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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça. Por dentro e por fora.
[Kilate] “Bravo Freestyle”
Pode não entrar logo em acrobacias linguísticas, mas Kilate vem com uma série de truques ensaiados para “Bravo Freestyle”. Menos conceptual e mais frontal neste seu novo tema, o rapper do Prior Velho entra a dizer o que pensa sobre o meio artístico a que pertence — com uma série de subtis referências ao seu próprio reportório pelo meio. E mesmo optando aqui por um registo predominantemente opinativo, não se coíbe de dar umas valentes cambalhotas líricas pelo caminho.
[TNT] Bars & 35’s
Depois de editar Drums & 35’s, TNT volta a lançar um curta-duração em nome próprio na recta final do ano. Desta vez com rappers convidados a dedicar rimas às suas batidas, Bars & 35’s convoca Jay Fella, Mlk Mau Aluno e Sitah Faya a darem cartas em “Everlast Gloves”, “Clássico” e “Tempo Voa”, respectivamente — três provas cabais das qualidades de cada MC aqui em evidência. Em harmonia, portanto, com a bitola definida por Daniel Freitas na sua Mano A Mano.
[Navalha] SAKURAS
Conhecemo-lo em Vai de Negro, trabalho que editou em Setembro de 2022 — onde chegou a receber Maze para cantar ao “Vento”. Ainda assim, desde aí que Navalha tem-se preservado como um daqueles casos em que o segredo se vê bem guardado por umas centenas de sortudos que entretanto se cruzaram com a sua música. SAKURAS chega assim já nos últimos dias de 2024 como um bom prenúncio para o que daqui virá a florir.
[Deezy] “Capuccino”
Já há quem peça um projecto inteiro à base de Deezy e guitarra depois de ouvir “Capuccino”. Esse foi, aliás, o single servido pelo cantor luso-angolano na véspera de Natal, que converteu (ainda mais) os seus ouvintes ao espírito da época. Aqui mais melancólico, é certo, mas a quadra, para quem já não a vive na flor da idade, será mais melancólica do que outra coisa. E, em boa verdade, o cunho de FRANKIEONTHEGUITAR para o tema foi determinante na definição dessa ambiência. Não é propriamente fácil assumir um registo acústico sem cair em lugares comuns, mas lugares comuns é coisa que não se espera de nenhum deles. Nem que seja a reinventar um capuccino.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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