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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 01/10/2020

A visão de fora do que se passa cá dentro.

Jeremy Klemin: “Fiquei interessado na cena do Norte quando ouvi o ‘Cara de Chewbacca’ pela primeira vez”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 01/10/2020

Esta semana arrancou com um miminho por parte do Bandcamp Daily: “Meet The New Voices of the Exuberant Hip-Hop Scene in Northern Portugal” foi a peça que Jeremy Klemin assinou para a publicação norte-americana e que destaca a música feita por artistas como zé menos, Chico da Tina, David Bruno, Pibxis, Keso e PZ.

Esta não é a primeira vez que o jornalista americano mostra o hip hop cantado em português a um público estrangeiro. Há um ano, Jeremy criou uma lista de “10 Portuguese Rappers You Need to Know” para a Highsnobiety, dando exemplos de nomes consensuais como Sam The Kid, Allen Halloween ou Slow J mas focando também outros não tão óbvios mas não menos importantes, como Nenny ou Mynda’Guevara.

Desta vez, Jeremy Klemin dedicou-se a um circuito mais específico, curiosamente aquele que lhe fez despertar o interesse pelo rap nacional, durante uma temporada de pouco mais de um ano em que viveu no nosso país. Desde o clássico “Cara de Chewbacca“, de PZ e dB, o hip hop criado a Norte de Portugal tem tido um cantinho especial na dieta musical do jovem jornalista, que em conversa com o ReB explicou a ligação ao nosso país, elogiou a nossa cultura e deixou ainda um pedido a Trafulha: “se estiveres a ler isto, faz mais música!”


Meet The New Voices of the Exuberant Hip-Hop Scene in Northern Portugal

SCENE REPORT Meet The New Voices of the Exuberant Hip-Hop Scene in Northern Portugal By Jeremy Klemin · September 28, 2020 Though the precise birthplace of Portuguese hip-hop is hotly debated-some say it was born along the Linha de Sintra, others point to the Chelas neighborhood, not far from the city’s airport-there’s no question that Lisbon dominated the genre’s early days.


O português não é a tua língua materna mas esta não é a primeira vez que tu escreves sobre hip hop tuga. Como é que te entrosaste com esta nossa cultura musical?

Eu vivi durante 14 meses em Portugal, entre 2016 e 2017, a trabalhar enquanto freelancer. O meu avô nasceu em Portugal e eu sempre quis aprender português e viver no país. Assim que comecei a desenvolver um conhecimento da língua, comecei a ouvir a sua música também — rappers como Allen Halloween, Sam The Kid, etc. O meu interesse na cena foi crescendo à medida que eu me tornava mais fluente na língua e eu acho que, eventualmente, os dois se tornaram inseparáveis. Independentemente de qualquer ligação pessoal com a música, no entanto, sempre achei que o hip hop vindo de Portugal era realmente bom e distinto do hip hop em inglês. Um dos dons e maldições de vir de um país com uma cultura musical tão rica (os Estados Unidos da América) é que a maioria de nós somos desinteressados pela música estrangeira ou incapazes de a apreciar devido a sermos monolingue.

Há um ano enumeraste a tua própria lista de “10 Portuguese Rappers You Need To Know”, para a Highsnobiety. O que te levou a abordar a área geográfica mais a norte do nosso país desta vez?

Logo após a publicação sair, senti que estava muito centrada em Lisboa, algo de que me arrependi. Eu quis ser coerente na escolha de rappers, o que significou ter de deixar de fora artistas que não cabiam totalmente na história que eu queria contar.

Fiquei interessado na cena do Norte quando ouvi o “Cara de Chewbacca”, do PZ e do dB, pela primeira vez, não muito tempo depois de ter chegado a Portugal, e lembro-me de ter ficado logo pasmado com isso. Eu tive a ideia de escrever sobre a cena rap alternativa do país (rappers que estejam mais afastados da estética boom bap convencional), mas só me apercebi que a peça seria focada no Norte quando um amigo me enviou a música do Chico da Tina.

Este artigo é uma peça isolada ou faz parte de alguma série? Tencionas continuar a explorar as sonoridades de outras regiões de Portugal?

Adorava continuar a escrever sobre rap tuga para o público em inglês, preferencialmente peças/entrevistas com artistas ou grupos específicos. Acho que é o mínimo que posso fazer para promover uma cena musical e cultura pelas quais tenho carinho.

Quanto a outras sonoridades portuguesas, estou a meio do processo de encontrar algumas ideias acerca de géneros e artistas dentro da música tradicional portuguesa (que não o fado) com os quais o público fluente em inglês não esteja familiarizado. Há muita música portuguesa antiga que eu acho completamente hilariante. Quem visita o país casualmente tem tendência a focar-se no doom and gloom, como dizemos em inglês — a melancolia da saudade, etc. — mas a cultura portuguesa está repleta de muito mais humor do que aquilo que as pessoas podem imaginar. Tenho esperança de conseguir comunicar isto com uma audiência que fale o inglês.

Agora falando da música portuguesa no geral, quais são os artistas que mais tens admirado recentemente? E porquê?

Vamos ver… Tenho estado com o System, do ProfJam e benji price, em repeat ultimamente. Tudo no álbum é fantástico, mas o wordplay e o esquema de rimas deles é muito desafiante para mim, como aprendiz perpétuo da língua. Uma das coisas de ouvir música numa língua na qual não somos nativos é que nos apercebemos rapidamente de quando é que um artista está a fazer coisas menos convencionais com a língua em si. Talvez vocês sintam isso também ao ouvir hip hop em inglês.

Mais pelo lado da produção, digo eu, tenho também gostado muito de ouvir o Autosimbiose da Trafulha. Tem apenas 10 minutos de duração, mas tudo aquilo é muito hipnotizante. Trafulha, se estiveres a ler isto, faz mais música!

E há o Raiashopping do David Bruno. Eu amo o trabalho dele no geral, mas este álbum é especialmente relevante para algumas das ideias que eu queria explorar nessa peça para o Bandcamp.


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