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Texto: ReB Team
Fotografia: Tiago Cerveira
Publicado a: 13/01/2025

Uma orquestra de samples em discurso directo.

Ligados às Máquinas: “Todos os elementos participam no processo de criação musical. É participativo em todas as fases”

Texto: ReB Team
Fotografia: Tiago Cerveira
Publicado a: 13/01/2025

O projecto Ligados às Máquinas — que é descrito como, muito provavelmente, a primeira orquestra de samples composta por músicos em cadeiras de rodas do mundo — lançou um álbum de estreia, Amor Dimensional, no passado mês de Dezembro.

Trata-se de uma edição da Omnichord Records que parte deste projecto nascido há uma década no seio da Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra. Os Ligados Às Máquinas são Andreia Matos, Dora Martins, Fátima Pinho, Hélia Maia, Jorge Arromba, José Morgado, Luís Capela, Mariana Brás, Paulo Jacob, Pedro Falcão e Sérgio Felício.

O processo criativo destaca-se pelo uso, adaptação e criação de soluções de hardware e software que permitam a estes artistas, com alterações neuromotoras, terem controlo e autonomia para poderem disparar samples em tempo real.

O resultado é uma composição musical colectiva e inédita. Em 2023, fruto de uma residência no Festival Nascentes e já com o envolvimento da Omnichord Records, os Ligados às Máquinas tiveram acesso a excertos musicais de compositores nacionais que cederam amostras da sua obra, fossem instrumentos ou as suas vozes.

Entre os que aceitaram o convite estão nomes como Ana Deus, Bruno Pernadas, Cabrita, Carincur, Catarina Peixinho, Coro Ninfas do Lis, Dada Garbeck, Filipe Rocha, First Breath After Coma, Gala Drop, Gui Garrido, Joana Gama, Joana Guerra, João Doce, João Maneta, João Pedro Fonseca, José Valente, Lavoisier, Mano a Mano, Moullinex, Nuno Rancho, Orquestra e Coro da Gulbenkian, Pedro Marques, Retimbrar, Ricardo Martins, Rita Braga, Rita Redshoes, Salvador Sobral, Samuel Martins Coelho, Samuel Úria, Selma Uamusse, Senhor Vulcão, Surma e Vasco Silva.

Este arquivo sonoro permitiu aos músicos dos Ligados às Máquinas orquestrar composições com base nestes samples. Este processo culminou numa fusão de géneros musicais, que vai do hip hop ao fado, do rock ao techno, dos blues às músicas do mundo. 

Ao todo, são nove temas originais que representam um dia na vida de cada um: “do amanhecer ao acordar, da procrastinação à tensão, da obrigatoriedade à liberdade de escolha limitada, da melancolia confortável à refeição aconchegante até ao merecido descanso (enriquecido pela possibilidade de sonhar)”, descreve o comunicado de imprensa.

Para assinalar o lançamento do álbum, o Rimas e Batidas voltou a desafiar os músicos que colaboraram com este projecto — desta vez, não para enviarem samples, mas sim perguntas aos artistas dos Ligados às Máquinas que usaram excertos das suas obras para orquestrar as suas próprias composições. Cabrita, Joana Gama, Joana Guerra, João Doce e Lavoisier foram os músicos que tiveram as suas perguntas respondidas pelos Ligados às Máquinas. Este foi o resultado.



[João Doce]

O facto de terem a participação de músicos consagrados/com experiência foi uma mais-valia ou causou alguma inibição na construção dos temas?

[Ligados às Máquinas (LAM)] Foi, acima de tudo, uma mais-valia pois expôs-nos à música desses artistas (alguns não conhecíamos!) e foi um desafio que “abraçámos” com bastante orgulho.

Na vossa óptica, o que será mais importante: o processo (o modo como vocês conseguem tocar/produzir música) ou o resultado/produto final (a música produzida e que chega ao público)?

