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Publicado a: 17/02/2018

K.Otic: “Não gosto de ouvir um álbum e sentir que nada daquilo tem continuidade”

Publicado a: 17/02/2018

[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTO] Bernardo Weidenfeller Mendes [ARTWORK] Rafael Diogo

Instrução Mental Vol.1 é o trabalho de estreia de K.Otic. Composta por 20 instrumentais, a beat tape sai com o selo da Cash Rules, editora que fundou com o rapper Silva G.

Alexandre Diogo, natural da Ericeira, começou o seu percurso musical a tocar bateria numa banda, mas tudo mudou quando se apercebeu das infinitas possibilidades que a MPC, mais concretamente a MPC Touch, lhe dava.

Se uma primeira audição não o confirmasse, K.Otic contou, em conversa com o Rimas e Batidas, que é influenciado por nomes como J Dilla, Sam The Kid — o seu primeiro disco de hip hop foi o Pratica(mente) –, Madlib, Wu-Tang Clan ou Public Enemy.

Com boom bap a correr-lhe nas veias, o produtor também revelou que gostaria de trabalhar com nomes portugueses das mais variadas gerações, colocando Slow J, Praso, Blasph, Dillaz, Mundo Segundo, Chullage ou Estraca no topo das preferências.

Com apenas 20 anos, o beatmaker já lançou dois singles — “Dá-me Lume” e “Old School” — e junta-lhe agora uma prometedora compilação de instrumentais. Um nome a não perder de vista.

 



[O INÍCIO]

“Venho da Ericeira e foi na escola básica, com cerca de 11 anos, que tive o primeiro contacto com a música. Costumava ficar na sala de música a tocar depois das aulas com 3 amigos, que acabaram por formar uma banda comigo — eu tocava bateria. Andámos no activo cerca de 6 anos, demos uns concertos por aí e tínhamos já vários originais compostos, mas as coisas não resultaram e decidimos que era melhor se cada um seguisse o seu caminho.”

 

[A CHEGADA AO UNIVERSO HIP HOP]

“Antes de começar a produzir, tinha muito a ideia que música a sério tinha de ser tocada com instrumentos, talvez devido às minhas influências na altura, que eram maioritariamente bandas como os Pink Floyd ou os Beatles. Mas, com o passar do tempo, fui expandindo os meus gostos, passando pelo jazz, soul e, por sua vez, o hip hop, quando a minha tia me ofereceu o CD do Pratica(mente), do Sam The Kid. Como tinha um amigo que já rimava há algum tempo — o Silva G –, fomos trocando ideias de músicas e projectos e foi uma questão de tempo até começarmos a trabalhar juntos e formarmos a Cash Rules.”

 

[TRAP, J DILLA E SAM THE KID]

 “Sem dúvida que J Dilla e Sam The Kid foram nomes-base para este projecto. Tanto o Donuts do Dilla como o Beats Vol. 1 do Sam foram projectos que me marcaram bastante e definiram de certa forma o meu som. Aquilo que considero mais importante para fazer música são as influências, faço a minha pesquisa até aos primórdios do hip hop porque acho que não podes (ou pelo menos não deves) fazer parte de um movimento sem o conheceres, e é por isso que tento não esquecer os clássicos e tudo o que eles fizeram para pavimentar o caminho para os artistas de hoje em dia. E acho que o que se está a perder hoje em dia, em estilos como o trap, é precisamente isso. Claro que não falo de toda a gente que o faz, mas é o que sinto na maioria desses artistas. Tirando o Dilla e o Sam, entre as minhas principais referências estão Gang Starr, Wu-Tang Clan, Madlib, Allen Halloween, Public Enemy, Valete, Dealema…”

 

[A CAÇA AO SAMPLE]

“Faço o meu digging online, mais concretamente em sites e plataformas de música como o Spotify e o YouTube. Não porque me preocupo menos com o vinil (aliás até sou grande fã do formato), mas por uma questão prática. Numa altura em que temos tudo à nossa frente e à distância de um clique, estar a samplar do vinil não ia ser fácil nem barato. Para além disso, tudo o que encontras no vinil mais escondido na loja de discos mais discreta também encontras na Internet, se calhar mais facilmente, desde que faças bem a tua pesquisa.”

 

[O CONCEITO DE INSTRUÇÃO MENTAL VOL.1]

“À medida que fui acabando os instrumentais comecei a juntar tudo e fui desenvolvendo naturalmente este conceito. Claro que, depois de imaginar tudo na minha cabeça, comecei a montar peça-a-peça, já com o produto final em mente, e tive de ir remexer nos instrumentais mais antigos para os enquadrar mais com o projecto. Gosto de dar sempre algum seguimento aos meus projectos, uma linha a seguir. Não gosto de ouvir um álbum (ou qualquer tipo de disco) e sentir que nada daquilo tem continuidade. Gosto que conte uma história ou algo parecido.”

 

[AS COLABORAÇÕES COM MCS]

“Tenho 2 singles cá fora e mais alguns para sair ainda este ano com o Silva G. Estamos a trabalhar num álbum que esperamos ter pronto no final deste ano ou início do próximo e neste momento é essa a nossa prioridade. Depois disso, claro que gostaria de trabalhar com mais MCs, mas não considero isso necessariamente um objectivo profissional, seria mais uma conquista pessoal, pois existem muitos rappers e artistas portugueses que admiro. Enumerando alguns: Slow J, Blasph, Dillaz, Phoenix RDC, Mundo Segundo, Praso, Keso, Chullage, Estraca…”

 

[A MÁQUINA DA CRIATIVIDADE]

“Produzo apenas em MPC. Para alguém que queira samplar como principal base criativa, não há como negar que esta máquina é o sonho de qualquer um. Fazes tudo dentro desta caixinha. Vários álbuns históricos que ainda hoje são relevantes foram produzidos integralmente em MPC, ou samplers do género. No meu caso, uso a MPC Touch. Comprei há cerca de 2 anos, quando saiu, e até agora não me arrependo de ter escolhido esta.”

 

[CASH RULES E O FUTURO]

“Basicamente, a editora tem como objectivo lançar artistas (por enquanto somos apenas os 2 que já falei) para o mundo da música, oferecendo-lhes os meios que normalmente são mais difíceis de chegar para artistas no início, como a divulgação, gravação, pós-produção, etc. Por enquanto, é um projecto em desenvolvimento, mas temos grandes planos. Para além do álbum e dos singles que já referi em cima, tenho em mente lançar mais uns projectos instrumentais, mas vou esperar para ver o feedback do pessoal a esta beat tape e depois logo estudo melhor a coisa. Não está nada agendado. Estamos a fazer uma espécie de reconhecimento da área, sem grandes pressas nem promessas. Vamos fazendo as coisas com calma e com tempo e vamos vendo no que dá.”

 


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