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Texto: ReB Team
Ilustração: Rita Magdala
Publicado a: 11/01/2022

De Tyler, The Creator a Dave.

Os melhores álbuns internacionais de 2021

Texto: ReB Team
Ilustração: Rita Magdala
Publicado a: 11/01/2022

No final de contas, as listas (tal como qualquer processo que seja democrático) não são mais do que um reflexo das pessoas que votam, das suas escolhas e daquilo em que acreditam. No caso do Rimas e Batidas, e isto deve aplicar-se a qualquer outra revista/orgão de comunicação social/blogue que se proponha a estes exercícios, a selecção final fez-se a partir dos critérios de mais de 15 pessoas diferentes para que se chegasse a um conjunto plural e diversificado de discos e que reflicta aquilo que somos e que, no fundo, aquilo de que gostamos e que nos entusiasma.

Não vamos analisar com profundidade o resultado que vão encontrar de seguida — vamos deixar isso para aqueles que queiram deixar a sua “bicada” sobre isso –, mas estes 30 discos, juntos, traduzem uma série de coisas:

a) Os Estados Unidos da América e o seu rap que foge do mainstream é aquilo que mais nos entusiasma;
b) Encontrámos, depois de Rosalía, mais uma razão para nos apaixonarmos pela canção pop espanhola;
c) O jazz britânico não se cansa de provocar e de trazer novas ideias para a mesa;
d) Há um equilíbrio charmoso entre veteranos e novatos e entre diferentes géneros musicais;
e) Cleo Sol merece mais atenção e respeito.

Mas chega de conversa. Fiquem com os favoritos do ReB da produção internacional do ano passado.



[Tyler, The Creator] CALL ME IF YOU GET LOST

A vida dá muitas voltas, mas a de Tyler, The Creator nem por isso: na verdade, desde a sua saída da adolescência que o vemos numa linha ascendente sem quebras de qualquer tipo. A oportunidade de assistirmos ao seu desenvolvimento pessoal e artístico desde cedo permite-nos ver todas as ligações e as narrativas entrelaçadas que cria – repescando e adaptando uma ideia do crítico musical Dylan Green, testemunhámos em tempo real a criação de um delicado universo que é fruto de uma visão muito própria e minuciosa, existindo uma estética que nunca é perdida de vista e que vai da música ao desenvolvimento de perfumes; e, sim, Wes Anderson, o realizador, é alguém que soa tão próximo de si como qualquer músico que o influenciou. 

EM CALL ME IF YOU GET LOST, e não perdendo o autor de The French Dispatch de vista, principalmente por aquilo que fez nesse seu último filme, Tyler Okonma está visivelmente confortável com aquilo que tem em mente – sente-se que veio de Flower Boy (2017) e IGOR (2019) –, voltando até ao seu lado mais rap (inspirado por Westside Gunn e a sua Griselda) e horrorcore (através dos Gravediggaz) para explorar um ou outro canto que não tinha visitado com atenção. Para isso, o visionário artista convidou DJ Drama para host e pôs um elenco de novas estrelas (improváveis) como 42 Dugg ou Youngboy Never Broke Again fora de pé (e bem!), convidando outras para terem a atenção que nunca tiveram (e aqui falamos de Teezo Touchdown, DAISY WORLD e Fana Hues). E ainda chama velhos amigos como Lil Wayne (impressionante como aparece sempre em grande forma nas participações) e Pharrell Williams porque uma boa história (cheia de paixões, desilusões e reflexões íntimas) terá direito a callbacks que acrescentam valor a todos os lados.

– Alexandre Ribeiro



[C.Tangana] El Madrileño 

C. Tangana é o típico homem pelo qual odiamos apaixonarmo-nos. O olhar, a postura, as letras, tudo nele são sinais sobre a confiança que tem em si próprio e o quão rodeado de “Demasiadas Mujeres” está. Mas são também essas coisas que nos fazem gostar tanto dele. Aquele olhar, a forma como nos seduz com a sua voz, os beats sensuais, mas, acima de tudo, a sensibilidade e abertura que tem para se expor completamente a nós e destruir o quadro perfeito que ele próprio cria na sua performatividade hedonista, revelando o lado emocional, vazio e melancólico por detrás da máscara, criando um álbum de sadboy que funde as vísceras da música espanhola com o que os elementos que hoje transformam músicas em bops – o funk brasileiro e o reggaeton (e, entre outros, alguns elementos de indie rock). 

Com um elenco de luxo com ilustres como Niño De Elche, Gipsy Kings ou Pepe Blanco, C. Tangana criou em El Madrileño uma ode à cultura que criou o estado espanhol (whatever that is), desde as influências ciganas ao novo pop que contagiou o mundo nos últimos anos. A fragilidade masculina aparece por entre tanto charme, e é isso que Tangana nos mostra, esse segredo escondido por tantos e que, no fim, nos faz conseguir empatizar com alguém que, à primeira vista, nos parece só um idiota mimado perdido na vida.

