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Fotografia: Mike Blanko
Publicado a: 05/12/2024

O primeiro álbum do rapper e produtor.

holympo sobre 88: “Tudo o que lá está dito é honesto. Estava genuinamente com medo de lançar muitas das músicas”

Fotografia: Mike Blanko
Publicado a: 05/12/2024

Depois dos EPs Arritmia (2019), Natividade (2020) e Havarya (2022), o rapper e produtor holympo chegou ao primeiro álbum da sua história. 88 foi editado a 29 de Novembro e é um trabalho que conta com contributos importantes de Bella Saint, HeartLess, Nedved e da equipa da editora Detox Music, Mike Blanko e Nina Sixx.

Num disco vulnerável pautado por uma evidente honestidade, Diogo Dias reflecte sobre os últimos quatro anos da sua vida, navegando por dúvidas e certezas, amor e luto, desejos e desilusões, tudo envolto em instrumentais trap e melodias cativantes pensadas ao pormenor.

Aos 26 anos, holympo afirma-se como artista mas também como produtor foi ele um dos grandes responsáveis pelo recém-lançado novo disco de Agir, o EP IMPERFEITO V2, orquestrado no mesmo estúdio da Detox Music. Em entrevista, o artista fala sobre o seu primeiro álbum, o processo criativo e o raciocínio por trás do disco, o trabalho com Agir e o futuro que o espera.



Como é que nasce este projecto? Foi muito pensado à partida? Ou, naturalmente, foste fazendo músicas e acabaste por juntar várias e perceberes que tinhas um conceito e um álbum?

Acaba por ser o resultado de um processo que já vem de há dois anos para cá. Basicamente, eu já tinha pensado fazer o álbum. Já tinha o nome 88, anunciei-o até na “Speed Freestyle”. Só que acabei por fazer uma pausa estratégica depois do single que veio a seguir, a “Mariposa”. Estava a tentar encontrar realmente qual seria a estética musical. Sempre quis fazer um álbum, mas não queria, de todo, que o meu primeiro álbum soasse prematuro. Então tive de dar um passo atrás para dar dois para a frente, para conseguir encontrar aquilo que eu estava realmente à procura. Durante os nove meses em que estive parado, que foi um processo de fazer sons sem compromisso, que era algo que já me faltava, combinámos em conjunto, com a Detox Music com o Mike, a Nina e a Bella Saint , dar aquele passo atrás, ver o que saía, descobrir-me esteticamente, e isso culminou no processo outra vez de lançar sons. Veio a “Taking Over”, a “Honesto (Faroeste)” e por aí adiante. Esse passo foi importante para que o álbum saísse coeso. O objectivo era ser real, que era algo que eu sentia que estava a faltar… Enquanto artista, acho que a malta romantiza imenso a música, que as coisas saem à primeira e correm bem, e que é fácil falar sobre aquilo que estamos a sentir, mas a verdade é que a exposição é uma parte muito sensível de se ser artista. Que eu não estava pré-disposto a fazer. Por isso é que, por exemplo, na “Taking Over”, disse muita verdade sobre mim e custou-me. Foi um processo. O conceito foi tentar manter tudo real e fazer acontecer.

E quando dizes “real”, estás a referir-te a honestidade em relação a ti próprio, em relação ao que estavas a sentir e que querias expressar?

Sim, até porque uso a palavra “honesto” várias vezes durante o álbum. As palavras que mais repito todas explicam o significado do álbum. Mesmo quando montei o alinhamento, pensámos em manter a história real porque aquilo tem tudo uma história, a primeira faixa conta o primeiro momento, e a última o último. Achámos que seria mais interessante deixar as coisas ao descoberto, tentar ver se a malta consegue perceber a história, aquilo é datado temporalmente a história começa desde há quatro anos por cá.

Como é que resumes essa história?

Estes quatro anos ficaram condensados por um novo amor, uma nova estrutura que foi quando entrei na Detox , pelos novos objectivos que criei enquanto artista e pessoa por uma data de acontecimentos. Desde o falecimento do meu pai à desintegração de muita gente da minha vida, revelações, uma caminhada espiritual que tem acontecido nos últimos quatro anos… Tudo isto ficou neste álbum. Umas coisas mais directas, e outras de forma mais abstracta, e é preciso escavar um bocado para encontrar o verdadeiro significado, mas sim, está lá tudo escrito. 

E o título 88?

