[TEXTO] Alexandra Oliveira Matos [VÍDEO] Luís Almeida [FOTOS] Hélder White
O Passaporti de Karlon, o HollyLandz de Landim e Holly, o Fitxadu de Sara Tavares, a voz doce de Mayra Andrade em “Reserva para dois”, Dino d’Santiago em tantos trabalhos e no álbum que está por vir, Rocky Marsiano e Meu Kamba com tantos samples viajantes das nove ilhas, o funaná frenético de Scúru Fitchadu, as noites quentes da Enchufada que não esquecem este arquipélago. Há um universo cabo-verdiano que diariamente nos entra casa a dentro. Ritmos que, venha quem vier, não nos saem do corpo e da história. Os Tubarões não se demitem, e ainda bem, deste lote moderno aqui enumerado em que entram tantos mais.
“Nós podemos contar-nos entres essas pessoas que ajudaram a levar o nome de Cabo Verde além fronteiras. Temos jovens agora que fazem isso de uma outra forma, mas também sempre com o sentimento de terem a bandeira de Cabo Verde sempre lá em cima”, conta Mário Bettencourt, ou Russo, como todos lhe chamam. “Já somos pequeninos e o nosso querer não pode ser do tamanho do nosso país, tem que ser maior”, frisa o baixista na banda desde 1975.
“Se viermos com a ideia de que Os Tubarões nasceram em 1969, foram até não sei quando e isso é que é a música de Cabo Verde então estamos muito enganados”, garante Zeca Couto. O dono das teclas está no grupo desde 1970 e defende que os álbuns sucessivos de Os Tubarões são documentos de história e de sociologia do país. Música que vai evoluindo com o tempo, com a tecnologia e com a adaptação de que também estes músicos decanos não querem estar longe. Não é por acaso que estão neste momento a preparar um álbum prometido ainda para 2018.
Russo acredita que se vão “abrindo espaços que a música cabo verdiana e o crioulo vão ocupando” e será por isso que músicas tão conhecidas como “Djonsinho Cabral” e “Cretcheu” vão sendo ouvidas nas mãos de DJs e grupos “a retomarem e a darem outra roupagem”. “No ano passado tivemos uma experiência com um jovem que faz o hip hop em que estilizámos uma música nossa para a versão dele e correu muito bem”, orgulha-se acrescentando que: “é esse tipo de sinergias que nos vai engrandecendo”. O baixista refere-se ao Dueto Improvável com Hélio Batalha, rapper cabo verdiano, na 3.ª edição da Gala Somos Cabo Verde.
O grupo parou em 1994 e nessa data tinha já oito discos editados. Pepe Lopi (1976), Tchon di Morgado (1976), Djonsinho Cabral (1979), Tabanca (1980), Tema para Dois (1982), Os Tubarões (1990), Os Tubarões ao Vivo (1993) e Porton d’nôs ilha (1994). A saída de um dos rostos mais conhecidos do coletivo, Ildo Lobo, catapultou Os Tubarões para uma pausa sem fim previsto. De volta desde 2015, Os Tubarões atuam em Lisboa, no Tivoli BBVA, no dia 6 de abril. “Chegando a Lisboa estamos em casa”, sorri Zeca sentado no sofá da Carbono. Por lá, na loja de discos, ainda existem sete cópias – algumas delas assinadas – para serem levadas para casa e aquecer qualquer noite mais fria.