– Francisco Couto



[Floating Points, Pharoah Sanders & The London Symphony Orchestra] Promises 

Disco que motivou muitas reflexões e que gerou amplo consenso no plano internacional, este Promises deve também boa parte do seu alcance ao timing da sua edição, numa altura em que qualquer luz ao fundo do túnel era encarada como sendo do sol e não de uma qualquer locomotiva que pudesse ter sido baptizada com o nome “Omicron”. Esse optimismo — ou esperança — deu corpo a um disco luminoso que por aqui também encontrou o devido eco:

“O final do ‘Movement 6’ parece traduzir uma espécie de êxtase, antecedendo outras duas peças longas que são também os movimentos em que Pharoah Sanders mais se alarga numa emocional exposição que começa murmúrio antes de se tornar grito, numa demonstração de pleno poder técnico e expressivo, com o saxofone tenor a soar como o mais genuíno dos instrumentos, aquele que talvez melhor permita ao músico ‘falar’ a mais universal das línguas, uma em que as palavras se reduzem a tom, a intenção, a reflexo directo do pensamento que se faz tanto com o cérebro como com o coração ou todas as células de que se constitui um corpo. Não é álbum do ano, é bem mais do que isso: 21 anos pelo século XXI adentro, talvez seja um dos mais incríveis registos deste tempo que a História que era impossível de vislumbrar quando em 1964 Pharoah lançou o seu primeiro álbum afinal nos legou. As promessas a que o título alude são, talvez, as que essa História precisa de cumprir. Se assim for, este álbum contém um pungente apelo à construção dessa harmonia. A tal unanimidade que se referiu antes, com elogios arrebatados a surgirem de todo o lado, pode ser um sinal de que a cura pela música pode mesmo acontecer. E, assim sendo, tocar este disco é quase um dever cívico.”

– Rui Miguel Abreu



[Madlib] Sound Ancestors 

É um dos nomes mais influentes dos últimos 30 anos da cultura hip hop. Misterioso na mesma medida que é inventivo, Madlib teceu algumas das colaborações mais importantes de sempre (de Madvillainy a Piñata), ajudou a deitar por terra o muro que separa a música urbana do jazz e instruiu-nos com uma data de projectos (entre compilações, beat tapes, bootlegs…) a título individual que ajudaram, sem dúvida, a estética beat a subir mais alguns degraus.

Em 2021 brindou-nos com Sound Ancestors, um raro momento em que se apresenta a solo ao leme de um álbum e que, por isso, adquiriu um carácter de urgência enorme, ainda para mais com o amigo Four Tet a disponibilizar-se para tratar da parte “chata” daquilo que é o processo de germinação de um disco. Se a incerteza quanto ao seu lançamento pairou por alguns anos na cabeça de Otis Jackson Jr., músicas como “Loose Goose”, “The New Normal”, “The Call” ou, claro, “Road Of The Lonely Ones” desfazem todas as dúvidas que podiam existir quanto à pertinência de ainda termos um dinossauro deste calibre na rota das edições.

– Gonçalo Oliveira



[Little Simz] Sometimes I Might Be Introvert 

Tal como no antecessor, GREY Area, a rapper de Londres une-se mais uma vez àquele que é, muito provavelmente, o grande produtor (mais no sentido de Quincy Jones do que de Metro Boomin) britânico dos últimos cinco anos, Inflo, responsável pelo som de Michael Kiwanuka, Cleo Sol (que entra em “Woman”), SAULT e, espante-se, Adele. Apesar de nunca ter dependido de outros para soar confiante e expressiva nos seus versos, Simbi ganha com esta parceria, podendo assim soltar-se sem amarras em instrumentais ancorados em loops de funk, soul, afrobeat (como na vistosa “Point and Kill” com Obongjayar), e, muitas vezes, com direito a grandiosos arranjos orquestrais para, mais do que fazer passar grandes mensagens – e também o faz –, apresentar aquele que é o seu posicionamento neste mundo, aquilo que a move e as suas grandes questões. 

Numa indústria que tenta engolir toda e qualquer pessoa que lá entre, Little Simz mantém-se à parte, ou seja, ela joga o jogo, mas cada jogada sai de si e dos seus. E, claro, algumas vezes pode estar mais introvertida, porém, a leitura que provém disso não é tão clara: se ela não vos está a dizer o que quer directamente é porque estará a pensar, a pensar e a pensar no melhor passo para que a sua arte saia o mais honesta possível sem que se perca. A liberdade não tem preço, nem parece ter Simz para que a afastem daquilo em que acredita. 

