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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça. Por dentro e por fora.
[Didi Fuego] “Paintball”
O regresso de Didi Fuego ao activo tem sido discreto, mas não tem passado despercebido. E ainda que “Paintball” seja apenas o seu segundo lançamento oficial em nome próprio sob um novo alter-ego, a sua contra-ofensiva não poderia estar a ser mais certeira. Munido de uma capacidade de manipulação do léxico invejável, veio assim com uma palavra a dizer entre os seus pares mais técnicos, para satisfação dos admiradores de esquemas rimáticos complexos. Nesse campo, revela-se um atirador de peso.
[Phoenix RDC] “Quando Me Chamam” feat. Regula
Foi um 2023 praticamente em silêncio para Phoenix RDC. Praticamente porque o ano ainda não chegou ao fim, e o rapper da Vialonga tinha, ainda, uma palavra a dizer: segundo nos confidenciou, está a ultimar os detalhes do seu novo trabalho — e sabemos já que o sucessor de Cool Kid está previsto sair no primeiro dia de 2024. E nada como uma colaboração inédita com Regula para antecipar esse regresso aos longa-durações, ainda para mais sendo este próximo álbum um disco duplo. Que mais participações inesperadas estarão por vir?
[Parker] O MUNDO É TEU… 2
É mais um projecto de Parker, que dá seguimento à saga de O MUNDO É TEU… com um segundo volume desse primeiro EP. Passou das quatro às nove faixas, trouxe mais gente à baila, mas manteve o espírito com que concebeu mais um dos vários trabalhos que tem editado nos últimos anos: para alguém que, quer enquanto rapper ou produtor, tem claramente registos mais favoráveis que outros, a liberdade de experimentação não se vê condicionada por essa queda para certas estéticas sonoras — até porque, em boa verdade, ainda agora está a começar. E cremos deste lado que só através dessa experimentação destemida se vai realmente encontrar.
[Kulpado] “Psicose”
Neste acesso de “Psicose”, Kulpado leva tudo à frente: amigos, parceiros, pares, ferramentas e mais quem ou o que lhe apareça à frente. Nem é para menos no caso desta metade de M.A.C. — dupla que divide com TNT há largos anos. Sempre foi de posições aguerridas e o tempo não o tem feito perder pulso ao seu rap tempestivo, bem pelo contrário. E não esperamos menos que isso sobre B.O.D.E., EP que o rapper da Margem Sul edita pela Mano A Mano já amanhã.
[LON3R JOHNY] “Japão”
A “moca” que LON3R JOHNY leva vai daqui até ao Japão, para que não haja dúvidas da sua passagem (com escala em Amesterdão) por terras nipónicas. O destino é imperdível e convida à documentação em tempo real, o que poderá bem justificar a encomenda de Ligação Tokyo sem que nada o antevesse. A estadia foi curta, mas chegou para estabelecer uma Ligação Tokyo entre nove faixas a milhares de pés de altitude.
[Insane T] “Empenho”
“Será que sou bom o suficiente?” é dúvida que assola qualquer um, em especial a classe artística e, sobretudo, aos que ainda procuram encontrar-se nessa definição tão abrangente quanto peculiar. Não obstante essa dúvida partir do próprio artista enquadrado nesta perspectiva, Insane T parece ter encontrado a chave para contrariar essa insegurança castradora: “Mostra todo o teu empenho, assim não há quem o desdenhe”, propõe precisamente em “Empenho” — quinta faixa do seu EP de estreia, Nasty Locks. E, no seu caso, o empenho por detrás de uma apresentação claramente ponderada e preparada até é evidente. Mas, noutros, não será esse factor determinante na aferição do potencial valor de um artista, mais do que até a eventual qualidade?
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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