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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 22/08/2024

Jazz, funk e improvisação no novo capítulo da mitologia do artista britânico.

GOkU: “Em Evolution Practice tentei gravar e fazer as coisas de forma completamente independente”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 22/08/2024

É algures entre a lenda chinesa de Wu Cheng’en (Jornada ao Oeste, romance mitológico chinês do século XVI) e a sua reinterpretação moderna por Akira Toriyama (Dragon Ball, mangá japonês que tem Son Goku como protagonista) que Daniel Ashton se inspira para dar vida a GOkU. O músico britânico — que cresceu em Londres, mas tem desenvolvido grande parte da sua atividade em Glasgow — acaba de lançar EP (Evolution Practice), um EP onde o jazz, o funk e a improvisação se encontram com as batidas e os sabores — ainda que apenas sugestionados — da eletrónica originada do breakbeat e do jungle.

Lançado pela editora Worm Discs, Evolution Practice é o resultado da jornada minimalista de GOkU, em que o multi-instrumentista junta um grupo restrito de colaboradores para improvisar sobre diretrizes apenas definidas em termos gerais, criando assim o material que serve de base para um intenso trabalho de estúdio, realizado após as gravações. Esta abordagem independente à gravação e produção surge em contraste com o primeiro e único álbum de estúdio de GOkU, 11:11, projeto de grande envergadura sobre o qual, na altura do lançamento, por aqui afirmámos “reiterar essa relação frutuosa entre Bristol e Glasgow, entre Glasgow e o jazz do agora.”

Neste EP, a acompanhar Ashton — que se desdobra em várias frentes; da multi-instrumentação à composição, passando pela escrita de poesia e produção —, encontram-se Ben Vardi (congas), Finn Rosenbaum (bateria e percussão), Norman Villeroux (baixo e contrabaixo) e Alex Palmer (bateria). Estes dois últimos músicos formam o núcleo rítmico deste EP, uma das suas mais destacadas valências, e ambos fazem parte da formação de Azamiah. Mas as ligações entre os vários projetos dos intervenientes neste trabalho não ficam por aqui: bandas como Amara (Ashton, Villeroux e Rosenbaum), Josef Akin (Ashton, Villeroux e Rosenbaum) ou GABO (Ashton e Villeroux) são reveladores de uma teia de relações muito mais complexa, demonstrativa de uma intensa e prolífica atividade musical que brota a partir de Glasgow.

Numa entrevista focada em dissecar a criação deste EP, mas também com um olhar para o futuro, falámos com GOkU sobre a sua música. O resultado é uma conversa — a primeira publicada internacionalmente sobre este novo trabalho — essencial para perceber os contornos desta mitologia musical que ainda só agora começou a ser esboçada.



Como é que vai isso? Como estás?

Estou bastante bem. Não me posso queixar. Estou em França neste momento. Está a chover, mas pelo menos o sítio é bonito. [Vira a câmera para mostrar a vista]

Uau, parece incrível. Onde estás exactamente?

No sul, em Ariège, perto de Toulouse. A minha mãe vai mudar-se para cá, então comprou uma casa e estamos todos a arranjá-la e a fazer jardinagem e essas coisas. A família toda junta, é porreiro.

Fantástico, sim. Eu já vivi em Toulouse. Foi uma boa experiência.

Toulouse é fixe. É uma boa cidade.

Sem dúvida. Parabéns pelo teu novo EP! Qual foi a inspiração para este trabalho? E como é que ele representa onde te encontras a nível musical?

Na verdade, foi um passo em direção a tentar gravar e fazer as coisas de forma completamente independente, tentando perceber quais seriam os meus métodos para fazer isso. O meu último álbum foi um grande álbum de estúdio — muitos músicos, muitos amigos no estúdio — e foi gravado por um tipo chamado Luigi Pasquini em Glasgow. Ele produziu-o comigo, foi um grande processo. E, obviamente, para que isso aconteça, precisas de muito dinheiro para continuar a fazer grandes álbuns de estúdio. Mas eu queria mesmo explorar, desafiar as minhas capacidades técnicas e criativas. No ano que antecedeu esse álbum, durante grande parte do final do COVID, comecei a produzir muito mais música próxima ao hip hop, a fazer mais produções desse género. Hip hop e rap são uma grande parte do que ouço. Não posso mentir, estar mesmo chapado às 3 da manhã, simplesmente a criar beats, é algo que faço regularmente. Então, quis preencher a lacuna entre a música ao vivo e a produção — muitas pessoas estão a fazer isso atualmente. Quis ver como seria ser muito minimalista, com poucas pessoas em estúdio, e tentar fazer mais com menos. E quis fazê-lo no nosso setup caseiro, num pequeno estúdio de ensaios: montar os microfones, criar um ambiente e depois gravar, tocando as minhas composições de forma bastante aberta. Depois de fazer isso, peguei nas gravações e adicionei-lhes camadas, trabalhei na produção, mudei coisas de lugar e adicionei-lhes instrumentos. Queria simplesmente aprender melhor esse processo.