– Alexandre Ribeiro



[Mach-Hommy] Pray For Haiti

“Explorando as suas raízes culturais haitianas (há até a inserção de material de um debate académico sobre a riqueza do crioulo) através da língua, mas também da sua particular experiência, Mach-Hommy desfere rimas sobre instrumentais de vocação cinemática, com mais expressividade melódica e harmónica do que rítmica, de toada jazzy. O que importa aqui são as barras, a clareza sónica do discurso, a atmosfera desenhada, o fumo que envolve a voz e a luz que se revela nas histórias”. Na crítica publicada em Junho do ano passado, Rui Miguel Abreu resumia, nesse parágrafo e (quase) na perfeição, aquilo que elevava o elusivo MC acima de muitos, senão grande parte, dos seus colegas. 

Tal como Rakim e a sua formação jazzística (através do saxofone) o influenciaram a explorar caminhos inusitados para rimar – inovando e influenciando o percurso do próprio rap a partir disso –, o autor de Pray For Haiti apresenta-se enquanto potencial talento geracional que absorve o passado, presente e futuro daquilo que mexe consigo e com aquilo que o rodeia para apresentar uma total expressão autoral. Não vai salvar o mundo, mas quase juramos que o vimos levantar uma caneta sem sequer lhe tocar…

– Alexandre Ribeiro



[Arlo Parks] Collapsed in Sunbeams 

Com o álbum de estreia Collapsed in Sunbeams, Arlo Parks tornou-se uma das revelações do ano. A jovem artista oriunda de Londres (que tinha apenas 20 anos quando o disco saiu) é mais um nome que podemos enquadrar na vasta fornada da soul (e música negra) britânica dos últimos anos, que tantos frutos tem dado.

Mas Arlo Parks destaca-se. Tem uma tremenda maturidade para a idade, uma voz sedosa, referências que vão dos Radiohead a Erykah Badu. Nas suas músicas íntimas, ainda que geralmente bem-dispostas, aborda questões como a saúde mental ou a identidade de género a partir das suas próprias experiências.

Collapsed in Sunbeams é um disco que extravasa fronteiras de género musical, que não é completamente disruptivo mas que assinala — de forma rara — a estreia em grande de uma artista tão jovem e ainda com tanto para dar. 2021 foi apenas o início para Arlo Parks — mas é um ano que fica marcado pela sua afirmação.

– Ricardo Farinha



[L’Rain] Fatigue 

“Podemos imaginar Fatigue como uma caixa negra”, propunha aqui Pedro João Santos. “Conhecemos algumas das entradas — a formação clássica da artista (em violoncelo e piano), a experimentação com contornos soul e o psicadelismo frio que os arrefece, os excertos não identificados de gospel — e cada ouvinte saberá da sua saída (emocional, estética, whatever). Só que as engrenagens interiores parecem girar numa lógica própria, entre códigos e sentimentos que nunca se consolidam numa linguagem”. Indeed. Pode garantir-se que Taja Cheek, aka L’Rain, é uma das mais generosas dádivas deste tempo ao futuro, uma artista que prefere sobrevoar géneros a deter-se nalgum território já mapeado e que ao optar por essa perspectiva acaba, afinal de contas, por corporizar uma das mais interessantes características deste tempo – a da afirmação de uma liberdade sem limites em que tudo é passível de ser questionado, sobretudo os dogmas, as tradições, os lugares pré-determinados para cada um na ordem “natural” das coisas. Assim, a transparência – e honestidade – emocional, a crença em dimensões paralelas de existência, a possibilidade de transformação – e, portanto, de evolução – ganham o espaço que sempre mereceram, mas raramente alcançaram. Viva.

– Rui Miguel Abreu



[Ka] A Martyr’s Reward 

Se Roc Marciano representa o luxo que existe no underground, Ka exerce o papel de paladino da palavra, o herói que não precisa de levantar a voz – os argumentos certos estão todos lá e ele sabe isso melhor que ninguém; os outros lá chegarão se dedicarem tempo àquilo que escreveu e mandou cá para fora (da maneira mais delicada que possam imaginar). 

Ser um mártir nem sempre é uma escolha individual, mais uma missão imposta pelo colectivo, mas no sucessor de Descendants of Cain aplicam-se ambas: existe um carácter nobre e heróico nas escolhas pessoais e criativas do rapper nova-iorquino, que se recusa a alinhar no barulho de uma sociedade capitalista que valoriza quem grita mais alto, mesmo que estejam errados. E Ka nunca soa condescendente: existe é muita urgência em si para deixar em pedra aquilo que pensa ser o correcto (e sem se tentar impor). 

– Alexandre Ribeiro



[Vince Staples] Vince Staples

Vince Staples é um álbum em que o seu autor se apresenta em nome próprio em todos os sentidos da expressão. Essa frase pode soar como business as usual para um artista que sempre se mostrou honesto, fiel a si mesmo na sua abordagem musical, e sincero nas suas barras pragmáticas. Mas este projecto vai ao cerne da psique de Vince Staples, e os temas são mais pessoais do que nunca. O rapper de Long Beach recruta Kenny Beats para dar batida às suas palavras pesadas e sinceras e o ritmo frenético da sua entrega em trabalhos anteriores é substituído por algo mais discreto, mais solene, mas as suas rimas mantêm-se aguçadas. Fala do passado com nostalgia, pesar e remorsos, mas lembra as lições do que já foi para se manter de cabeça erguida face ao que será. É uma interessante e curta tour pela mente de Vince Staples, com o melhor guia que poderíamos desejar. 

