Agir está de volta a uma música mais urbana com o novo EP IMPERFEITO V2, produzido por holympo e Bella Saint. Foi a primeira vez que Bernardo Costa, músico mais experiente do que os seus 36 anos poderiam indiciar, delegou a composição e produção musical a outras pessoas. Não foi algo pensado, mas antes o fruto de um processo orgânico que o fez desbloquear, como descreve em entrevista ao Rimas e Batidas, uma “nova era”.
Em 2022, Agir lançara Cantar Carneiros, um álbum acústico que procurava a beleza da imperfeição em analógico, distante da produção digital que dominara o seu percurso. Representava uma fase de maior maturidade, um projecto que surgia na sequência de Cantando Abril (2021), um disco de versões de músicas ligadas à Revolução dos Cravos, uma homenagem à liberdade a que o seu pai, Paulo de Carvalho, ficará para sempre associado na música.
Esta trajectória fazia-o chegar ao grande público, a faixas etárias mais velhas, afirmava-o como um artista reputado e transversal. Mas também o afastava da pop urbana de que Agir fora um dos precursores em Portugal e distanciava-o da sua fanbase.
IMPERFEITO V2 é apenas o primeiro passo para uma reconciliação planeada com essa audiência, mas também para chegar às novas gerações que cresceram com o trap, o R&B moderno e toda uma nova vaga pop mais próxima destes universos de fusão nos quais Agir tem construído a sua música (e a de outros à sua volta) ao longo dos anos.
Em entrevista ao Rimas e Batidas, o músico explica como chegou aqui, fala sobre o novo disco e revela que estão a caminho outros EPs colaborativos com produtores que prometem reposicionar a sua carreira e voltar a afirmá-lo como um nome maior da música urbana portuguesa.
Como é que chegas a este disco? É um EP mais R&B, que te traz de volta a um universo mais ligado à música urbana: como é que foste por este caminho e começaste a trabalhar com o holympo e a Bella Saint, que presumo que tenham sido muito importantes neste disco?
Primeiro que tudo, no Cantar Carneiros é que sinto que saí um bocado daquilo que costumo fazer. Obviamente que este projecto é uma versão 2.0 ou 2024 das coisas que eu fazia, não são exactamente iguais nem é suposto serem; mas o que fiz realmente de diferente foi o Cantar Carneiros, que teve a ver com um contexto de pandemia e de fazer um projecto que eu se calhar iria fazer aos 50 anos, mas como não havia concertos nem nada, “vou fazer já porque me está a apetecer”. Mas, passando isso à frente, eu já tinha um álbum todo pronto antes de chegar a este EP. E depois, através do Mike Blanko e da Nina, que já conheço há uns anos e que têm a label Detox Music, conheci o holympo e a Bella Saint. Eu estava a trabalhar com eles mais ao nível de imagem e de fotografias. Eles moram em Anadia e houve um dia em que me disseram: “Em vez de irmos sempre nós a Lisboa, vem cá e ficas a conhecer o pessoal e o estúdio”. E eu, sem qualquer tipo de compromisso, fui lá ter com eles. Obviamente, mostrei o álbum que estava a fazer; eles também me mostraram as cenas que andam a fazer; e aquilo depois virou para um instrumental e fazer um “iogurte”, depois dois ou três instrumentais, e no fim-de-semana, quando me vim embora, ainda não tinha as letras, mas tinha o EP quase todo feito a nível de “iogurtes” e beats. Sempre produzi as minhas coisas sozinho, por necessidade, porque tinha que o fazer, porque não tinha quem me mandasse beats, nunca foi por não querer trabalhar com mais ninguém. E quando fazes as coisas todas sozinho durante muitos anos é inevitável que te comeces a repetir, que vás pelas mesmas fórmulas, e sinto que o grande input deles foi que os pontos de partida não eram instrumentais meus — eram instrumentais deles que me levaram para outras melodias que eu se calhar não iria fazer sozinho, para palavras que eu também não iria escolher, portanto eles claramente tiveram um papel muito importante. Os artistas vão tendo eras e eles claramente desbloquearam uma nova era minha, porque senti que evoluí num fim-de-semana aquilo que se calhar não iria evoluir sozinho num ano a fazer beats. E quando comecei a reparar nisso, deitei fora o álbum que tinha, porque senti que tinha subido uns degraus. Esse álbum estava fixe, também era mais urbano, mas aqui a evolução era mais evidente.
