Maura Magarinhos, um daqueles segredos bem guardados da música nacional, acaba de lançar o seu primeiro projecto a solo — e tem o selo da Mano a Mano.
EmContraste contém 11 canções que navegam os mares mais modernos do r&b e da soul, servindo como uma espécie de resposta ao que as suas contemporâneas Ari Lennox, Jorja Smith e SZA, por exemplo, andam a fazer.
Em 2019, a cantora já deixou uma marca, que é como quem diz a sua voz, em três trabalhos que provavelmente aparecerão em muitas das listas de melhores do ano: Forever Young, de TNT, O Amor Encontra-te no Fim, de Fred, e Classe Crua, de Beware Jack & Sam The Kid. Se o trabalho de originais tiver a recepção esperada, é provável que no final de Dezembro estejamos a apontá-la como uma das grandes figuras da temporada…
Em declarações ao Rimas e Batidas, AMAURA, reclamando a mesma honestidade que está bem patente nas letras da sua mixtape de estreia, abre o jogo e descodifica as motivações por trás de cada música.
[“EmContraste”]
“Esta é a música que dá título à mixtape e, como tal, fala sobre os contrastes que eu tenho em mim (e que todos nós na realidade temos porque ninguém é só uma coisa). Escrevi sobre isso de uma forma leve: no final de contas, sou e serei sempre um contraste.”
[“Só Sinto”]
“Talvez a música mais emotiva que tenho no disco. Quis passar a ideia de que quando ‘só se sente’ [é que] tudo está certo. Perde-se demasiado tempo a pensar no que dizer, como agir ou não nas relações actuais. Como, para mim, amor é sentir acima de tudo, quis abordar este tema com um instrumental bem soul e doce. Espero que passe isso a quem o ouvir. É um tema que eu quero que sintam mesmo…”
[“T.P.M.”]
“‘T.P.M.’ (‘Também Podias te Mancar’) foi um tema super divertido de gravar. Satiriza um pouco aquela pergunta chata que as mulheres ouvem, tipo, ‘estás assim porquê?’. Dá vontade de responder: se todo o santo mês acontece isto, porque não aceitar de uma vez a bipolaridade da situação, e que iremos oscilar entre o ‘tu não me entendes’ e o ‘deixa-me ir para tua beira’. É brincar um pouco com o que os homens também sofrem nesse período que é tão nosso.”
[“Blues Do Tinto”]
“Esta música foi um momento de desabafo ‘jazzy’ que fiz comigo. Tem um lugar especial em mim e acredito que em quem a conhece e entende também sucede o mesmo. Trata de um ‘saber estar’ após um final de relacionamento. Por vezes um copo de vinho pode ser a resolução para a saudade ou levar-nos a repensar a situação. Seja qual das alíneas for, é aceite com um bom copo de tinto.”
[“Surfista Da Banheira”]
“Esta foi igualmente super divertida de escrever e baseia-se numa situação real (não só para mim) sobre a ideia de que a sedução ou o interesse de uma mulher provém do valor material ou status que o parceiro lhe possa dar. Óbvio que há quem prefira relacionar-se com esses âmbitos, não nego, mas, falando de um prisma pessoal, para ter uma relação assim prefiro um ‘surfista da banheira’ (expressão que tanta graça me dá e que me fez sentido). Diverti-me mil a fazer este som!”
[“Maré Doce”]
“‘Caligrafia feia também escreve frases bonitas’. Neste tema quis reforçar a ideia, já abordada na ‘Só Sinto’, de que amar não é só ser bonito, estar bem financeiramente, no ‘topo do game‘. É aceitar que há negro no rosa, há desilusões, há mágoas iminentes, ligadas ao que é amar em todo o seu espectro. É uma faixa doce a falar sobre o amargo, que muitas vezes não é aceite com a naturalidade devida.”
[“Coopero”]
“Entrei na escrita antes de ouvir o instrumental, mas já sabia que iria ser uma linha mais sensual, mais pele, mais quente. Acho que ainda há um ‘medinho’ inerente a falar-se de sexo ou interacção humana (chamem-lhe o que quiserem…). O facto é que existe, faz-nos bem — e feito com criatividade eleva-se a experiência Foi nessa linha que criei a letra da forma que a fiz, tentando nunca descurar o bom gosto.”
[“Dança”]
“É um tema pra abanar esqueleto, estalar os dedos e fazer uma ‘stanky face‘ enquanto a ouvimos. Desde que me lembro que adoro dançar. Às vezes é terapêutico mesmo, acredito nisso! Juntei- me ao groove do TNT e idealizámos um som pra ser assim leve e dançante. É uma música super descomprometida e alegre, foi a isso que nos propusemos porque não há cá medos [risos].”
[“Voyerismos De Memória”]
“Aqui foi onde me levei para um género que adoro, que é a ‘fantasy soul’. Explico a história de alguém que já se envolveu novamente depois de uma separação. Nesse período sinto que devemos evitar as perguntas em demasia e cobranças que durante a separação não nos dizem respeito. Mas como somos animais curiosos e queremos sempre saber, falo em fazê-lo de forma diferente, quase como um voyeur que acede à tua memoria. Tem uma temática sensual, mas meio negra.”
[“Marvel Da Tuga”]
“Este tema nasce a partir de uma situação que assisti no autocarro. Antigamente era impensável ver alguém mais velho ou até aparentemente mais cansado e não dar o lugar de imediato. Com isto pus-me a pensar nos que se levantam com o sol a raiar e voltam para casa 10 ou 12 horas depois, em prol de um bem estar que maioritariamente não é o deles. São a verdadeira ‘Marvel’. Há uma grande atenção ao fenómeno dos heróis por parte da massa juvenil, mas por outro lado uma grande desatenção ao esforço que os nossos pais ou cuidadores fazem por nós.”
[“Valerie”]
“A ‘Valerie’ não precisa de explicação nenhuma na verdade. É um revisitar de uma das músicas da minha vida e uma homenagem a uma artista que me marcou, marca e irá marcar sempre: Amy Winehouse.”