– Miguel Santos



[Navy Blue] Navy’s Reprise 

Sucessor de Songs of Sage: Post Panic!, Navy’s Reprise foi editado pouco depois do segundo longa-duração de Navy Blue (que já chegou na recta final de 2020, após a estreia discográfica assinalada em Àdá Irin nesse ano), mas ficou reservado por uns meses para aqueles que o quiseram comprar digitalmente. Talvez Sage Elsesser tenha percebido que a sua nova criação (à semelhança das anteriores) era boa demais para não ser partilhada por todos. Afinal, há um tom messiânico na palavra daquele que passou de ícone do skate e da moda a rapper de culto num ápice, mal se mostrou assumidamente ao mundo do hip hop. Quanto mais se debruça sobre si próprio, mais nos fascina pela forma como o faz, por cima de batidas delicadamente alinhadas por si, constantemente a tentar resolver-se. Resolvido fica quem o ouve: não há muito mais que se possa pedir de um disco de rap. E ainda custa crer que, em Março, na Galeria Zé dos Bois, vamos poder testemunhar as confissões mais sinceras de Navy Blue, the truest.

– Paulo Pena



[Injury Reserve] By the Time I Get to Phoenix

Nunca as várias faces do hip hop imaginaram chegar até aqui – mas talvez Death Grips, Danny Brown e JPEGMAFIA tivessem vindo a anunciar esta chegada na última década a par com este trio. Rap pós-contemporâneo seria o termo certo? Não há termos certos. Para um mundo desfragmentado, guiado pela tecnologia, em velocidade crescente, eis um disco à medida. Mais importante, o quinto de Injury Reserve é um álbum completo: isento de medos, cheio de diversidade estética, numa produção híbrida – baseada num DJ set de 2019 – que não hesita em mexer na caixa de velocidades, em saltar entre dimensões, em arrancar beats destrutivos às mais bonitas melodias. Tudo isto com tensão e beleza emocional.

By The Time I Get To Phoenix, inspirado também no tema homónimo de Isaac Hayes, é marcado pela morte de Stepa J Groggs. O etéreo liga-se ao corpóreo e o rapper ressurge neste álbum. A tarefa hercúlea de tornar um álbum num álbum póstumo ficou nas mãos do, agora, duo. Os Injury Reserve, e Stepa Groggs, ficam eternizados, num virar de década marcado por dois lançamentos seus. Se ainda não apanharam é porque o espaço-tempo não sabe situá-lo.

– Vasco Completo



[MIKE] Disco! 

Quando se é visto como um protegido de Earl Sweatshirt, a fasquia em torno da arte feita por essa pessoa aumenta drasticamente. MIKE carrega esse imensurável peso há já alguns anos, mas tem dado uma óptima resposta ao se descolar daquilo que ex-Odd Future vai fazendo, no sentido em que os seus projectos podem muito bem ser interpretados como uma espécie de tratamento lo-fi à música no geral (da soul e do jazz ao trap e ao boom bap) e a sua performance vocal ultrapassa por completo a de um MC de contornos mais clássicos. Se weight of the world já tinha sido um dos nossos projectos favoritos de 2020, Disco! não falhou a missão de tirar uma “foto” àquilo que é o cunho personalizado de MIKE e traduzi-lo em música que, apesar de poeirenta, se insere no quadro global daquilo que temos em conta como sendo o movimento cultural do afro-futurismo.

– Gonçalo Oliveira



[Space Afrika] Honest Labour

Já a mixtape hybtwibt? era indício de um duo que não quer ignorar a importância da palavra na narrativa da música. Os Space Afrika continuam um percurso muito individual na exploração sónica da música electrónica e (“inner-city“) ambient. No entanto, Honest Labour desvia-se da produção para as pistas de dança mais melancólicas, e dirige-se a um formato de canção mais vincado, com muito trip hop, breakbeat, techno e algum downtempo a correr nas veias – haverá alguma coisa mais britânica que toda esta mistura?

Os samples falados, que ditam o tom chuvoso de Honest Labour, dialogam com os instrumentais, de maneira (pelo menos) análoga à de trabalhos de Burial, Croatian Amor ou Actress. Mas a voz, ao contrário do que acontece com os dois primeiros produtores, não tem medo de ocupar o papel principal (vemo-lo em “U”, “Girl Scout” e “B£E”). O processamento de sampling/field recordings tão presente nos instrumentais traz muita vida à cidade que este duo de Manchester construiu. Felizmente, ainda há muitas ruas escondidas por explorar – tanto em Honest Labour como no futuro de Space Afrika.

