje ter marcas visíveis, já não é como era nem voltará a sê-lo. E isso serve, agora sim, para as histórias de amor que o autor lamenta terem-se perdido, umas pelos desencontros da vida, outras pelos desencontros da morte, todas tão presentes quanto distantes em quem as recorda. Com especial destreza e detalhe, ainda por cima.
[On the Spot#11: Animal] “Alma Descansada”
Se uma série chega aos dois dígitos em número de episódios só pode significar que está a correr bem. Pelo menos, é essa a avaliação que fazemos de On the Spot, formato produzido pela Godsize Records de Sensei D. e Mura. Já na décima primeira edição, conta desta vez com Animal, tanto nas rimas como nas batidas, a desassossegar ouvintes com a sua “Alma Descansada”.
[TNT] “Respira”
Bom ver que os anos passam e o fôlego de TNT não só não se perdeu, mas tem vindo a renovar-se. Até porque, dada a ainda curta existência da cultura hip hop, sobretudo, em Portugal, estamos agora a ver os grandes casos de longevidade a resistirem ao teste do tempo. E no que ao rap do cabecilha da Mano A Mano diz respeito, o tempo tem sido um fiel aliado, provando que não há pontos óptimos no gráfico da evolução. Basta ouvir “Respira” para ver que a condição do MC de Almada está boa e recomenda-se. Quem dera, até, a muitos mais novos correr neste circuito com a mesma agilidade.
[Phoenix RDC] “Peixe morre pela boca” feat. Kosmo Da Gun
É sempre de ficar em sentido quando dois artilheiros como Phoenix RDC e Kosmo Da Gun se juntam. E, segundo nos revelou em declarações prestadas aquando do lançamento de “Quando me chamam” (com outro atirador furtivo no teatro de operações), “Peixe morre pela boca” é mais uma faixa da segunda parte do seu próximo trabalho a solo. Com a produção desse lado B garantida por James Gold, fica desvendado mais um convidado de um álbum que, do lado A, terá Stereossauro a assinar os instrumentais. Agora, se o peixe morre pela boca, também pela boca matam os tubarões.
[Lazy] “Stand by”
“Stand by” para quem sabe esperar o devido tempo pelas novidades quer de Lazy, de Beatscuits ou da À Socapa Records, tudo concentrado na mesma pessoa. E, quando assim é, as expectativas sobre o que o rapper e produtor do Porto nos há-de trazer estão sempre alinhadas com a bitola que o próprio tem definido. Mais do que seguro sobre a sua identidade e fiel à sua linha, não deixa por isso de vir com novas ideias quando se propõe a expô-las. A cumprir a velha máxima de que, com ele, não há nada que enganar.
[Lucy] Capítulo III
Três anos depois, chega o terceiro capítulo da discografia de Lucy em nome próprio — no seguimento de um disco sobre o qual falámos com os próprios autores por ocasião dessa edição. Se no antecessor foi Raze quem assumiu a produção, em Capítulo III é Praso quem se evidencia nessa posição, com, de resto, participações especiais de Mirza Lauchand, Mr Razor, Yak, Lennox, Chapz e Farrusco a convite de Carlos Kangoma.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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