Aproveitaste letras de um disco para o outro?
Sim, ou seja, o título IMPERFEITO V2 vem mesmo daí, porque deitei o álbum anterior fora — quer dizer, está no meu SoundCloud para eu ouvir quando me apetecer, não quer dizer que não possa lá voltar um dia — mas havia um som que se chamava precisamente “Imperfeito”, que era assim mais afro. Eles curtiam bué o refrão, disseram-me para não abandonar essa ideia, para lhes mandar o acappella e eles reaproveitavam o refrão. Os versos depois refiz, mas o refrão é o mesmo, e eles exportaram aquilo como se costuma fazer — é a versão 2… Achei graça e andávamos à procura de nomes, mas acho que este foi fixe, porque depois isto tem a ver um bocado com imperfeição, sobre não ter mal nenhum ser a versão dois ou três das coisas, que é normal não acertarmos à primeira… O EP tem toda essa simbologia.
E foram os instrumentais que te levaram para essas temáticas?
Sim… São claramente love songs e eu sempre fui um bocado por aí, mas estes beats mais dark, com uma sound selection mais cuidada, começaram-me a levar para as love songs, mas para umas mais tóxicas, de relações que podiam funcionar melhor e não funcionam por alguma razão… E teve a ver com o meu estado de espírito, estava com a cabeça também mais dark. E o que gostei ali… O que eu não estava a sentir no álbum que tinha antes é que ele estava a ir muito para afros, o que não deixa de ser um bocado a tendência do que se está a fazer agora… Sem falsas modéstias, acho que o álbum estava bom, mas não estava a sentir que estivesse com uma lane minha. Sentia que estava a fazer aquilo que uma data de gente está a fazer também, depois uns farão melhor e outros pior, mas era uma guitarra acústica com um beat afro por cima e isso é muito a tendência do que se está a fazer agora… E quando comecei a ouvir estes beats e a maneira como estava a droppar em cima deles, senti que estava a vir com uma coisa fresca que ninguém está a fazer e isso agrada-me. Com os anos que já tenho disto, acho que tenho a responsabilidade e a obrigação de ser alguém que tenta puxar a cena para a frente. Umas vezes posso ser mais feliz com o resultado do que outras, mas tenho um bocado essa obrigação de tentar inovar e de não ir atrás do que já está a ser feito. E também foi o que me levou a querer mandar o outro álbum à vida e querer ficar com este. Eles conseguiram-me levar para um sítio que é mais único e especial.
Esse processo de delegares a composição dos instrumentais que, como disseste, é algo novo e diferente para ti, também foi uma jornada de descoberta? O facto de não estares tão focado nisso levou-te a seres mais criativo na parte das letras ou das melodias?
Sim, e principalmente foi um arrumar de ego. Já tenho uns anos disto e do nada tenho uns miúdos de 20 e poucos anos a dizer-me “se calhar essa letra não está fixe”, “se calhar devias ir mudar esta melodia”… Também foi um exercício de ego, de me deixar minimamente guiar ou pelo menos receber os conselhos de malta que, por muito talento que tenham, têm menos anos disto… No final do dia, estou muito feliz com o resultado porque houve esse cuidado. Sempre que ia para estúdio sozinho, tentava começar e acabar os sons nessa sessão; porque quando voltava para o estúdio, queria era fazer uma música nova. Já sabia que, se não os acabasse, provavelmente iam ficar sons por acabar; portanto obrigava-me a fazer tudo de uma vez. Foram raras as vezes em que esperei uma semana para deixar maturar uma ideia e vir escrever uma letra outra vez. Era uma coisa muito rápida. Pode até parecer impressionante, mas também tem um lado de preguiça. E o que aconteceu foi isso: escrevi as letras, com os beats deles, e como não fazia tudo sozinho tinha que esperar que eles pudessem, ainda por cima eles não moram em Lisboa então tínhamos de combinar, e esse processo de não ser logo à primeira — porque eu tenho muito a coisa do “tem de ser tudo para ontem”… “Escreveste isto agora, mas vem ter connosco passado uma semana ou duas, ‘bora lá dissecar a letra toda”. Também com o Mike e a Nina, sentávamo-nos todos a olhar para a letra e eles diziam: “Esta palavra se calhar já é perigosa”, “esta melodia já a repetiste ali”, “aqui se calhar estás a cantar com demasiada força e este som pede que cantes com mais calma”… Deixei-me guiar um bocado, porque confio no gosto deles, não o faria com toda a gente mas encontrei aqui pessoas em quem reconheço valor e que, no fundo, não queriam egos, só queriam que o projecto corresse o melhor possível… O “entrar em discussão” tinha um objectivo bom. E tenho a agradecer-lhes muito. Diria que já tenho o ano de 2025 todo preparado a nível de lançamentos, de músicas que até já nem foram feitas por eles, mas eles claramente fizeram-me começar a fazer as coisas de outra maneira e agora até já as consigo fazer sozinho. Estou com uma identidade e numa era diferente, e eles são bastante responsáveis por isso.