– Vasco Completo



[Boldy James & The Alchemist] Bo Jackson

Há 12 meses enfatizávamos o brilhante ano de The Alchemist, por duas grandes razões: Alfredo, um disco partilhado com Freddie Gibbs que mereceu uma nomeação para GRAMMY de melhor álbum de rap, e The Price Of Tea In China, um reencontro mais ambicioso com Boldy James que resultou numa parceria infalível. Prova dessa cumplicidade é a nova investida entre rapper e produtor em Bo Jackson, um trabalho menos visual — cinematográfico até — do que TPOTIC, mas mais assertivo e polido, com novas participações de luxo, a começar pelo há muito aguardado cruzamento entre Roc Marciano e Earl Sweatshirt. Ah, e a coisa não ficou por aí: a segunda parte de Bo Jackson, Super Tecmo Bo, chegou na última quinzena do ano — Alchemist bem nos avisou para não fecharmos as listas do ano antes do tempo.

– Paulo Pena



[Nala Sinephro] Space 1.8

A trupe londrina não pára de nos dar novos espaços sonoros, ou seja, novos sentidos para a vida, neste caso, através da linguagem jazz. Nala Sinephro gravou nos seus tenros 22 anos um disco que será certamente recordado como referência na componente mais ambient do género. E se este ano Floating Points gerou um mundo expansionista em colaboração com Pharoah Sanders e a Orquestra Sinfónica de Londres no álbum Promises, no álbum da instrumentista belga-caribenha, que favorece o uso da harpa com variados efeitos e overdubs, exploram-se as possibilidades da mente humana. 

Concluído em 2019 e lançado em 2021 — por adversidades sentidas pela pandemia a nível de expectativas de concertos e logística de lançamentos físicos atrasados, que afectam uma grande parte dos artistas, sobretudo à escala dos indies — Space 1.8 foi feito num período de recuperação de uma doença grave e reconhece-se neste registo a sua capacidade tónica no sentido medicinal. Destaca-se a colaboração de artistas como Nubya Garcia, James Mollison (de Ezra Collective) e Ahnansé, que reforçam o efeito meditativo do álbum e que marcam momentos altos em “Space 4” com a poesia em movimento da saxofonista e nos 18 minutos finais de “Space 8” mostram a leveza do ser. oito temas, oito espaços, enfim, oito possibilidades de nos reencontrarmos e recarregar baterias emocionais pela força do jazz.

– Rui Correia



[BADBADNOTGOOD] Talk Memory

Ao quinto álbum — o primeiro sem o membro fundador Matthew Tavares –, os BADBADNOTGOOD fizeram o seu projecto mais diferente — ainda que não haja uma correlação evidente entre ambos os acontecimentos. A banda canadiana não se virou para o experimental e para o inventivo, antes pelo contrário. Chester Hansen, Alexander Sowinski e Leland Whitty distanciaram-se da vertente hip hop que sempre os caracterizou para criarem Talk Memory, um álbum em que mergulham no jazz mais clássico.

Não é simplesmente uma tentativa de fazer um disco convencional e tradicional de jazz à moda antiga. Mas também não existe uma enorme reinvenção ou subversão das bases do género. Trata-se sobretudo de uma homenagem às grandes referências, e de uma variação no trabalho do grupo (até aqui mais pautado por uma noção de jazz moderno e mais propício a fusões).

Talk Memory não é, claramente, o melhor disco dos BadBadNotGood. Nem aquele que melhor representa a sua identidade e originalidade. Mas ainda assim é um álbum valoroso e elaborado, criado por excelentes músicos que sempre viram além do jazz, mas que nunca se tinham focado tanto nas suas raízes como agora. 

– Ricardo Farinha



[Cleo Sol] Mother

Mother foi um álbum discreto e subtil, mas nem por isso menos relevante e comovente. Cleo Sol, umas das vozes centrais dos Sault, apresenta-se novamente em voz própria, acompanhada por Inflo, agora abraçando a experiência da maternidade, na sua plenitude, através de melodias sublimes e luminosas, onde essa experiência adquire traços de introspeção, nostalgia, familiaridade e de muita esperança. É um disco de temas doces e abertos, mas que nem por isso deixam de falar de perda, frustração e responsabilidade. Um disco de canções de embalar ou de oração, de responsabilidade ou de bênção, mas sempre de coração aberto. E num tempo em que é difícil imaginar o futuro sem alguma sombra de pessimismo, este álbum é um tratado de luz e aconchego para abraçar aquelas e aqueles que agora chegam ao mundo, e para todas as pessoas que, delas e deles cuidando, estão também a cuidar do futuro. 