Tem um sentido literal e outro metáforico. A parte espiritual levou-me a entrar um bocado pelo significado da numerologia. 88 significa “sucesso”, seja financeiro, seja profissional, seja pessoal, e também está ligado à descoberta espiritual, então achámos que fazia sentido. Na parte literal, acabou mesmo por ser a minha nova casa, a porta número 88. Então fez todo o sentido. Esta também é aquela parte mais nerd, mas eu sou aquele puto cromo da matemática, então a super simetria do número 88 também me pareceu bacana.

Há pouco falavas do processo de descobrires a estética musical que querias para este disco e que passou muito por fazer e fazer. Mas havia alguma intenção tua em relação à tua abordagem sonora, comparada com o teu trabalho anterior? Querias marcar uma diferença em relação aos EPs?

Sem dúvida. Sempre senti que era uma pessoa com uma sonoridade diferente. Sempre senti que não era fácil dizer que a minha música é inspirada em X ou em Y. Mas eu não acho que estava a ir pelo caminho certo no que toca a isso. Adoro as minhas músicas anteriores, conceptualmente e liricamente estou mega orgulhoso de tudo o que fiz até hoje, mas a estética sonora tinha de ser trabalhada, tinha de ser descoberta. Tinha de perceber para onde é que eu, realmente, queria ir e o que é que me estava a fazer sentido. E isso até veio de uma conversa que tivemos em grupo, de eu não fazer a música que oiço. Eu oiço uma música, inspiro-me nela, mas depois chego ao microfone e não é isso que faço, não são os beats que escolho. Tive de dar esse passo atrás para perceber: “A que é que quero que a minha música soe?” Era um processo que nunca tinha feito. Sempre tinha sido muito natural. Chegava ao microfone, ouvia um beat, gosto dos acordes se é funk, rock, uma pianada gigante ou um trap pesado, não quero saber, gosto do instrumental, faz-me sentido, saco melodias de forma relativamente fácil para tudo o que me aparece à frente, o que é um dos grandes problemas da versatilidade, que é ter de escolher um caminho, portanto tinha mesmo de afunilar a cena para aquilo que me fazia sentido. Apesar de o próprio álbum ter vários estilos, mas acho que quem ouve percebe que há uma coesão estética. Se antigamente metesses shuffle no meu Spotify, não é bem a mesma coisa [risos]. Encontras um bocado de tudo. É sempre hip hop, disso nunca foge…

Mas o hip hop assume imensas formas, BPMs e estéticas…

E eu acho que já explorei tudo, desde os 190 aos 60 BPM.

Mas sentes que este tipo de instrumentais que usaste no álbum tem mais a ver com aquilo que ouvias?

Sem dúvida. Eu sou mega fã de Kanye [West], de Travis [Scott], de Yeat, Drake… Portanto, é sempre aquele hip hop em que tirando o Yeat, claro são todos muito reais à sua cena, todos contam a sua história, todos exploram várias vertentes, mas sempre com uma estética hip hop. Mas depois tens a parte, por exemplo, do Kanye, em que é hip hop mas ele também vai por outros lados, uma cena mais pop, não tão na cara que é hip hop… Acabo por ser eu. Também não queria perder a parte da versatilidade e da identidade por não querer ir a outros sítios. Por exemplo, na “Interlúdio (?)” basicamente fiz uns acordes, adorei-os e decidimos mesmo: “Ok, não vamos mexer mais, é isto até ao fim. Vou só cantar, pitchar a voz toda para ficar deformada, que aí já estou a sentir que é a minha estética, a descobrir-me na parte das misturas, e ‘bora lançar assim como está.”

E como funcionou o processo criativo? Obviamente tiveste muita mão em tudo e és um perfeccionista, no sentido em que gostas de fazer várias versões da mesma música até estar mesmo completa e como a queres. Também foi algo colectivo, com o pessoal da Detox Music que trabalha contigo?

Sim, é importante dizer que, tudo aquilo que saiu, nem que seja o mínimo do “ya, está fixe” e foram poucas as faixas que realmente só tiveram isso mas de resto tudo teve mão ou produção da Bella Saint, ou ajustes de letras, ou “podias ir mais para ali”. A “Aqui”, que é logo a intro, no início o instrumental não tinha nada a ver. Literalmente nada a ver. Andávamos com essa faixa há “n” tempo, eu adorava-a, só que percebia que havia ali qualquer coisa que não ficava bem. Juntámo-nos e percebemos que precisava de um instrumental novo. Tentei fazer, não saiu nada de jeito, porque às vezes acontece, e meti mesmo a faixa de lado. E agora, quando estávamos a discutir o alinhamento para aí há um ou dois meses, disse: “Saint, preciso da tua ajuda. Preciso de um novo instrumental para este acapella”. Eu não conseguia descolar, mas ela montou as cenas todas e passada uma horinha manda-me um MP3 e diz: “Ouve lá”. Encosto-me, oiço e “ya, era mesmo isto”. Levou uma pequena pós-produção e ficou fechado, pouco ou nada se mexeu nessa versão. Mas cada faixa teve um processo diferente.

