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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[Azart] “Paris Freestyle”
O tema não é propriamente novo, mas chega agora com um complemento visual filmado, em parte, na cidade visada: “Paris Freestyle” pertence a Foco, disco de estreia de Azart, e destaca-se como uma das faixas mais próximas de um registo exclusivo ao rap num álbum que prima pela versatilidade de abordagens — lançada em vídeo no dia em que o rapper de Lisboa anunciou um concerto de apresentação do seu primeiro longa-duração, agendado para dia 16 de Setembro, no Musicbox.
[Harley KSD] “Abracadabra”
A sigla KSD é já patente reconhecida no mapa do hip hop nacional, mas há mais activos desta causa além de Julinho. Persiste, porém, também no caso de Harley KSD, a apetência por batidas afro, numa cadência popularizada, sobretudo, pela voz do autor de Sabi na Sabura. Ainda assim, “Abracadabra” é mais grito de afirmação do que réplica de truque mágico — com o dinheiro em ponto de mira.
https://www.youtube.com/watch?v=6tcPhEh6Ak8
[Allen Halloween] “Rapazes do Campo”
Ainda não são claras as intenções, ou até mesmo a autoria, da actividade mais recente no canal de YouTube de Allen Halloween, tendo em conta a sua “reforma” antecipada em 2019. Certo é que, tratando-se de um dos mais inusitados artistas da história da música portuguesa, há que sempre dar o benefício da dúvida: conhecendo o seu modus operandi pouco ortodoxo, aliado à sua inventividade criativa fora de série, até é bem provável que este regresso dissimulado, entre inéditos, regravações e interpretações de material alheio, se deva ao rapper e produtor de Odivelas, em nome próprio por direito. Desde versões de José Carlos Schwarz e Zeca Afonso ao rock de um “Manhattan Thug”, o reportório da “Bruxa” tem-se diversificado, não sem passar por lugares comuns seus como é o caso deste “Rapazes do Campo”.
[Ray DLC] “Desacreditar” & “Põe Valor”
“Se for para ser em dupla, é sentido de ser afim”, se interpretarmos a frase como declaração de afinidades. Mas serve-nos mais a deixa para dar a saber que o regresso de Ray DLC aos lançamentos em nome próprio se fez precisamente em dose dupla, entre “Desacreditar” e “Põe Valor”, um contraste que em boa verdade se esbate para lá dos títulos: a mensagem em ambos os singles convergem, e o registo aponta na mesma direcção — como se o Tejo virasse East River, ainda que a Margem Sul não saia do timbre, do flow e dos trejeitos do MC da MS.
[Tee Ace x Skuddy] “Sobrevivente”
A proposta musical de Tee Ace é indissociável da componente visual que a acompanha e, nesse âmbito, o rapper da Margem Sul não descura o tratamento necessário em qualquer lançamento. Talvez esse factor seja uma das razões que o tenha levado a completar Sobrevivente: o EP vê-se editado agora, pela South Music, mas o single “Twin Towers”, já o havíamos escutado em finais do ano passado. Na faixa homónima do projecto em que se encontra inserida, o MC junta-se a Skuddy e aproveita a coincidência dos títulos para, sob a forma de curta-metragem co-realizada pela Culture Burger e Lucas Coelho, promover o EP recém-estreado na íntegra.
[Mundo Segundo] “Luto com fé”
A grande de luta de Mundo Segundo tem sido a longevidade, e seu o legado tem sido, por isso, a sua maior bandeira ao longo das décadas. Há quem procure incessantemente por novos caminhos de reinvenção com o passar dos anos, mas no caso do rapper e produtor do Porto o segredo para a manutenção da relevância é tudo menos secreto: apurar é a palavra de ordem de quem continua igual a si próprio, tanto sem perder a essência como a não cair numa fórmula sua já gasta.
[Mace x Kravas x SPVSR] “Desde a Primeira” (com Tommy El Finger)
Não é o parceiro de Dealema do acima visado Mundo Segundo, mas é um homólogo e homófono seu: Mace, que não é nome estranho por aqui, junta-se a Kravas, nome inédito por aqui, em “Desde a Primeira”. Os dois rappers, de Barcelos e Esponsende, estabelecem assim uma parceria com SPVSR, produtor do Porto que, por sua vez, requisita os serviços de scratch do também produtor e DJ algarvio Tommy El Finger. Rap de uma ponta à outra do país.
[Smoka L.A] “Skitlezzz”
O loop é, à imagem da marca que dá nome ao tema, açucarado. “Skitlezzz” — até pela animação usada como visualizer da faixa, com vários pacotes do dito-cujo, lá está, em loop — não deixam margem para dúvidas acerca do objecto usado para a metáfora central, que dá cor à paleta de rappers postos em cheque por Smoka L.A: “Confundir as cores desses Skitles com o meu wordplay“, é a mensagem a reter.
[Lady N] “D.M.F.”
Enquanto marca activa na cultura hip hop, a D.R.U.G.S. teve desde logo uma palavra a dizer e deu cartas nesse sentido com, à cabeça, o segmento Passa o Mic, que tem sido, aliás, acompanhado de perto por aqui. Lady N foi, por sua vez, uma dos rappers que estrearam esta rubrica de cyphers que já vai na décima edição, e agora é ela a primeira a carimbar uma faixa para o álbum que este colectivo está a preparar em nome próprio.
[Amon & Johny Gumble] “Juro pela minha morte”
Jurar pela morte nunca augurou nada de bom. Que o diga Joca, que cedo sentiu na pele e no chão as duras lições da vida sobre confiança. Agora, se a jura vem de gente como Amon e Johny Gumble, o compromisso é outro: divulgada no canal da Blckout Records (que está por esta altura a um subscritor do número demoníaco, assinale-se), “Juro pela minha morte”, além de recuperar um dos mais célebres tesourinhos do audiovisual nacional com um twist mais sádico, chega-nos como parte de algo maior — designadamente um projecto a meias entres os dois rappers, que será editado em nome de Lo-Files.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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