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Fotografia: Dani K. Monteiro
Publicado a: 27/10/2022

Ao sabor das correntes.

[Estreia] Silly, “Água Doce” e a “calmaria e tormenta” poética do mar

Fotografia: Dani K. Monteiro
Publicado a: 27/10/2022

“Água Doce” é a nova canção de Silly e conta com a co-produção de Fred e a mistura e masterização de Charlie Beats. Para ser visto em primeira mão aqui no Rimas e Batidas, o videoclipe é assinado por Diogo Lopes (com a assistência de Dani K. Monteiro), transportando-nos para a ilha de São Miguel, Açores, um sítio que serve para uma auto-descoberta pessoal que, consequentemente, informa a arte de Maria Bentes.

Depois de se estrear em projectos com Viver Sensivelmente (2021), a artista está num período em que ainda não há à espreita um novo EP ou, eventualmente, o álbum de estreia: “este tema não antecipa nada, vejo-o mais como um levantar do braço para relembrar que ‘ainda continuo aqui sossegada a fazer o que eu mais gosto’. Estou na fase de criar e só focada em fazer música nova, e é aí que tenho depositado a minha energia, sem pressas de nada.”

Fomos saber um pouco mais sobre esta relação de Silly com a água, o que a vida de estrada lhe trouxe e a criação desta faixa e do seu respectivo vídeo.



A primeira coisa em que reparámos foi que voltas a ter a água e o mar como co-protagonista num videoclipe depois do “Vida a Mil” (e, curiosamente, aconteceu recentemente o mesmo em “Estranha Forma de Vida“). Que relação é esta com a água?

É uma relação intrínseca, eu acho. Talvez por ter nascido numa ilha, estive desde sempre rodeada por água, ali no meio do Atlântico. Para mim, há muita poesia no mar, calmaria e tormenta, então é fácil acabar por ser uma boa metáfora e um lugar verdadeiramente inspirador para aquilo que eu faço.

Fala-nos um pouco sobre como o Fred entra na equação da produção desta faixa e o porquê de teres recorrido a ele.

Há algum tempo que tinha a ideia de colaborar com o Fred, já tínhamos trocado algumas mensagens e equacionado essa vontade mútua. Quando tinha uma demo mais concreta deste tema, pensei no Fred como a pessoa ideal para alinhá-la comigo. Um dos momentos mais fortes para mim no tema era o loop de bateria meio fora que gostava muito de sublinhar e assumir na música. Sendo o Fred, além de produtor, um baterista incrível, pensei que pudesse ter, de forma mais intuitiva, uma abordagem interessante para trazer elementos percussivos para a música. E, sem dúvida, que a levou para um sítio ainda mais bonito que eu sozinha não a teria conseguido levar.

O videoclipe encaixa-se perfeitamente no som e na letra da canção. Tinhas uma ideia e passaste ao Diogo Lopes ou deste-lhe liberdade total para explorar o que a música transmitia?

Eu e o Diogo já tínhamos intenções de começar a trabalhar juntos há algum tempo, fui sempre partilhando com ele as minhas demos e num almoço que tivemos sonhámos com a possibilidade de ir um dia gravar vídeo aos Açores esta música que tinha escrito e tentar captar toda essa essência daquele sítio e de mim a existir lá. E conseguimos! Alguns planos acabaram por cair, outros por vir sem contarmos com eles e partilhámos algumas ideias, mas sendo a linguagem do Diogo tão colada à minha foi muito fácil confiar-lhe toda a direção criativa.

No comunicado dizes: “’Água Doce’ descreve a sensação de estar só comigo, no meio do nada, onde fica mais fácil mergulhar e questionar algumas coisas que sinto”. No entanto, e apesar de passares maior parte do tempo só no vídeo, a verdade é que há ali uma série de miúdos que acabam por aparecer a certa altura. Essa solidão saudável que procuras e encontras nos Açores também ajuda a que depois seja mais fácil perceberes com que comunidades e grupos de pessoas te queres relacionar?

Sim, é solitude, essa vontade deliberada de me aventurar sozinha e estar só comigo, por necessidade e na tentativa de me conhecer cada vez melhor. No final do ano passado, estive a fazer trilhos sozinha nos Açores, no meio daquele verde-vivo todo e da força imponente da natureza, que foi o gatilho para escrever isto. Na verdade, acho que esse processo é muito pouco premeditado, vou-me cruzando com as pessoas e crio essas relações mais ou menos improváveis de forma muito orgânica. Esses frames de que falas foram gravados no bairro de Rabo de Peixe, que é um dos meus lugares preferidos de São Miguel. Quando andávamos às voltas pela ilha sugeri que passássemos por lá e foi muito bonita e inesperada a forma como chegámos, vimos o pessoal todo no Porto de Pesca a saltar para a água e quando dei por nós estávamos num barco no mar e a saltar para dentro d’água também.

Tiveste alguns concertos depois de lançares o Viver Sensivelmente, o que te deve ter dado, para além de colegas de banda e bagagem ao vivo, novas sementes para a criação de canções. Sentiste impulsos diferentes nesta fase diferente que tens vivido?

Sim, ter tocado este ano foi muito feliz e vincou alguns passos importantes para mim, serviu para amadurecer um pouco essa parte de estrada e de aperfeiçoamento do meu live e da minha performance ao vivo. Claro que sim, é tudo consequência do que se vive, depois transformo isso em letras e música. Na verdade, a primeira versão da “Água Doce” surgiu ao piano num dos nossos ensaios com o Diogo Alexandre, que acabou por gravar o loop de bateria que abre o tema, e o Eduardo Cardinho que também gravou um sintetizador. Tocar ao vivo e experienciar essa sensação de proximidade com quem me ouve é um combustível fixe para escrever e compor mais e mais.


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