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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 03/02/2020

Tilt, Uno, LORD ou TK contribuem com versos para o álbum de estreia do produtor lisboeta.

Pilha sobre Morte após a vida, paraíso de terra: “O conceito do álbum é a minha própria instabilidade”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 03/02/2020
Pilha estreou-se nos álbuns em nome próprio com Morte após a vida, paraíso de terra. O projecto saiu na passada quarta-feira e conta com versos de Tilt, Uno, LORD ~e TK, entre outros. Os gostos musicais exteriores ao hip hop de Filipe Duarte começaram a cruzar-se na arte do beatmaking há cerca de cinco anos. Anos a fio na companhia de Uno, incansável MC e produtor de Lisboa, influenciaram a veia criativa do jovem Pilha, que acompanhou de perto todos os passos dados pelo amigo, desde as primeiras maquetes à gerência do seu Consultório. Foi até Uno quem o acompanhou na primeira viagem no universo das edições. A estreia de Pilha aconteceu com VIDRADO, uma beat tape colaborativa lançada no arranque 2016 e que lhe deu fôlego para continuar a jornada a solo, com o primeiro EP em nome próprio, 4 Elementos, a aterrar no SoundCloud em Setembro do mesmo ano. Do mais simples corte e costura de samples, Filipe Duarte foi evoluindo no número de técnicas à sua disposição, acompanhando a curva ascendente com a aquisição de mais e melhor material e instrumentos reais. Morte após a vida, paraíso de terra espelha essa mutação que tem vindo a sofrer com o passar do tempo e o selo de maturidade e qualidade é-nos dado pela quantidade de vezes que o seu nome surge creditado em obras de ORTEUM, TK, LORD, Benny B e, claro, do seu próprio mentor, Uno. A Tilt, Uno, LORD e TK (que também misturou e masterizou os temas) juntam-se ainda Phantom, Milton FP, Neno BFH, Tradição, Pika, Tomás Almeida e Cevas enquanto convidados nas primeiras sete faixas do álbum, que encerra com os instrumentais “Raiz” e “Alucinogénio”. A capa de Morte após a vida, paraíso de terra tem a assinatura de Leonor Almeida. Conversámos com Pilha sobre o seu mais ambicioso trabalho até à data e dos próximos passos.

Já lá vão uma mão cheia de anos desde que te assumiste produtor. Há um par de dia lançaste o teu primeiro álbum a solo com MCs convidados, um projecto que já fazia todo o sentido dado o número de parcerias que tens vindo a estabelecer nestes últimos tempos. Em que fase da tua carreira é que começaste a equacionar e a delinear este Morte após a vida, paraíso de terra? Já tinha a ideia de lançar algo mais robusto, fosse beat tape ou EP, mas tudo surgiu com a faixa sete [“Ligados”] do álbum. O Cevas tinha vindo da Covilhã para Lisboa passar uns dias, foi ter comigo e fomos almoçar. Durante o almoço começou-me a influenciar a fazer algo mais coeso, mais ao meu estilo e à minha imagem. Quando voltámos para casa, o beat foi mesmo instantâneo e a letra foi escrita num ápice. Foi passando o tempo com esse som na gaveta e fui encarando mesmo a possibilidade de isso acontecer. Depois foi só estabelecer as atmosferas certas nos instrumentais para ir criando o álbum e outros sons foi mesmo dar “shotgun” para irem para o meu álbum e não para outro projecto, pois completavam-no na perfeição. O título surgiu muito cedo e os MCs escolhidos já eram mais que óbvios… são os meus amigos. Muitas das temáticas escolhidas pelos MCs nas respectivas faixas acabam por se cruzar no mesmo ponto. Existiu algum conceito que quisesses aplicar ao projecto e cujas directrizes passaste a cada um dos convidados? Eu não rimo… eles falam por mim. Acho que é meter a atmosfera certa num beat, as conversas que temos entre nós e um consenso do que se vai tratar no som e pronto. Todas as faixas são exactamente o que eu gostava de dizer a rimar, mas só consigo dizer sem ser a rimar [risos]. O conceito do álbum é a minha própria instabilidade. Espero que tenha conseguido passar isso no álbum. Vai da desilusão, da tristeza para a raiva sem cabimento, chega à raiva centralizada no foco do problema até que depois só pode vir a esperança de não sentir tanta tristeza e raiva e conseguir viver com ela sem que influencie o nosso positivismo sobre o futuro. Mergulhando na produção destas nove faixas, de que forma criaste estes instrumentais? Houve algum software ou instrumento que mais tenhas usado para definir esta tua sonoridade? O que utilizei sempre foi o FL Studio. Usei samples, turntable e de instrumentos só o baixo e a guitarra. Estes instrumentais já têm algum tempo e não sei se foi subconscientemente que quase não usei instrumentos, até porque que os beats mais recentes que faço têm no mínimo um instrumento qualquer. Mas acho que isso fez mesmo com que este álbum tivesse este tipo de sonoridade mais clássica e menos experimental e fosse a finalização de uma fase e o início de outra. Como adepto de um estilo de beats mais clássico, que artistas ou produtores te têm inspirado ultimamente para trabalhar dentro deste registo? Sinceramente acho que sou muito mais inspirado pelo que me rodeia do que por produtores de topo. Isso foi mais no início. Era Madlib, Premier, Leaf Dog, Illinformed… Sempre ouvi muito mais outros géneros do que rap. Então o tuga, que quase nunca valeu muito a pena, se bem que todos os anos saem obras intemporais e hão-de continuar a sair, só que sinto que fora do pessoal que conheço não vejo grande coisa a ser feita, daí também tanta crítica no álbum. Mas voltando ao cerne da pergunta: posso dizer que a minha maior influência é o Uno. Antes de fazer beats já o via a fazê-los, ficava pasmado e fui absorvendo muitas dicas mesmo sem tencionar fazer beats um dia. Ainda para mais quando sou mais influenciado por pessoas reais e que existem ao meu lado do que ídolos, que não tenho. O mais importante é mesmo a integridade dos artistas como pessoas, vai muito para além de rimas e batidas. Acho que é isso que me influencia. Já tinhas lançado 4 Elementos e VIDRADO, este último ao lado do Uno, e assinaste instrumentais para gente como os ORTEUM ou João Pestana. O que se segue a partir daqui? Há por aí no horizonte mais trabalhos teus a solo ou colaborações com outros MCs? Antes de acabar este álbum já tinha esquematizado o segundo volume do mesmo. Mas não o vou já revelar senão perde a piada [risos]. Muitos MCs que são meus amigos para a vida (Pestana, Trip, etc.) não entraram neste álbum devido simplesmente à ocasião em que foi feito. Já sabia que tinha que dar continuidade a este projecto (que teve toques de génio do TK). Mas vai ter outra maturidade, outra sonoridade, outros MCs, mas MCs como o TK e o Uno vão entrar na mesma porque são a única coisa que me faz sentido, visto que lhes devo muito. Possivelmente sai também entretanto uma beat tape. É algo que pondero sempre porque não quero que ninguém que eu não queira use os instrumentais. E obviamente vou continuar a entrar com um beat ou outro nos projectos dos que me rodeiam, como tem sido. A meias andanças, de projectos já encaminhados tenho um com o TK, um com o TK e o Benny B e outro com o LORD e o Pestana. Sem qualquer data prevista mas a serem pensados ao pormenor e a serem trabalhados. Uns mais finalizados que outros, mas estão num bom caminho. Acho que vão ser umas boas surpresas.
https://soundcloud.com/opilha/sets/4-elementos

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