– João Mineiro



[SAULT] Nine 

No final da excelente crítica de João Mineiro a Nine (já lá iremos…), no espaço em que deveria constar o “embed” do álbum encontra-se a frase “sorry, this track or album is not available”, facto que rapidamente se confirma com um salto à página do grupo no Bandcamp ou ao seu perfil no Spotify. Quando o quinto álbum do misterioso grupo britânico saiu, sem anúncio prévio, aconselhámos por aqui: “vão ao site dos SAULT e façam o download de Nine — daqui a 99 dias vai ser a única maneira de ouvirem estas 10 faixas”. Dito e feito. Quem o fez guardou mais um precioso documento que nos pode ajudar a todos a compreender este tempo. E sublinhava Mineiro: “Os SAULT foram-nos revelando uma música esteticamente ancorada neste tempo, mas profundamente embebida nos trilhos da soul, do funk, da electrónica e do hip hop; nas melhores tradições da ideia do som enquanto espaço cénico, capaz de trabalhar o silêncio e a palavra, a imaginação e o discurso; na importância da voz e dos coros como elementos emocionais e de “partilha do sensível”; nas viagens da energia eléctrica, da repetição e do minimalismo. Ao mesmo tempo, e para além de tudo isto, cada álbum lançado revelava que, por detrás da música, havia razões profundas que davam sentido à sua existência. Uma intenção poética, política e emocional, a que música dá corpo, espessura e transcendência. Técnica, estética e ética, como entre nós dizia o saudoso José Mário Branco”.

– Rui Miguel Abreu



[Isaiah Rashad] The House Is Burning

Era um dos regressos mais ansiados — já desde 2016, ano em que Isaiah Rashad editou The Sun’s Tirade, o seu primeiro álbum oficial. Mas já nessa altura, depois de se ter afirmado em 2014 com Cilvia Demo, o rapper do Tennessee viu a sua carreira ameaçada por uma espiral depressiva, alimentada pelo alcoolismo e o consumo de estupefacientes — temas que, aliás, sempre pautaram a música do prodígio da Top Dawg Entertainment.

Depois desse tão aguardado álbum, Isaiah voltou a desaparecer dos radares, e, como revelou recentemente à Fader, a situação piorou ainda mais durante esse interregno. Ao longo de cinco anos, bateu no fundo, reergueu-se e, por fim, voltou ao de cima para renascer em The House Is Burning, um álbum irresistível — como só Rashad sabe — que começa nos picos da confiança e termina numa reconciliação sóbria. A exorcizar-se mas, finalmente, a aceitar-se: “you are now a human being”.

– Paulo Pena



[Wiki] Half God

À semelhança de Navy Blue, Wiki vagueia pelas esquinas de Nova Iorque a observar as ruas que o moldaram e a tentar descobrir-se por dentro. Não é, por isso, de admirar que ambos se entendam tão bem, pessoal e artisticamente. E prova disso é Half God, o terceiro álbum de Wiki, inteiramente produzido por Navy Blue. 

Ambos contemplativos, transparentes, self-conscious na sua arte, também à semelhança de Earl Sweatshirt ou MIKE, que entram no disco para falar de tudo o que precisam e daquilo que prometeram, respectivamente — todos fiéis a si próprios e donos das suas verdades. Como Wiki confessa do seu telhado: “That’s the only time I feel real, the times when I rap”. Juntos estão a cimentar um caminho inconfundível no rap norte-americano, um rasto cada vez mais digno de ser seguido, e que parte da insegurança para a certeza. E Half God é mais um passo e meio nessa direcção.

– Paulo Pena


https://open.spotify.com/album/7qE3WaOVAAIxgH8WtjbBBj?si=mej9HaHLQoCjKdF7D74X9A

[slowthai] TYRON

Se a estreia de slowthai o consagrou como uma das mais excitantes caras do hip hop das terras de Sua Majestade, a sua sequela mostra que não é “som” de pouca dura. TYRON é o nome desse projecto e slowthai apresenta-se em nome próprio para o seu disco mais intimista e conceptual até à data. Há uma dualidade inerente a este segundo álbum do rapper: por um lado temos uma primeira parte barulhenta e hercúlea, de peito cheio e olhar matador. Mas a segunda parte mostra-nos alguém mais vulnerável, uma sentida exploração da mente de Frampton e das suas engrenagens, através de temas empáticos e introspectivos, que convidam à reflexão. O conceito e execução de TYRON provam que slowthai é um rapper para as festas da vida e para as feras da mente, e vemos a existência humana transposta para versos sentidos e batidas bem produzidas.

– Miguel Santos



[Armand Hammer & The Alchemist] Haram 

“Com a ultra-cuidada marca de água de Alchemist impressa nos beats, a dupla Armand Hammer demonstra aqui ser justa parte da elite que nos subterrâneos da América hip hop tem vindo a cuidar da arte sem ligar aos parâmetros industriais que embora possam igualmente gerar obras de qualidade assinalável também tendem a normalizar um certo discurso que sabemos ser condizente com as mais populares playlists e tendências que ditam o tom do topo das tabelas de vendas. Aqui respira-se um ar diferente: arte pela arte, fracturas emocionais expostas sem adornos coloridos, sinais de uma América que não é complacente quando se cresce no lado ‘errado’ da cidade”.

