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Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 27/03/2023

Atenção focada no que é "nosso".

Metamito no Village Underground Lisboa: histórias e fábulas psicadélicas que satisfazem o coração

Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 27/03/2023

… E enquanto os The Comet is Coming faziam “faísca” no Lisboa ao Vivo, do outro lado de Lisboa, nesta passada sexta-feira (24 de Março), outras coisas aconteciam. “Onde?”, perguntam vocês. No Village Underground. “E o que são essas “outras coisas” a acontecer?”, lançam também para o ar? Não “são só coisas”, como outrora cantavam os Ornatos Violeta, mas utilizemos a boa palavra para mais revelar sobre a fábula de Metamito que testemunhamos.

Apresentemos, portanto, os intervenientes desta efemeridade. A abrir, como primeira interveniente, temos perante nós A Sul, nome artístico com que canta, produz e compõe Cláudia Sul e que se estreou em 2022 com o curta-duração, Já Agora, uma coleção de canções de raiz “folk imaginativa que se funde com uma dream pop tímida que é elevada pela voz angelical da cantora e compositora.” – descrição minuciosa e certeira sobre as cantigas da artista lisboeta assinada no (saudoso) Espalha-Factos pela Kenia Nunes.

De guitarra clássica em punho e em vibe puramente intimista, o set de A Sul deslizou praticamente por versões despidas das canções de Já Agora, com o adorno extra de uma cover (surpreendentemente boa) de “Heart of Glass” dos Blondie em formato stripped-down. Da restante serenata, ficam as seguintes notas: “Canção do Outro” ganha tons mais emocionais só com acústica e voz – isto de cantar sobre amores e desamores em formato folk tem muito que se lhe diga! -, “Já Agora” e “Bleba” ganham coros fofitos do público, “Tulipas e Papoilas” perde as dinâmicas sonoras de estúdio (muito trip hop meets Billie Eilish) para recuperá-las com o sentimento da bonita voz de Cláudia, e “Caminho E Meio” concluiu os procedimentos com carinho mais do que digno de uma artista que, se a deixarmos entrar na nossa vida, tem tudo para nos aquecer a alma e conquistar o coração. Da nossa parte, por enquanto, auferimos: já estamos encantados…

Mas falemos agora do prato principal da noite: Metamito. Que é como quem diz, António Miguel Serra, multi-instrumentista e produtor da zona de Sintra, que em janeiro editou o seu disco homónimo de estreia – por estas páginas, Metamito serviu como ímpeto para uma conversa sobre o universo envolvente do projeto, entre outros temas.

Não foi a primeira vez que tivemos a possibilidade de ver Metamito ao vivo. Em 2022, vimo-lo a tocar no último dia do Super Bock Super Rock, um concerto onde este nos conquistou e, até podemos dizer, nos surpreendeu. Agora, volvidos uns quantos meses (uns 8), e sabendo ao que íamos, encontramos um Metamito mais confiante e relaxado, sem a necessidade de pedir desculpas humorísticas a tradicionalistas por possíveis crimes (como criar um loop de guitarra portuguesa com a ajuda da boca – conservadores, fiquem com muito medo!) contra o fado.

A confiança extra que escutamos em Metamito – independentemente de atrasos e problemas técnicos que encontramos ao longo desse serão noturno no Village Underground – fez-se sentir ao longo do concerto. Perante uma plateia que, se não era gigante em números, era gigante no carinho que oferecia ao artista (vimos vários amigos do artista na plateia), Metamito deslizou por praticamente todas as canções de Metamito, com o raro – mas bem-vindo – aperitivo em forma de canções antigas do seu repertório, como “Cura” (emotiva) ou “Pandora” (continua super dançável esta sua tentativa de fazer uma canção dita “pop”). Como recheio do espetáculo, e por entre loops, loopzinhos e loopzões psicadélicos e oníricos, cantigas como “Soro de Verdade” – em formato de maior extensão –, “Transmutação” – digna para estes primeiros dias de primavera -, “Oração Sem Sujeito” – com ambiência espiritual criada com a ajuda de uma máquina de fumo – e a versão reduzida ao essencial de “Penso Demais” foram-nos conquistando, traçando “O Caminho” deste ritual, sonho, fábula – o que lhe queiram chamar – cujo destino é um one-man show que recomendamos seriamente irem ver se tiverem a oportunidade. No final, vão sair rejuvenescidos, e no processo ainda apoiam artistas emergentes e a música independente dita “portuguesa”. E que bom é juntar o útil ao agradável, não é? Alma purificada, coração satisfeito. Como deve ser. Bem-haja.


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