No teu último álbum, 11:11, tiveste inúmeros colaboradores. Mas neste EP, reduziste a formação apenas a ti, ao Norman Villeroux no baixo, ao Ben Vardi nas congas, ao Finn Rosenbaum na bateria e percussão, e ao Alex Palmer na bateria. Imagino que, como disseste, este trabalho tenha envolvido muito overdubbing e overlaying. Como foi o processo de composição? Foste adicionando coisas ou já tinhas tudo definido desde o início?

Não, não. O meu processo é sempre muito fluido e nada fixo. Ser organizado e estruturado não é a minha mentalidade em geral — talvez estivesse mais longe na vida se fosse —, mas trabalhamos com o que temos [risos]. Abordei tudo com uns quantos ensaios que sabia que queria que fossem improvisados e com um som bastante ao vivo. Mas é engraçado… Tenho descoberto que em muito trabalho com improvisação — como na nossa primeira banda, Amara, que é uma banda de puro improviso, uma jam band — é bastante difícil manter o caos. A forma quer sempre revelar-se quando criamos algo. Quando estávamos neste processo, era tipo: “Ok, aqui está uma linha de baixo e uma espécie de batida, e depois veremos o que acontece.” A faixa “Evolution Practice” foi inspirada no último álbum do André 3000 — uma flauta, música ambiente, batida leve, uma espécie de processo espiritual. E depois, quando levei a gravação de volta, foi tipo: “Oh, esta parte aqui é uma melodia, um motivo que quer ser repetido.” E lá se foi encontrando a estrutura no meio do caos.

Acho particularmente interessante quando, nessa faixa, dizes: “Being woke is just a joke. All ideas eventually croak.” Podes elaborar um pouco mais sobre isso?

[Risos] Não sei. Isso aconteceu de repente. Escrevo sempre muita poesia. O spoken word é algo que já tinha incluído na música anteriormente. E esta coisa toda sobre o GOkU ser este tipo de personagem… Estou a tentar, de alguma forma, trazer esta figura mitológica à vida. Comecei a dizer uma série de coisas que senti que ele poderia dizer. Mas há uma realidade filosófica no que disse. Na minha perspetiva, todas as ideias eventualmente morrem. O que é woke agora não será woke daqui a 10 anos; o que era woke antes não é woke agora. Tudo é transitório, tudo está em fluxo. Tendo a ver o panorama geral — a temporalidade das coisas. As ideias não ficam realmente comigo de forma muito pesada. Vêm e vão. Isso simplesmente fluiu… foi uma só tirada, uma rima. Eu estava a falar, e aconteceu.

Acho que é um ponto de vista bastante interessante, na verdade. No mundo de hoje, as ideias fluem a uma velocidade tão grande, e as pessoas mudam tão rapidamente. Acabaste de mencionar a música do André 3000… quão inesperado foi o último álbum dele!

Exatamente. Vi uma entrevista em que alguém lhe perguntou: “Porque é que não estás a rappar mais?” E ele respondeu apenas, “Man, a minha vida não se presta mais a isso. Sobre o que vou rappar? Tenho 40 anos, e vou ao médico para fazer uma colonoscopia.” [Risos] Ele está noutra onda agora, entendes?

Voltando aos músicos que trabalharam contigo neste EP — o Norman Villeroux e  o Finn Rosenbaum foram especialmente importantes. Como é que se conheceram? Como criaram essa sinergia?

Nós os três e o Joseph Atkin — não sei se já ouviste alguma música dele antes — éramos os Amara, ou somos os Amara. Essa foi a nossa primeira banda em conjunto, e as minhas primeiras experiências a fazer música foram com esses dois rapazes, basicamente.

Vocês estão todos radicados em Glasgow?

