Com edição marcada para amanhã, “Coisas Fracas” é o primeiro single do álbum de Silly e tem hoje a sua estreia no Rimas e Batidas.
Há dois anos atrás, a cantautora e multi-instrumentista prendia-nos a atenção com o seu modo de Viver Sensivelmente, um conjunto de 5 temas embalados sob o mote de um EP de apresentação. Foi a própria quem dissecou essa mão cheia de canções num faixa-a-faixa publicado por cá, dando ainda mais força a um projecto que figurou entre os melhores lançamentos nacionais relativos a 2021 para nossa publicação: “um trabalho curto, mas denso, que capta bem – acreditamos nós – a essência da autora. Alguém que está num processo natural de auto-descoberta, e que parece exprimir mais do que retrai, parece sentir mais do que pensa.” Escreveu-se por cá.
Mais calculista, mas não menos sensível no que toca à forma como se expressa musicalmente, Silly continuou a dar-nos dessa “Água Doce” em Outubro do ano seguinte, cristalina e plena de minerais emocionais como bem se quer. Nesse single, contava com a ajuda de Fred na co-produção, um aliado que agora se revela peça fulcral para aquele que será o seu LP de estreia, Miguela, cujo lançamento está agendado para 2024. Ainda falta, sim, mas não desesperem já: há uma viagem pelos bastidores da criação do disco que vão poder acompanhar bem de perto através de uma página criada para o efeito.
Numa troca de impressões através de e-mail, a artista fez-nos um balanço destes últimos meses e desvendou um pouco mais sobre esse tão aguardado álbum.
Em Outubro passado lançaste “Água Doce” e, na altura, dizias estar “sossegada” e “só focada em fazer música nova”, deixando de lado a pressão de dar uma sucessão ao teu primeiro EP, Viver Sensivelmente. O que é que aprendeste — sobre ti ou sobre a música que te sai do corpo — ao longo destes meses dedicados exclusivamente à criação?
Tem sido um processo muito orgânico e bonito. O “Água Doce” foi o início dessa construção e desde aí que mantenho essa posição de estar focada em criar música nova. Neste tempo, tenho aprendido e conhecido-me um bocadinho melhor nesse ponto também, aprendendo a lidar com o êxtase de ouvir uma nova maquete ou os dias seguidos e vazios sem se conseguir escrever, é nessas marés que tenho aprendido a navegar. O meu primeiro disco está a ser tratado com o carinho que lhe devo, sem pressas e com a premissa única de se traduzir na música que traduza o conceito do disco da melhor forma.
Apesar de um certo silêncio que se instalou em torno da tua arte, não fechaste nunca as portas à colaboração. Participaste no Mangrove e no Jony Driver, tendo mais recentemente estado ao lado dos NAPA em “Assim, Sem Fim”. Tem sido importante para ti estes cruzamentos com outras cadências, ideias e sonoridades ao longo do teu processo? E tens desenvolvido mais coisas dentro deste capítulo de intercâmbios musicais?
Claro! Tudo é bem-vindo quando crias, pelo menos eu olho as coisas dessa forma, seja a participação que faças a convite de outros músicos ou a conversa com o senhor do café onde vais todos os dias, tudo servirá de inspiração, de forma mais ou menos consciente. Os cruzamentos com a música de outros artistas desafia-me e permite-me sair de um lugar confortável. Para já, e por estar mergulhada no caminho do álbum, encontro-me mais fechada a esses intercâmbios, como dizes, para que me consiga focar somente na Miguela.
Quebras o gelo agora com “Coisas Fracas”. Que fragilidades são estas que decidiste expor numa canção?
Na verdade, “Coisas Fracas” é uma metáfora sobre o que se queira, sendo que quando a escrevi estava muito presa à ideia desta ilusão de proximidade com que às vezes a tecnologia nos mente. Essa é a maior fragilidade, a de ficarmos mergulhados nessa ilusão do que é real e próximo.
Tinhas tido o Fred ao teu lado na co-produção da “Água Doce” e, não há muito tempo, tagaste-o num post no Instagram onde desta conta de estares a “caminho do álbum”. Como tem sido trabalhar com ele? Foi o Fred uma espécie de “braço direito” teu ao longo de todo este processo de criação que te vai conduzir ao primeiro LP?
Trabalharmos juntos tem sido a certeza de que este é o caminho mais bonito a fazer, é assim que o sinto. O Fred tem sido o braço direito e o esquerdo e é um privilégio e prazer sincero para mim poder partilhar a minha música com ele, encontramo-nos em muitos pontos e a mestria do Fred tem conduzido estes novos temas para um sítio muito bonito. Estamos focados em tentar trazer o disco para fora da forma mais sólida e verdadeira que conseguirmos.
E pegando na foto que escolheste para esse post, na qual se vê um piano e um OP-1: foram estes dois instrumentos fulcrais para a concepção desse disco?
Hmmm, fica difícil responder à tua pergunta, porque na verdade durante a construção deste disco, temos pulado de instrumento em instrumento, sempre a experimentar. Mas é verdade, a OP-1 tem sido uma grande aliada na construção da estética do álbum. A magia dessa fotografia para mim, e a razão forte de a ter partilhado, foi sentir que me conseguia definir bem por representar essa linha ténue entre o orgânico e o eletrónico.
“Coisas Fracas” é a primeira peça do puzzle que será Miguela, um trabalho cuja edição nos apontaste para 2024. Até lá, contas dar a conhecer mais singles? Tens um plano mais ou menos delineado para esta caminhada? Como é que nos vai ajudar a gerir a ansiedade no entretanto?
Sim, em setembro voltamos a ficar um bocadinho mais perto de Miguela com um novo single do disco e algumas novidades que nos vão fazer chegar até ele. Até lá, a minha ideia é ir partilhando ao longo do tempo o processo de criação deste álbum de forma crua, seja em fotografias, em scans dos cadernos onde escrevo, de pequenos vídeos ou áudios de novas maquetes no website https://miguela.pt/. Não sei se ajudará a saciar essa vontade de ouvirmos músicas novas, mas gostava de acreditar que vai ser uma forma bonita de convidar todos a entrarem nesta viagem comigo.