[LAM] Na nossa opinião geral, ambas são importantes, pois é através do processo criativo e de ensaios que evoluímos enquanto grupo, o que ajuda a que as nossas performances em palco sejam cada vez melhores e até nos tenha dado a possibilidade de gravar este fantástico disco.

Quais são os desejos, ambições e expectativas dos Ligados às Máquinas para a sua carreira artística?

[LAM] Aquilo que esperamos, com esta experiência partilhada com outros artistas, é que haja mais espectáculos, mais desafios artísticos e experiências com outros músicos!

[Joana Gama]

Desde que começou este projecto, qual foi o momento mais feliz?

[LAM] Para dois dos elementos, o momento da gravação do disco foi o mais feliz; outros dois elementos referem os primeiros concertos realizados pelo grupo; outro refere uma parceria que o grupo teve com o curso profissional de Jazz do Conservatório de Coimbra e outro elemento refere ainda o espectáculo realizado no âmbito do Festival Nascentes 2023.

Quando não têm ensaios, sentem falta de estar e fazer música com as outras pessoas?

[LAM] Sim, porque sentimos sempre a necessidade de fazer música e de esta nos transportar para outras “dimensões”, ajudando a suportar a vida de uma outra forma, mais positiva.

[Joana Guerra]

O que sentiram quando ouviram, pela primeira vez, o disco já finalizado?

[LAM] Acima de tudo, muito orgulho, alegria e satisfação.

Depois de reunidos os samples, como é o processo de composição e criação dos temas?

[LAM] Todos os elementos participam no processo de criação musical. Experimentamos ouvir um determinado som e, quase sempre, há alguém que o associa a outro sample que já foi ouvido. É um processo cumulativo e participativo em todas as fases.

[Cabrita]

Como foi o processo de selecção dos samples? Mandei-vos pistas inteiras. Foi difícil escolher e cortar?

[LAM] Em primeiro lugar, ouvimos TODA a matéria sonora que os convidados nos enviaram. Isto exigiu de nós algumas dezenas de horas só para a audição. Para a selecção das amostras, fomos escolhendo à medida que íamos ouvindo (alguns samples foram mais evidentes na primeira escuta, outros só apareceram mais tarde). Relativamente às tuas pistas, não foi difícil escolher as amostras pois as tuas gravações eram compostas, na sua maior parte, por frases melódicas, o que ajudou no processo de selecção. 

Sei que o disco é uma performance live. Quanto tempo houve de ensaios antes do estúdio?

[LAM] Para o disco Amor Dimensional, tivemos duas semanas de preparação para a gravação.

Ao vivo vão ter convidados? Ou é só a banda?

[LAM] Para já, contamos só com a banda mas, num futuro muito próximo, equacionamos ter convidados (não nos vamos esquecer de ti, Cabrita!).

[Lavoisier]

Qual a memória mais remota que têm com uma experiência musical, e que impacto terá criado esse momento na vossa vida?

[Fátima Pinho] A memória mais remota que tenho sobre uma experiência musical é o tempo em que vivia em Angola, onde ia com os meus pais aos bailes. Essa experiência acabou por ser muito marcante na minha vida e foi através dela que estreitei a minha relação com a música. 

[Sérgio Felício] Tenho como primeiras memórias musicais as festas de Natal da escola.

[José Morgado] As sessões de música na escola.

[Andreia Matos] Lembro-me da Ana Faria como primeira memória musical.

[Hélia Maia e Mariana Brás] As primeiras recordações musicais que tenho levam-me às sessões de música que tinha no centro de reabilitação.

Se no próximo álbum tivessem a oportunidade de colaborar com artistas de todo o mundo, quem é que gostariam de convidar?

[LAM] Gostaríamos de trabalhar com Nena, Lena D’Água, Chris Martin (Coldplay); André Rieu; Shakira; Metallica; Jonny Greenwood (Radiohead); Paul McCartney; Tom Waits; U2; entre outros…


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