Certo. Então, esses inputs do pessoal que trabalha contigo também foram muito importantes.

Foi, literalmente, essencial. Por isso é que adoro a minha equipa. Sinto que têm todos muito bom gosto musical. O Mike e a Nina são pessoas da estética visual, mas têm muito bom gosto. E eu e a Bella somos pessoas que sai uma música nova ou um videoclipe, e nós estamos atentos. Estamos sempre a tentar actualizar o que fazemos. Então não podia pedir uma melhor equipa para fazer esta pós-produção nas minhas cenas. Tenho sempre o hábito de começar sozinho, é o processo. Às vezes há a romantização de ter bué gente no estúdio, mas para mim simplesmente não funciona. Mas a pós-produção, com eles, é mesmo essencial.

E o facto de seres muito autossuficiente, por produzires, escreveres, cantares, etc., também faz com que possas fazer todas essas bases iniciais primeiro e só depois de existir algo mais sólido consegues mostrar a outras pessoas e elas podem dar os seus contributos.

Sim, aliás, há uns anos, quando começámos a trabalhar na Detox, eles já diziam: “As demos que tu nos mandas já parecem versões finais”. Porque eu sempre entendi de mistura, sou engenheiro de som. Sempre tive mixes e produções perfeitinhas, efectivamente há essa base, mas digo-te com a maior das honestidades: para mim, entrar numa produção minha é mesmo difícil. 

A sério?

Apesar de tudo, aqui tens a “Honesto”, a “Fé” e umas poucas mais, mas não sinto que seja muito fácil porque sentes que já deste o teu input musical para aquilo enquanto fazes a produção. A não ser que te venha uma melodia enquanto fazes a produção, é mesmo difícil. Se me entregarem sempre instrumentais, eu sou um homem feliz. Eu produzo para toda a gente, adoro fazer beats, mas para mim misturar as cenas não é a coisa mais fácil, não sei porquê. Sinto que os meus beats… Por exemplo, no IMPERFEITO V2 agora com o Agir, eu adoro todos os beats que lá estão. Mas eu próprio já tinha tentado entrar nalguns daqueles beats e simplesmente não saiu. E de repente o Agir entra, ouve os beats e são cenas que lhe saem à primeira. Se calhar porque nunca tinha ouvido aquilo, porque para ele era algo completamente novo. Depois de um beat estar feito, para mim já não é novo, então sacar ali as melodias já não se torna tão fácil quanto isso. 

E já que falas nisso, também entrevistámos aqui o Agir sobre o EP dele, e ele falou do vosso contributo como sendo fundamental. Como foi para ti trabalhares com o Agir, um artista com um historial grande nesta área, e dar-lhe esse contributo tão importante? Porque ele já tinha um disco feito e, de repente, refez tudo o que tinha porque estava a trabalhar convosco e a inspirar-se e a gostar da estética que vocês estavam a dar ao projecto.

Antes de mais, adorei o processo todo, que foi fazer um projecto em todas as suas inclinações. Mas adorei que saísse uma cena que eu não estava à espera. A primeira vez que ele chega e mostra o álbum que ele já tinha… Admito que quando eu era miúdo também não tinha bem aquele conhecimento do que era o Agir. Obviamente conhecia as músicas mais conhecidas, mas nunca tinha aprofundado propriamente. E quando ele chega e mostra o álbum que tinha, aquilo estava comercialmente incrível. Não nos enganemos. Aquilo ia passar nas rádios, ia bater, muita malta ia curtir. Mas quando olhámos para o Agir, eu não o via a fazer aquele tipo de som. Sentimos que não coincidia, aquilo que ele parecia e a música que ele nos tinha apresentado. E foi mesmo assim: a grande questão de nós não gostarmos assim tanto do álbum eram mesmo os instrumentais. E ele disse só: “Então mostra aí beats”. E nós: “Ok”. Metemos-lhe um beat, ele disse que gostava, liga o microfone e saiu a “AH”. Ele saca o iogurte quase completo, sentou-se no sofá, eu fiquei a mexer um bocadinho nas misturas e fechámos o iogurte completo nesse dia. Depois foi a “EMOCIONAL” e, nesse fim-de-semana, fizemos cinco ou seis faixas, com iogurtes completos. Aquilo que mais me impressionou no Agir foi a facilidade de sacar iogurtes de uma ponta à outra. Nunca tinha visto ninguém a fazer isso com tanta facilidade. Eu sou um bate crânio profissional, estou aqui e saco pelo menos quatro ou cinco ou 10 ou 20 iogurtes e depois compilo tudo e começo a escrever… Ele faz dois e está feito.