Portanto, agora saiu o EP mas já estás a preparar um 2025 com mais lançamentos, que vêm dar continuidade a este universo musical.
Completamente.
Ao longo dos anos, sempre colaboraste com outros. Não no sentido de teres pessoas a produzir para ti, mas mais ao contrário, de trabalhares com outras pessoas, e de certeza que já valorizavas esse olhar refrescante que artistas com menos experiência mas que são de outra geração poderiam ter…
Para mim, a música é para misturar. Sou muito noctívago e, para mim, a noite ideal é ficar até às seis da manhã com pessoas num estúdio. E o que já tinha acontecido era o que estavas a dizer, eu ir ter com malta mais nova mas para eu os produzir e muito mais numa de, não querendo ser presunçoso, ser eu a dar conselhos. Mas nunca foi a onda de “quem tem de dar conselhos sou eu”. Nunca tive essa coisa de “não quero trabalhar com ninguém, ninguém tem nada a ver com o que tenho para fazer ou não”. Mas aqui também aconteceu naturalmente, eu estava à procura de coisas que também são aquilo que eles estão a fazer. E o Mike Blanko e a Nina tiveram um papel muito importante, porque isto é um EP muito estético, tanto do ponto-de-vista musical como de tudo o resto. Se tiver de descrever isto numa palavra, é isso: estética. O cuidado com a sound selection, as fotografias, os vídeos, o roll out que demos à cena… Tem um valor estético muito vincado e isso teve a ver com andar à procura de uma data de coisas, de uma postura de olhar para a indústria… É uma coisa muito silenciosa, mas não é só o que fizemos, é também tudo aquilo que tínhamos a certeza de que não queríamos fazer. E estávamos todos com uma mentalidade parecida. Quando do nada encontras um grupo de malta em que começas uma frase e eles quase que te acabam a frase, podemos andar à procura e à procura mas também é algo que vem ter contigo. E se calhar só veio ter ao fim de 20 anos de carreira. Aconteceu agora, foi uma simbiose feliz.
Falas do valor da estética, de este EP ter muito essa vertente… Foi algo que discutiram muito durante o processo criativo? Foi surgindo à medida que as canções foram ganhando forma?
Sempre fui uma pessoa muito visual. Mal estou a acabar de fazer uma música, já estou a pensar num videoclipe. As palavras e os sons remetem-me logo para coisas muito visuais. E eles também são assim. E sentia que estava a precisar, até por motivos mais pessoais, por uma fase menos boa que andei a passar e que coincidiu com o Cantar Carneiros, em que a parte da estética foi claramente desleixada, e como fiz aqui uma pausa, até a nível de saúde, para tomar conta de mim, desliguei o Instagram e tudo para ir tomar conta de mim, e senti que tinha de voltar com uma aura diferente, porque esteticamente eu também estava diferente. E acabei por conhecer malta que também dá muito valor à parte estética da coisa, e quando demos por nós já estávamos a pensar como é que a capa iria ser, o que iria ser o meu rebrand a nível visual… Queríamos que fosse uma coisa que estivesse lá espelhada mas que não tivéssemos de falar muito sobre isso. Não é muito a minha onda estar a falar do quão fui tratar do meu corpo ou fazer a capa da Men’s Health [risos], porque o principal tem de ser a música, é a substância, embora o embrulho também seja importante para mim. Este EP também retrata um bocadinho isso.
