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Publicado a: 04/04/2017

Há vida depois da Doninha

Publicado a: 04/04/2017

[TEXTO] Gonçalo Oliveira [FOTOS] Carlos Ramos / Filipe Rebelo / Kenton Thatcher / Direitos Reservados

Os Da Weasel foram uma das últimas grandes bandas a mexer com o panorama musical português. Quase 25 anos volvidos desde o primeiro registo, o Rimas e Batidas mergulha nos arquivos para um profundo estudo da agora extinta Doninha.

Neste ensaio, vamos seguir as pegadas dos músicos que integraram o grupo. Há uma segunda vida para lá daquela que os Da Weasel proporcionaram a estes criativos, responsáveis por muitos êxitos que ainda hoje causam rebuliço quando tocados. Além do enorme legado que deixaram para os que se seguiram, o grupo teve que se reinventar.


yen sung

[YEN SUNG]

A presença mais efémera dentro da banda pertence a uma das produtoras e DJs femininas mais aclamadas do nosso país. A sua passagem pelos Da Weasel, embora curta, não deixa de ser menos importante, visto que esteve presente nos primeiros passos do grupo. Foi ela que deu o apoio a Pacman em More Than 30 Motherf***s e Dou-lhe Com a Alma.

Porém, não seria através da voz que Yen Sung se viria a notabilizar a solo. A produção foi escolha acertada e fez-se notar em Ennio Morricone – Remixes Volume 2 ou, ao lado de DJ Kronic, em Do You — o segundo teve edição pela Atlantic Jaxx, selo criado pela icónica dupla Basement Jaxx. Actualmente, é residente na discoteca Lux Frágil e é tida como uma das mais influentes DJs femininas da Europa.



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[ARMANDO TEIXEIRA] 

A presença de Armando Teixeira na banda foi mais longa que Yen Sung, mas igualmente curta. Dentro dos Da Weasel, assumiu o papel de DJ, produtor, teclista e ainda de programador de toda a maquinaria utilizada para a composição dos álbuns.

Saiu da banda após Iniciação A Uma Vida Banal – O Manual e lançou-se enquanto produtor a solo. Balla, Bullet e agora Knock Knock: Armando Teixeira continua a reinventar-se e a surpreender-nos através da experimentação e criatividade posta em cada novo registo.



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[DJ GLUE]

Foi o último a ingressar nos Da Weasel, mas rapidamente conquistou o seu espaço. Motivo? A forma cirúrgica como abordava os pratos. Além da preciosa ajuda que dava aos companheiros em palco, era perfeitamente normal que, por vezes, o víssemos a “abrir” o concerto da própria banda.

A sua chegada veio colmatar uma lacuna que se instalou na banda após a saída de Armando Teixeira. Com ele, a Doninha reinventou-se e seguiu caminho para Re-Definições. O álbum mais vendido de sempre dos Da Weasel ganhou um toque especial com os cortes que Glue aplicou pelos diversos temas do disco.

Na banda, adquiriu toda a formação necessária para se vir a tornar um DJ de referência para o hip hop nacional. o seu percurso é um espelho disso mesmo: teve um programa na Mega Hits, mantém uma curadoria mensal no Lux Frágil, é dono e gerente da loja da Montana, no Cais do Sodré, e até já se estreou enquanto produtor.



 

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[JOÃO NOBRE & PEDRO QUARESMA]

Os dois pilares do som único dos Da Weasel. João Nobre e Pedro Quaresma dedilhavam cordas, baixo e guitarra, respectivamente, e juntos eram o suporte inexcedível do resto da banda, muito por culpa da fusão do lado punk e metaleiro de Jay com o groove e texturas do funk que Quaresma protagonizava na guitarra. Em palco, protagonizavam momentos a dois em que davam vida a pequenas jam sessions que marcavam o início ou o fim de alguns dos temas do alinhamento.

A sinergia da dupla não terminou com o final da banda e o projecto Teratron rapidamente entrou em marcha e ganhou vida após a edição do derradeiro projecto da banda, o DVD ao vivo da grande celebração dos Da Weasel no Pavilhão Atlântico, lançado em 2008. O disco de estreia, Teratron, foi editado em 2009 e contou com vários convidados internacionais. Nesse momento, Jay e Quaresma ensaiaram um novo tipo de electrónica com uma clara influência da cena underground britânica post-dubstep.

Os Teratron não duraram muito, mas não terminaram sem antes editar um trabalho conceptual que juntou vários nomes nacionais de renome: As Cobaias é uma história narrada e cantada por Miguel Guilherme, Adolfo Luxúria Canibal, SP Deville e New Max. Além da música, o álbum teve também uma uma forte componente visual com a criação de uma banda-desenhada.