Estas palavras (escritas, mais uma vez, por Rui Miguel Abreu) dão-nos uma visão geral daquilo que Haram é, sintetizando aquilo que mudou em relação aos já muito recomendáveis Rome (2017), Paraffin (2018) e Shrines (2020). A capa também reflecte algum radicalismo e a diligência com que a dupla necessita de passar as suas mensagens de acção, mesmo que nem sempre queira deixar tudo escarrapachado: no seu novo álbum, ELUCID e billy woods continuam a garantir que existem muitas camadas naquilo que fazem (e que, se ainda não tinham percebido, eles estão na categoria mais alta quando se fala de ligar o microfone e saber aliar pertinência no que se escreve à agilidade com que atacam as barras). 

– Alexandre Ribeiro



[Baby Keem] The Melodic Blue 

Quatro anos depois de DAMN., The Melodic Blue oferece-nos a possibilidade de espreitarmos as blueprints que levaram Kendrick Lamar ao seu último álbum. Hoje com 21 anos, Baby Keem é aquele primo mais novo e talentoso que o astro de Compton fez questão de manter resguardado das luzes da ribalta, ao mesmo tempo que o ajudava a aperfeiçoar a sua arte, o inseria na sua prestigiada rede de contactos e aproveitava também para se inspirar no turbilhão criativo que é o jovem rapper.

É nesse talento em estado bruto que assenta o sucessor de DIE FOR MY BITCH, o primeiro disco de sempre editado pela misteriosa pgLang. Em The Melodic Blue, Keem parece não estar propriamente preocupado com resultados mas sim na forma como os pode eventualmente alcançar. Sem que deixe de ter aquele sabor a “produto acabado”, os 16 temas do LP gozam de elevados níveis de liberdade artística, começando pela escolha dos instrumentais — muitos deles, à partida, impróprios para a prática do MCing — e acabando na forma como neles assentam ideias de versos, ganchos, ad-libs e refrões tão naturalmente singulares e sedutores.

– Gonçalo Oliveira 



[Black Country, New Road] For the first time 

Vive-se uma bonança criativa por estes dias e Londres mantém-se como um dos grandes centros agregadores onde os choques culturais acontecem dando-se a descoberta de novas fórmulas estéticas. A beleza de Black Country, New Road está na confluência de emoções dos sete membros que formam a jovem banda londrina e na comunhão que daí resulta. Numa análise superficial há várias referências musicais – riffs ao estilo Slint, letras profundamente melancólicas, agonizantes até, quando acompanhadas pelo saxofone a fazer lembrar por vezes Morphine – que colam os BC,NR ao designado experimentalismo rock. Contudo há muitas camadas que compõem o som do grupo e não seria surpresa vê-los numa noite Notas Azuis por essas mesmas razões enumeradas anteriormente, aliado ao facto de criarem temas que nascem de improvisação transportando consigo a experiência de libertação jazz para explorar sensações. As composições no álbum de estreia For the first time são longas, incorruptíveis e muitas vezes indefinidas. São um constante desfolhar da descoberta humana em tenra idade. A música feita por um grupo de adolescentes a despontar para a vida adulta continua a ser das coisas mais arrebatadoras de se ouvir.

– Rui Correia



[James Blake] Friends That Break Your Heart

Friends That Break Your Heart é mais uma das peças do espaço sonoro, íntimo e eclético em que James Blake vem investindo. Um espaço que, cruzando a abordagem eletrónica à pop, a vem desafiando, através de discos conceptuais onde a experimentação sonora procura traduzir diferentes estados emocionais, que se fazem matéria de trabalho e reflexão artística. Depois da ressaca da pandemia, neste novo trabalho o músico londrino fala-nos da dor da perda da amizade, das suas relações e da sua relevância artística, oferendo-nos um conjunto de temas de enorme sensibilidade, dos quais se destacam “Life Is Not The Same”, “As What You Will” ou “Funeral”. Por vezes mais virado à pop, e apesar do leque diverso de convidados, a sua identidade ressoa em todos os momentos do disco, que acrescenta mais um capítulo a uma discografia de grande delicadeza e inventividade. 

– João Mineiro



[Billie Eilish] Happier Than Ever

Este programa é capaz de ferir a susceptibilidade dos mais sensíveis. Em 2018, Billie Eilish seria o programa; em 2021, é a espectadora. Já está calejada, sobreaquecida, em reprogramação; o aviso é redundante. É que a fama petrifica, mesmo quando se é 98% titânio e madeixas verdes. Daí que Tom Breihan, jornalista da Stereogum, possa falar numa obra “shellshocked”: pop em estado de choque, em vez de o causar. Mais bizarro é Breihan chamá-lo aborrecido.