E algo que também tem muito a ver com esta dinâmica entre substância e embrulho, para usar os mesmos termos, é o posicionamento dos músicos. E com os anos que tens disto, já tiveste vários: a tua fase inicial é diferente de quando começaste a lançar, de forma mais profissional, os teus discos; o Cantar Carneiros é outra era e levou-te para outros sítios e públicos; e agora tu próprio o definiste como um rebrand. E o posicionamento é importante quando se faz música pop, urbana, que tem a ver com o público que está a ouvir, para quem é que queres fazer música… Isso é algo que tem de ser pensado, tem de ser consciente, ou o foco é criar a tal substância e o resto logo se vê?
Eu era incapaz de chegar a ideias mais estéticas sem perceber o que é que estamos a pintar. O principal passa por: “Olha que instrumentais fixes e o que estou a fazer por cima deles.” Esse é sempre o ponto de partida. Agora, a estética traz cuidado com os pormenores, e isso tem a ver com o brio. Mostra que esta pessoa se preocupa, que não é um desleixo, e é importante em certas situações termos um cuidado extra. Demonstra que estamos preocupados com aquilo que estamos a fazer. Mesmo que não seja verbalizado, é importante para as pessoas perceberem: “Calma que ele está com cuidado, ele não quer que isto seja feito às três pancadas, quer que isto seja bem feito.” Há um factor egoísta, porque gosto daquela imagem, porque gosto de me ver assim… E o que também me fez parar, desligar tudo e repensar o que eu queria fazer e, principalmente, o que vou fazer daqui para a frente… Senti que tive uma fase, há uns anos, com uma mixtape que até tinha um som com o Regula, em que ainda não era totalmente para as massas, mas claramente já tinha uma fanbase diferente e sentia que tinha uma comunidade minha. Tinha die hard fans, malta que estava comigo pelas razões certas. Do nada, quando começas a ficar maior e, se calhar, ainda não tens muita capacidade para ler uma coisa com distanciamento, vais ganhando massas mas perdendo comunidade. E acabas a ter fãs que gostam de ti porque estás na espuma dos dias, mas no dia em que deixas de lá estar se calhar já não estão contigo porque ouvem música quando vão para o trabalho ou o que seja, mas não estão uma tarde inteira, com as letras à frente, a ouvir um disco. Senti falta disso e o que estou agora a fazer — e isto tem a ver com o que dizia há bocado, sobre aquilo que não vou fazer, tem mais a ver com os “não” que tenho que dar do que propriamente com os “sim” —, se ainda for possível, e acho que é porque se não não estava a fazê-lo, mas é um caminho difícil porque uma coisa é seres um upcoming artist e ninguém saber quem tu és, outra é tentares mudar essa percepção das pessoas, quando elas já têm uma percepção tua que, a mal ou bem, foi alimentada por ti também, mas é voltar a ter uma comunidade. Eu já me estava a sentir mais celebridade do que artista e não quero. A única coisa que quero que me digam quando me virem na rua é “curti bué o teu último álbum”. Não é “gostei muito da tua namorada” ou “estás muito giro” ou “vi-te há dias na televisão”… Só quero que digam “grande álbum”. Se não o disserem e disserem as outras coisas todas, acho que estou a fazer mal o meu trabalho. É tentar outra vez ter um sentido de comunidade, ter pessoas que vão ouvir o álbum pelo álbum e não pelo folclore todo que possa haver à volta, e isso passa por, se calhar, ter um Instagram mais cuidado, por não dar entrevistas nuns sítios e dar noutros… Tem a ver com o meu mindset, que sempre foi o mesmo, só que achava que não era possível fazê-lo dessa maneira. E há uma coisa que é verdade e que a malta não tem noção, mas… Não estou a dizer que fui o primeiro, mas fui claramente do grupo dos primeiros… Até eu e mais dois ou três colegas aparecermos com um pop mais urbano, o pop em Portugal antes de eu aparecer era João Pedro Pais, Pólo Norte. Não estou a dizer que é mau, estou a dizer que houve muitas coisas para as quais não tive exemplos antes para saber como é que se fazia. Portanto, achava que era assim que se fazia. Quando tinha um manager que dizia “mas não podemos dizer que não a não sei quem, não podemos dizer que não a este programa”… Agora, se calhar, é fácil eu perceber que dá para fazer sem ter de me sujeitar a essas coisas, mas na altura não tinha essa noção e achava que a única maneira que havia era ir a este programa de rádio, àquele programa de não sei quê, e foi preciso uns aninhos…
Quando estás na linha da frente de algo novo, sem muitas referências óbvias, existem esses ossos do ofício.