Pedro Quaresma continua ligado ao hip hop português através da Mano a Mano. Numa vertente mais técnica, o músico tem sido responsável pela captação, mistura e masterização de trabalhos editados pelo selo criado por TNT. OProcesso ou T&C/AVNP&NMTC foram alguns dos discos que passaram pelas suas mãos.



 

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[GUILHERME SILVA] 

O metrónomo dos Da Weasel era um dos melhores representantes da escola do funk, mestria demonstrada através do swing que colocava entre cada estocada no bombo e tarola. Suportou todo o groove da banda e vimo-lo ao longo da carreira a surpreender com novos e diferentes ritmos. Rock, reggae, hip hop, bossa nova? Nunca negou um desafio e esse é também um dos segredos por detrás de todas as camuflagens que a banda assumia quando explorava um novo género.

Sneaker lover assumido, gere agora em Lisboa uma loja de streetwear. Mas não largou a música: hoje em dia faz dupla com Isac Ace nos Sweat & Smoke, projecto em que explora um arrojado funk futurista. Há alguns temas já a rodar no SoundCloud do duo, e existe um álbum no horizonte. Em Setembro passado, estiveram à conversa com a nossa redacção.



 

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[VIRGUL]

Entrou na banda em 1997 e rapidamente se tornou num dos membros mais carismáticos dos Da Weasel. A voz poderosa acrescentou “algo” à banda através dos atributos mais exóticos, tanto pelo ritmo do flow como pelas melodias que conseguia “sacar”. A força e energia em palco era notória e contagiante. Essas qualidades permitiam-lhe dançar do início ao fim dos concertos e, como hypeman de excelência, levava o público  a sentir-se parte integrante dos Da Weasel. Embora a sua função estivesse destinada a papéis mais secundários, todos estes atributos fizeram com que conseguisse conquistar um lugar importante ao lado de Pacman. A sua estreia no 3º Capitulo deu um dos maiores sucessos à banda: teríamos “Dúia” sem Virgul?

Após o fim do projecto, juntou-se a Dino D’Santiago nos Nu Soul Family. A Universal acolheu o projecto e daí nasceu o primeiro e único álbum do seu novo grupo: Never Too Late To Dance. O percurso dos NSF foi curto e Virgul apontou baterias a uma carreira a solo. Nos anos que se seguiram, somou várias participações e entrou em álbuns de Xeg, Bob Da Rage Sense ou, mais recentemente, em Toda A Gente Pode Ser Tudo de NBC.

Actualmente, o vocalista pode muito bem estar num momento decisivo para voltar às luzes da ribalta. Recentemente, confessou estar a trabalhar no álbum de estreia e o primeiro single foi um sucesso instantâneo. “I Need This Girl” conta, até à data, mais de 6 milhões de views no Youtube.


pacman

[PACMAN]

Carlos Nobre foi principal voz de toda uma geração e, nos Da Weasel, desempenhou o papel de um jovem revolucionário que usava a palavra de forma exímia enquanto arma de ataque.

Numa entrevista para a TV Chelas, Pacman confessou que no início nem existia um grande compromisso para com as letras que escrevia. A transição para o português, logo após More Than 30 Motherfuck***s, deu-lhe outra responsabilidade e foi essa mudança que permitiu que o artista deixasse de ser “apenas” um vocalista para passar a ser “O Vocalista”. Agarrou-se à língua materna e foi a partir daí que criou novas vidas para a escrita nacional.

A forte ligação ao lado mais poético do hip hop fê-lo ingressar numa viagem que muitos achariam inevitável. Após o fim dos Da Weasel, tornou-se Algodão, projecto em que apostou no spoken word enquanto veículo principal para as palavras, que eram servidas por batidas minimais e experimentais. Editou 2 álbuns, em 2011 e 2012, após a passagem pelo projecto Dias de Raiva.

Em 2014, integrou os 5-30, grupo onde dividia os louros com Regula e Fred Ferreira. Juntos, editaram o trabalho que colocaria o ex-Da Weasel novamente num dos lugares cimeiros do circuito hip hop.

Pacman é agora Carlão e a idade fê-lo chegar a Quarenta. As canções que escreve encontraram um propósito diferente daquele que o motivava nos Da Weasel, mas as batidas continuam a acompanhá-lo. Nesta nova vida, percebemos que os seus ouvidos não ficaram parados no tempo, virando-se para uma nova geração de produtores que começam a dar cartas em Portugal: Kking Kong, Agir ou Holly Hood são alguns dos nomes que já serviram Carlos Nobre com instrumentais. Este ano, Carlão vai somar um novo trabalho à sua colecção e tudo aponta para que a sua edição chegue após o Verão.


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