O terror sorridente de When We All Fall Asleep, Where Do We Go? é agora o suspense psicológico de Happier Than Ever. O êxito voltou a ser grande, mais moderado, sem tremer meridianos e paralelos. Há quem diga que isso foi um plano propositado, orquestrado no sentido literal da coisa: abrir um disco com “Getting Older”, prazer triste a conta-gotas, não rejeita a teoria. Guardar o explosivo da faixa-título durante meses — e vê-lo tornar-se o maior hit do disco — é de sangue frio. E o statement que é entregar um “Your Power” — balada cristalina, à luz da vela, vela que acusa e expõe — onde se esperava um “bad guy” saltitão?

Este programa é capaz de ferir a susceptibilidade dos mais desencantados com a vida. Happier Than Ever é Eilish a rebentar a bolha do privilégio, a crescer e a encontrar os átomos mais básicos de dor e prazer. A matriz de electrónica dócil é uma armadilha. O alçapão – é ela, haveria sempre um – empurra-nos contra despojos de distorção e bossa nova, coros e paranóia, Trent Reznor e Aaliyah, berros e catarse, pornografia e remorsos. Ainda dizem que os artistas felizes são uma seca.

– Pedro João Santos



[Topaz Jones] Don’t Go Tellin’ Your Momma 

Topaz Jones regressou em 2021 aos discos com Don’t Go Tellin’ Your Momma — trabalho que chegou acompanhado de um filme que foi premiado em vários festivais de cinema. Filho de uma activista-académica e de um guitarrista de funk, a sua música sempre reflectiu as suas experiências, mas englobadas numa perspectiva mais abrangente. 

Neste novo álbum, Topaz Jones recorda histórias da sua infância e juventude. Mas também aborda — e reflecte sobre – a cultura afro-americana, para a qual está super consciente, e que celebra através de uma série de canções hip hop embaladas em ritmos e texturas funk. 

Se grande parte do público em geral, mesmo aquele mais ligado ao hip hop, o conhecia pelo tema “Tropicana”, este Don’t Go Tellin’ Your Momma é um disco sólido que pode servir muito bem para apresentar a qualidade de Topaz Jones a um maior universo de ouvintes, que o possa conhecer melhor e absorver as suas várias (e enriquecedoras) facetas e dimensões.

– Ricardo Farinha



[Sons Of Kemet] Black To The Future

No passado mês de Novembro, confirmámos em Amesterdão, onde os Sons of Kemet se apresentaram no âmbito do Super-Sonic Jazz Festival, que o programa de Black To The Future ganha vibração ainda mais intensa quando é experienciado em directo, sem filtros: “O concerto que os Sons of Kemet apresentaram no Paradiso, chamando pontualmente a palco essa voz da negritude combativa que é Joshua Idehen, verdadeiro grito de liberdade solto num local que foi também (como de resto o nosso país…) foco de histórica opressão, tem algo de poética justiça, de vital redenção. Há fúria na apresentação do grupo, que também não professa uma palavra para lá das que existem na poesia de Idehen, mas que deixa uma clara mensagem bem entregue ao tal público etnicamente diverso que, certamente, terá igualmente sentido de forma diversa aquela avalanche de gritos professados através do ritmo e também do absolutamente brilhante saxofone de Shabaka e da funda e telúrica tuba de Theon”. Na crítica a Black To The Future já se pressentia que esta é música com uma missão clara: “É de força colectiva que se faz este Black To The Future, um trabalho que pode nascer no jazz mas que tem na sua mais profunda fórmula muitas outras ideias, da música clássica a múltiplos ritmos urbanos, das ilhas das Caraíbas ao amplo espaço do espírito. Há um mundo que precisa de ser mudado e a música pode e deve ser uma ferramenta dessa transformação”. Nada mais importante. A mudança é, afinal de contas, inevitável.

– Rui Miguel Abreu



[Dave] We’re All Alone In This Together 

Cativante e angustiante, este é definitivamente um álbum daquele tipo de hip hop que nunca servirá para fazer de “música ambiente” ou para qualquer forma de escapismo hedonista à dureza da realidade. Apesar dos momentos de ligeiro alívio da tensão, como em “System” ou “Lazarus”, este é um álbum em que Dave nos volta a dar uma chapada de realidade: a do próprio autor, hiperconsciente e problematizador do seu percurso, mas sobretudo da realidade dos subúrbios londrinos que o rapper retrata com uma destreza e uma emoção que nos agarram de início ao fim. É como se entrássemos num filme que faz um relato nu e cru daquilo que significa, na vida quotidiana dos subúrbios londrinos, a ação do governo, a política de imigração, a reprodução das desigualdades, a tragédia da pobreza, a violência do racismo, mas também a luta e a resistência a que o músico sempre quis dar voz. Tratando temas como a depressão e a descrença, podia dizer-se que é um murro no estômago de tom pessimista. Mas quem rima com a força e a emoção de Dave, nunca poderia fazer um álbum derrotista. A realidade é demasiado dura para não ser derrotada. 

– João Mineiro

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