Posso-te dizer que, até eu e mais dois ou três aparecermos, a malta não tinha backing track nos concertos. Mesmo a maneira como hoje em dia facilmente se usa o auto-tune… Tive de levar muito nos cornos, com toda a gente a dizer que o auto-tune era uma grande merda… Isto não sou eu a chorar e a dizer que sou o pioneiro desta cena toda, mas a verdade é que para tomar decisões que se calhar me levaram a perder essa comunidade… Agora consigo ter o distanciamento, ver exemplos e ser também um exemplo. Precisei de passar por estas coisas todas para agora perceber que, se calhar, para ter uma comunidade e as pessoas que gostam mesmo de mim por música, tive que levar um bocadinho nos cornos, tive que errar, fazer coisas que hoje não faria da mesma maneira… E com todo o orgulho do que fiz, isto não sou eu a dizer que tenho vergonha das coisas que fiz. Mas hoje consigo perceber que poderia fazer as coisas de outra maneira para estes objectivos — para outros, se calhar fiz muito bem, porque também tenho a vida que hoje tenho e o estilo de vida que gosto de ter porque fiz uma data de coisas. Estou zero a cuspir no prato das coisas que fiz.
Obviamente, quando falamos de comunidades e públicos, falamos muitas vezes de gerações, que mudam muito rapidamente no caso da música. Em cinco anos, os miúdos que tinham 13 passam a ter 18 e já são outro tipo de ouvintes. Com esta nova era, sentes que vais apanhar uma nova geração de miúdos que não estava atento, até pela idade, quando estavas a iniciar esse percurso de uma pop urbana?
Sim, estou a sentir duas coisas. Primeiro, é isso, há uma malta efectivamente mais nova que obviamente sabe quem eu sou mas que não tem tanta ligação ao que eu fiz. Já ouviu falar de mim e se calhar ouvia quando era muito miúdo mas depois descolou-se… Por exemplo, há dias fui para estúdio com um artista mais novo, e que está aí na berra, e o gajo nem fazia ideia de que eu produzia. Comecei a mostrar-lhe beats meus, já produzi para uma data de gente, e não levo nada isto a mal, mas quer dizer que já não estou no mapa a nível de produção para aquela pessoa. Quando ela pensa em produtores, “Agir” não lhe vem à cabeça. E está certo. Mas estou claramente a recuperar malta que sabe quem sou mas que já não tem qualquer afinidade comigo e não sabe muito bem o que faço ou o que é que fiz, e estou também, por outro lado, a recuperar malta de 27 ou de 30 anos que até certo ponto gostava muito do que eu fazia mas depois achou que outras coisas que fiz já não lhes dizia nada e os comentários agora são todos “finalmente, o Agir antigo que eu gostava está a voltar!”. São estes dois pólos. Vai ser um caminho longo das pedras, mas já estou a ter sinais de que estou a fazer a cena certa. É ser consistente, agora.
E pelos vistos já tens um próximo ano preparado para isso.
Gostava de chegar ao fim de 2026 com o meu algoritmo de Spotify todo mudado. Ou seja, com 30 sons novos, para os meus antigos irem lá para trás, para tu escreveres “Agir” no Google e as fotos antigas estarem lá no fundo… E vou ter três EPs colaborativos. Tive este com o holympo e a Bella Saint, vou ter um em Março com um produtor e outro em Maio com outros dois produtores. Entretanto, vão sair singles soltos, uns featurings, outros meus. Vai mesmo sair muita música até ao final de 2026. Pelo menos por falta de consistência não me vão poder atacar.