pub

Texto: Paulo Pena
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 03/10/2023

De 25/09/2023 a 01/10/2023.

Rap PT — Dicas da Semana #155

Texto: Paulo Pena
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 03/10/2023

Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.

De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça. Por dentro e por fora.


[Kaps] “Flores”

Dêem-lhe as flores, porque ele as merece. Subir de liga e estar ao nível dos que lhe servem de referência  é obra, ainda para mais quando aos ombros se carrega, desde cedo, o peso da exigência que as próprias capacidades lhe impõem. Já em Kambo era notória a veia lírica de Kaps, mas também se revelava patente a proximidade artística a gente, à cabeça, como Holly Hood. E foi precisamente esse EP fatal que lhe valeu o salto (de anfíbio) da Mad Spit Records para a Superbad., casa editorial onde agora estreia o sucessor do trabalho que apresentou em 2020: Marginal representa, por isso, a confirmação do que se lhe augurava. Agora, é já uma certeza.


[Anonymouz_va] “ARRAH”

Desconhecemos se existe alguma ligação artística ou pessoal entre Stay Real e Anonymouz_va, mas não deixa de ser curioso o timing de ambos. Surgiram pela primeira vez com um par de meses de diferença e destacaram-se, logo à partida, como duas das vozes mais entusiasmantes da cada vez mais populosa cena do drill cantado em crioulo, precisamente pela diferença que cada um veio marcar. Por sua vez, “ARRAH” — que nos chega umas semanas depois da última novidade do segundo caso visado — é um exemplo mais tradicional do que se define pela abordagem típica ao sub-género, mas não deixa de ser revelador da força que fenómenos como este trazem ao núcleo de one emergiram.


[ProfJam] “AUTO:BOOM”

Qual Funkmaster Flex ou Sway Calloway? Se as rádios portuguesas — nenhuma delas, em frequência FM, circunscrita exclusivamente ao hip hop — não abrem espaço a freestyles de rappers em tempo de antena, Mário Cotrim assume o papel de host e convida ProfJam para o seu programa. Já ao MC de funções propriamente ditas coube a tarefa de matar o game (expressão que lhe é bastante familiar) com um tema que serviu, ainda, de grande anúncio: as lições do professor continuam na Aula Magna, em Fevereiro do ano que vem, numa masterclass sobre MDID — Música De Intervenção Divina.


[Cálculo] “Callin’”

Cálculo já sabe que está na sua, tão chill, a flutwar. E isso significa que agora só atende chamadas de interlocutores que o mereçam. Pelo menos é isso que deixa bem explícito neste “Callin’”, tema que dá continuidade — quer ao nível da linha sonora, da estética ou da regularidade — aos singles que tem lançado, que poderão, por sua vez, antecipar um projecto maior, quem sabe se já o sucessor de Royale. Mas o que esta sua nova faixa transmite, também, assim como as anteriores (à primeira linha codificadas), é que o crescimento e amadurecimento do rapper de Barcelos tem sido exemplar, não só pela evolução mais palpável ao longo dos anos, mas sobretudo pela (re)descoberta genuína de sucessivas identidades, todas elas pacíficas entre si. Porque, afinal, nunca seremos sempre os mesmos. Especialmente se formos artistas.


[Mace] “Minimizo” feat. AJ & Kristóman

É já o segundo lançamento em nome da RAPTUNO, o que reforça a impressão de que está a nascer um novo selo no panorama do rap nacional. Mace é, até ver, a figura central nesta sede, ele que depois de contar com as participações de Kravas (nas rimas), SPVSR (nas batidas) e Tommy El Finger (nos riscos) em “Desde a Primeira”, convida agora AJ e Kristóman para dividirem versos com ele em “Minimizo”. E a tríade aqui formada é tão insólita quanto bem-conseguida. Com representação de Norte a Sul do país no papel, o rapper de Barcelos viu-se apoiado pelo ainda subvalorizado MC algarvio e o ainda por valorizar MC de Sintra. Fica, portanto, mais um registo maximizante do valor destes três valiosos activos do hip hop português menos badalado.


[Slow J] “CorDaPele”

Aqui está o bilhete dourado para AfroFado. E essa é, por sinal, a “CorDaPele” de Slow J: quer pela dualidade mais evidente de ascendências que encerra em si (do Sado ao Cuanza), quer pela herança cultural — mais propriamente, musical — que carrega, e que agora, finalmente, replica na sua plenitude. Não é o primeiro a fazê-lo, é certo. Mas será, muito provavelmente, aquele que melhor o faz, com uma elasticidade de tal forma subtil que o temos visto cada vez mais fora dos lugares comuns do rap sem, no entanto, abandonar os parâmetros basilares do género que o formou. E essa não é, apesar de tudo, uma novidade para ninguém. Já em You Are Forgiven, ou em The Art of Slowing Down, ou até mesmo em  The Free Food Tape, se manifestava evidente a falta de espaço que uma só caixa permitia a um artista de tamanha grandeza. E grandeza é, por isso, o que ele tem desde então protagonizado. Literalmente, até.

(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)

pub

Últimos da categoria: Rap PT - Dicas da Semana

RBTV

Últimos artigos