Sim, embora nenhum de nós seja de Glasgow. Eu, o Joe e o Finn somos de Londres, e o Norman é de França. Bem, ele é franco-malaio. Cresceu na Malásia, mas vive em França. Todos nós nos conhecemos em Glasgow, exceto eu e o Joe, que somos amigos de Londres. Foi por causa disso que me mudei para Glasgow. Fui lá visitar o Joe. Sabes o que tinha acabado de acontecer? Black Focus do Kamaal Williams. Conheces esse álbum? Um trabalho importantíssimo, seminal, que tinha acabado de sair. O Joe encontrou-o no SoundCloud antes de rebentar. O Joe é um crate digger, conhece todo o tipo de música, e ele estava a tocar isso, do género: “Ouve isto.” E isso inspirou-o a perguntar-me: “Queres mudar-te para Glasgow? Vamos começar uma banda.” Eu respondi: “Claro que sim.” Então, começámos uma banda, e logo depois conheci o Finn, um baterista e artista incrível. Um artista puro e duro — ele, na verdade, não faz parte da cena jazz; toca muita música experimental, mas é um demónio na bateria, inacreditável. A primeira faixa do EP chama-se “Out the Deep feat. Finn Rosenbaum.” Isso foi algo que produzi como uma faixa-guia para um jam ao vivo. Mas depois levei a produção ao Finn, montei os microfones da bateria, só para ver o que ele faria. Não lhe dei muitas diretrizes — ele simplesmente tocou, fluidamente, eu samplei o beat, e isso tornou-se a faixa. Chama-se “Out the Deep feat. Finn Rosenbaum” porque queria mesmo destacar o Finn. Ele nunca recebe crédito suficiente sendo o baterista incrível que é. Queria ajudar o meu amigo a obter um pouco de crédito, sabes? Também há o Alex Palmer na bateria neste EP. Quero ter certeza de que ele não é deixado de fora.

Glasgow sempre teve uma cena musical muito vibrante, e muitos artistas emergentes estão a surgir de lá. Dirias que foste mais influenciado sonicamente por Londres, onde cresceste, ou por Glasgow, onde começaste a tocar com bandas?

Interessante. As minhas influências… não sei. Glasgow é onde vivi mais como adulto e onde aprendi a tocar. Glasgow é onde aprendi a tocar, com músicos incríveis da cidade — Liam Shortall, Harry Weir, Anoushka Nanguy, toda essa malta que agora está a fazer coisas fantásticas. Eu tocava com eles em jams e via-os a fazer coisas que me levaram a realmente mergulhar fundo no estudo da flauta e da guitarra, a tocar bem e a estudar a forma como se toca. Por isso, em termos de tocar, foi provavelmente Glasgow. Mas, ao mesmo tempo, em termos de atitude e mentalidade, não sou glaswegian, entendes? Mal sou de Londres. A minha mãe é americana. Tenho influências muito diversas. A minha mãe é do Novo México. Encontrei a minha primeira flauta no Novo México, e foi lá que decidi que queria começar a tocar flauta. Encontrei esta flauta Navajo de madeira na casa da minha avó, nas montanhas. Ela vive sozinha nas montanhas, como uma eremita. Encontrei a flauta cheia de teias de aranha e comecei a tocá-la. Estava a vibrar com aquilo, e depois quis uma flauta de prata. Mas sim, essa influência do Novo México também é forte, esse tipo de paisagem — deserto e montanhas. A minha avó é uma pessoa muito espiritual. A minha mãe também. Dito isto, Londres — acho que a música que vem de Londres, como já referi a influência do Black Focus — é a razão pela qual começámos. Era uma banda londrina. Em termos sonoros, Londres influenciou-nos a todos. Influenciou-nos imenso, sabes? A maneira como abordamos a nossa música. Acho que isso é algo próprio do Reino Unido. Na América, o jazz e o hip hop têm sido uma única coisa interligada há muito tempo. Têm alimentado-se mutuamente. E depois, obviamente, porque aqui temos uma diáspora diferente, a influência jamaicana e caribenha, isso fez com que o dub, drum and bass e house music fossem o tipo de música de dança, de música eletrónica, mais ouvido no Reino Unido. Portanto, isso influenciou mais o nosso jazz. Por isso é que o som de Londres, o som do jazz no Reino Unido, é o que é, em contraste com a coisa mais hip hop dos Estados Unidos da América. Tal como disse, essa influência está em todos nós — para qualquer pessoa que esteja a fazer música no Reino Unido neste momento — ou até mesmo para a maioria dos músicos de jazz — essa influência é definitivamente prevalente, muito forte, entendes?