Sabe logo o que quer para aquele beat.

Ya, ele ouve e começa logo pelo refrão. E o interessante é que ele faz o refrão-verso-refrão-verso-refrão e o refrão não muda… É muita experiência, são 20 anos de carreira.

E gostaste do papel que vocês desempenharam nesse sentido, de estares a produzir para alguém, ainda por cima com essa facilidade e experiência?

Eu até já tinha confessado à malta que tenho o grande objectivo de ser um produtor. Quero ser artista e produtor e, enquanto produtor, quero ir o mais longe possível. Quero chegar a internacional, um dia, se possível. Acho que a melhor parte de produzir é não haver limitações. Por exemplo, quando canto, a minha voz é a minha limitação. E quando estou a produzir entro de tela vazia, começo um beat de raiz, então não há limitações. E isso é uma parte super bacana da música. Já quando era puto e comecei a tocar guitarra, adorava criar músicas, mas depois quando também podes fazer os drums, pegar em pianos, basicamente fazer tudo num computador, a história é outra. É uma liberdade diferente.

E quando estás a produzir para alguém, ainda tens o instrumento que é a voz da pessoa, e, claro, a sua criatividade, as letras e por aí adiante.

Quando fazes um beat e não é para ti, é para outra pessoa, nunca sabes o que vai sair dali. Porque não conheces o input da pessoa. Veres um instrumental teu que nasceu do zero para ir para a voz de uma pessoa que tu não estavas à espera que metesse o beat a soar assim… É uma experiência completamente diferente do que fazer música sozinho.

Portanto, este processo deu-te pica para fazeres isto com outras pessoas, e mais vezes no futuro.

Sim, até já começámos a fazer com outras pessoas. Nós já fazíamos instrumentais para outros, mas agora as coisas evoluíram, ganhámos exposição com o projecto do Agir. Mas deu-me uma pica gigante porque nunca tínhamos fechado um projecto produzido por nós. Fazer um instrumental é fazer e largar. Agora, quando é um projecto, estamos emocionalmente envolvidos, como se fosse nosso e no fundo é nosso, também. É completamente diferente. E deixo aqui um grande props ao Agir por chegar e dizer “Ok, vamos fazer isto em conjunto”, sendo que em termos de tamanho, de tempo de carreira e exposição não é a mesma coisa. E mesmo em termos de ele nunca ter feito isso com ninguém. Ele nunca se entregou assim a ninguém. Por isso, props ao Agir! A sinergia e a amizade foram muito importantes para isto.

Voltando ao teu álbum, é um disco que acaba por ser muito íntimo, por retratar várias dimensões da tua vida, algumas mais visíveis e outras mais abstractas. É um álbum que tem muito esse cariz?

Tudo o que lá está dito é honesto e real. Estava genuinamente com medo de lançar muitas das músicas que lá estão, porque falo seja da minha mãe, do meu pai, de amizades que acabaram mal, sobre relações… Foi mesmo um processo complicado, aceitar que é a minha arte, que é o que é, que sou artista e não consigo desvincular a minha pessoa, que sou as minhas experiências por isso é isto de que vou falar… Foi o que sempre fiz, só que desta vez fui um bocado mais fundo do que tinha ido antes. 

E foi pensado teres essas temáticas todas no álbum? Ou, pelo contrário, foi super orgânico e cada instrumental acabou por te levar para cada tema?

Depende da faixa. Algumas foram criadas de forma orgânica, outras são histórias que eu realmente queria contar. Na “Taking Over”… Aconteceu o falecimento do meu pai, que me meteu as coisas completamente em perspectiva, então queria falar sobre tudo aquilo que quero fazer antes de morrer. A “Honesto (Faroeste)” tem a ver com eu ser o máximo honesto com a pessoa com quem estou, sendo que não fui no passado com outras, e era o que eu queria passar… No “Interlúdio (?)”, queria mesmo explicar que vou passar a ser eu próprio, por muito que custe. Logo no início da frase, digo “pé em frente e dou o salto / sem saber quando é que o chão vinha / sem saber se é mesmo alto / tanto quanto a minha mãe dizia”. Isto é: “Vou arriscar mesmo nisto, vou parar de ter planos B, vou-me focar no meu plano A, Deus queira que isto dê certo, eu acredito que as coisas vão estar encaminhadas para que tudo dê certo e está na hora de fazer as coisas acontecerem e confiar”. Há mais umas histórias que eu queria efectivamente contar, seja a “Fricção”, a “8 80”, que é uma história real e queria falar sobre as primeiras vezes que estive com a Saint… Depois há outras que foram orgânicas, mas há muita história que eu queria mesmo contar.

Nesses casos foi mais o processo de encontrares o instrumental certo que te levasse para aquele tema que já sabias que querias explorar.

Os instrumentais levaram-me imenso para vários temas. A “Kiki” levou-me logo a falar de ir para Londres. Porque é um instrumental que me mete a viajar. A “Aqui” é sobre voar e eu nunca tinha voado na vida. Era uma guitarra que me levava logo a transcender, a voar. Então pensei logo que seria sobre voar pela primeira vez, que foi com a Saint. Cada instrumental dá-te sempre um sentimento. E como tens histórias para contar, eles levam-te para essas histórias.

Ficou muita coisa de fora?

Alguma. Aqui o meu perfeccionismo é relativamente a cada faixa. Não faço assim tantas faixas como outros artistas que vejo por aí, que em dois ou três anos têm 600 ou 700 demos… Não sou esse tipo de artista, mas claro que algumas ficaram de fora. Sou o tipo de pessoa que, para largar, porque aquela frase poderia estar melhor cantada, aqui a dicção não está perfeita, a estrutura do beat aqui ainda não está fixe… As alterações são aquilo em que eu realmente me foco e que atrasam mais o processo. Mas pelo menos depois sai e é algo em que tenho orgulho. Todas as imperfeições estão lá porque decidi que as quero deixar. No entanto, mais uma vez Mike, Nina, Saint e também o Agir que chegou para me dar na cabeça nesse aspecto dizem-me que está na hora de largar, para aceitar as imperfeições, que é isso que faz a música ser tão bonita quanto é. A mim custa-me imenso largar, mas eles têm razão.

E agora já está largado, não há volta a dar, já está aí para as pessoas ouvirem.

E nunca esperei conseguir largar 17 faixas assim.

É um álbum longo. Também te queria perguntar se, apesar de já teres muita música cá fora e vários EPs, se o facto de ser o primeiro álbum também tinha um certo peso para ti. Querias fazer um projecto mais coeso, sólido e significativamente maior do que os EPs?

Sim, houve uma vez, numa conversa de backstage com um artista que admiro imenso, em que apanhei uma mentalidade que faz todo o sentido: só vou lançar o meu primeiro álbum quando fizer sentido, quando realmente achar que está na hora, quando sentir que vai ter coesão e maturidade. Porque o primeiro álbum é muito importante. Segui essa mentalidade a minha carreira toda. A primeira música que lancei foi em 2016 e desde então que tenho essa mentalidade. Mas sempre quis lançar um álbum e estive à espera do momento certo. A diferença entre um álbum e um EP não é muita, tem mais a ver com a dedicação que dás a manteres-te sempre no mesmo tópico e a tentares explicar a história durante mais faixas… No entanto, o processo de mistura e master é muito diferente. Há uma grande diferença entre misturar quatro, cinco ou seis faixas ou 17. É um come crânio. Mas props ao JacK por ter sido incansável, por se ter fechado aqui comigo duas semanas a fechar a mistura do álbum. Ele estava tão saturado quanto eu mas “‘bora ouvir, há modificações para fazer” e nenhum dos dois vira a cara. Ele foi muito criativo a misturar, isso foi uma surpresa completa. O objectivo era pôr tudo a soar bem, mas ele chegou e acrescentou tanto quanto conseguia, e isso foi incrível.

Perspectivando o futuro, estás muito focado nestes dois caminhos: afirmares-te cada vez mais como artista mas também trabalhares muito como produtor?

Sim, sinceramente já estou a pensar no meu próximo álbum, já o comecei a fazer e a orientar a estética. Enquanto produtor, quero continuar cada vez mais a produzir para pessoas, quero afirmar-me cada vez mais, não quero ter propriamente limites para onde ou para quem é que estou a produzir. Quero simplesmente gostar de todo o produto que estou a fazer. No fundo, quero fazer música, tanta quanto possível. Sempre ouvi um bocado de tudo, portanto é tanto quanto a minha criatividade me deixar ir. Vou só deixar as cenas fluírem e tentar fazer o melhor possível com as ferramentas que tenho.


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