Sim, sim. Onde te vês no futuro? Queres continuar a explorar uma abordagem mais minimalista à produção e à forma de tocar e continuar a aprender todas essas coisas sozinho? Pergunto isto porque sei que recentemente estiveste no Brasil. Podemos esperar uma fusão ainda maior de estilos na tua música depois dessa experiência?

Sim, sem dúvida. Estive a fazer algumas coisas no Brasil. Estive a viver em Salvador, e o samba está simplesmente no ar. Está no sangue daquele lugar. Eles adoram samba, e eu comecei a adorar samba. Aprendi ritmos com algumas pessoas e comecei a incorporá-los em algumas das coisas que fiz enquanto lá estive. Mas em termos da abordagem minimalista, estou no meio de uma candidatura a financiamento para fazer outro grande álbum de estúdio, que terá muito mais gente e será muito mais completo. Não acho que alguma vez me limite mentalmente a um caminho específico. Para mim é muito importante explorar. Este último EP foi um passo numa certa direção, e o próximo será, acho eu, uma espécie de casamento maior entre a produção e a gravação de estúdio. Toda a música já está escrita há muito tempo. Estilisticamente, man, estou disperso um bocado por todo o lado, de qualquer forma. Na verdade, antes de gravar este grande álbum, vou começar a lançar um EP, que será uma beat tape com alguns rappers.

Hum, isso é altamente!

Estou também a ramificar-me nesse mundo. Tenho anos de beats e coisas no meu portátil, e não há razão para não partilhá-los com o mundo.

Vai ser tudo lançado pela Worm Discs?

Não, necessariamente. Gosto muito deles — ajudaram-me a encontrar o meu caminho, deram-me um lugar na indústria. O Jake, em particular, tem-me apoiado muito e ajudou-me muito com este lançamento. E tenho a certeza que teremos sempre uma relação de trabalho de alguma forma, mas não sei se eles vão lançar toda a minha música. Acho que para o próximo grande álbum de estúdio, para o qual estou a fazer a candidatura a financiamento, quero enviá-lo para outras editoras também.

Interessante. E há planos para fazer uma digressão com este EP?

Não, na verdade. Não há muitos concertos planeados neste momento. A minha vida tem estado muito instável. Não tenho uma banda permanente e não tenho tocado com uma banda há algum tempo. Tem sido principalmente eu a tentar encontrar o meu caminho no lançamento independente e na produção independente. É tudo muito composicional. Estou numa fase criativa em vez de numa fase de concertos, se é que me entendes. Portanto, acho que a próxima vez que for tocar será em ensaios para o próximo álbum. Quer dizer, claro que vou a jam sessions e coisas assim. Vou encontrar jams em Toulouse enquanto estiver aqui só porque é divertido, estás a ver? Encontrei jams no Brasil. Estive com um grupo de músicos de jazz incríveis enquanto estive lá e toquei com eles. Eles eram ridiculamente bons. Mas sim, não há concertos de GOkU na calha, e não estou propriamente à procura deles neste momento. Acho que vou começar a voltar-me mais nessa direção em breve.

Acho que para este lançamento, como exigiu tanto trabalho de estúdio, traduzir isso para uma performance ao vivo seria outro projeto só por si.

Exatamente, exatamente. E sempre que levo coisas que escrevi e as trago para a banda, elas mudam. Elas mudam sozinhas, sabes? Tipo, sempre que toco com bons músicos, sinto que dar-lhes espaço para fazerem o que querem traz à tona a personalidade deles e a energia do momento de estarmos a tocar juntos. Não sou muito rígido com as minhas composições quando estou a tocar com uma banda. Muitas delas são muito abertas. Por isso, só vou querer atuar ao vivo quando tiver tocado muito com pessoas com quem gosto de tocar, e aí vou pensar: “Ok, agora quero tocar esta música ao vivo.” Caso contrário, sim, dias muito intensos de produção. E também tenho estado a trabalhar no elemento visual de GOkU. Como é que trago este macaco à vida em termos visuais? Tem sido uma jornada.

Conta-nos um pouco mais sobre isso.

Sim, claro. Tentar descobrir qual é o rosto de GOkU tem sido difícil. Não posso mentir. Não sou particularmente talentoso enquanto artista visual, e tenho tentado fazer isso sozinho e não tenho adorado os resultados. Por isso, na verdade, mudei a capa deste EP há uns três dias com a minha irmã. Estive a suar em cima do Photoshop, a trabalhar a fundo no design gráfico. A minha irmã é uma artista visual incrível. Ela fez a capa do meu primeiro álbum, 11:11, e também fez a capa do nosso primeiro álbum de Amara. Nós temos colaborado nos últimos dias, e ela começou a trabalhar no PhotoShop e ajudou-me a fazer algo com o qual estou realmente contente. E depois conheci um rapaz no Brasil, um rapaz novo que disse que estava a aprender animação. Ele estava mesmo interessado em animação, e gostava da minha música. Então eu disse: “Queres tentar fazer uma animação para GOkU e eu adiciono a música?” Há várias coisas interessantes a serem trabalhadas. Há definitivamente uma transformação em termos de imagem, uma espécie de marca, penso eu, para o que é o rosto deste macaco.

Na capa deste EP, ele está meio a espreitar, e aparece muito escondido…

Sim, figuras escondidas, sombrias — é o que tenho conseguido fazer até agora. Só escondido, sombrio. Mas seria bom ver algo explícito, tipo, “aqui está ele”, sabes? Ser algo como: “Este é o gajo.”

Como imaginas o GOkU na tua cabeça não só em termos de imagem, mas também em termos de personalidade? É um pacificador ou um provocador?

Ele é um gajo atrevido, definitivamente. Ele é atrevido e poderoso, sabes? É isso que ele é na mitologia. Ele chama-se a si próprio o Grande Sábio, Igual ao Céu [The Great Sage, Equal to Heaven]. Ele quer ser um deus no céu, e todos os deuses no céu simplesmente não querem saber disso — este Macaco é demasiado tolo, entendes? E ele continua a insultar o Imperador de Jade. Então, o Imperador de Jade envia exércitos e exércitos atrás dele, mas ele é demasiado poderoso. Ele continua a destruir todos os exércitos do Imperador de Jade. Eventualmente, o Imperador de Jade deixa-o entrar no céu e diz: “Ok, Macaco, podes ser o rapaz dos estábulos.” Então, ele liberta todos os cavalos, todos os cavalos do céu, e depois vai e come todos os frutos celestiais, e irrita tanto todos os deuses que eles têm de chamar Buda. Buda vem e diz ao Macaco: “Se conseguires saltar da palma da minha mão, então eu reconheço-te como o Grande Sábio, Igual ao Céu.” Então, o Macaco diz: “Bem, isso é fácil.” Ele salta para a mão de Buda, depois salta para o outro lado do universo, e faz xixi num dos cinco pilares que sustentam o fim do universo. Ele salta de volta para a mão de Buda e diz: “Vês? Foi fácil.” Então, obviamente, Buda mostra-lhe a mancha de xixi no dedo, tipo: “Não, não conseguiste, Macaco.” Então, ele fica preso debaixo de uma montanha durante uns 10.000 anos ou algo assim, e depois passa por algumas provações e tribulações. Eventualmente, ele torna-se no que sempre pensou ser, e é finalmente reconhecido.

Sinto que esta mitologia merece muita música.

Sim, exatamente. Inspira muito. Sabes, sinto que me relaciono de alguma forma com esta personagem. Não estou a dizer que sou um deus, mas, sabes, se quiseres interpretar assim… [Risos]

Para terminar, gostavas de mencionar mais alguma coisa sobre Evolution Practice, este teu novo EP?

Ah, sim, na verdade estou a fazer cassetes para este EP também. Tenho trabalhado a parte visual com a minha irmã. Nos últimos dias, desenhámos um monte de cassetes. Estou ansioso para ouvir o EP no formato de cassete e tê-lo disponível. Gosto realmente da ideia de não entrar no jogo de tentar perseguir streams no Spotify e de não tentar monetizar a música dessa forma. Estou a abordar isto como o tipo de interação mais próxima que existe no Bandcamp entre fãs e artistas, e a criar formatos bacanos de edição limitada para a música. Sempre que faço um álbum, escrevo uma história que o acompanha. Gosto da ideia de me envolver com os fãs dessa forma e de envolver as pessoas no universo GOkU, em vez de perseguir algoritmos e fãs sem rosto pelos milhares, para ver quantos consigo atrair. Esse processo é um pouco deprimente, para ser sincero.

Definitivamente. Então, o EP vai ser lançado digitalmente e em cassete?

Sim, correto.


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