Em primeira mão no ReB, os Império Pacífico acabam de estrear “Singapura”, o single de avanço do seu próximo álbum, Flagship, que tem edição planeada para o dia 7 de Maio.
O duo, que é composto por funcionário e trash CAN, volta aos lançamentos quase um ano depois de lançar seu disco de estreia, Exílio, incluído nos 20 melhores nacionais de 2020 para a Oficina Radiofónica, que, como se pode ler no seu Bandcamp, teve influências de Daft Punk, John T Gast e New Order, contando com a presença de Maria Reis em “Nitsusada” e cuja apresentação decorreu na Galeria Zé dos Bois, numa noite Superballet, onde abriram para Yves Tumor — e nós estivemos lá.
É difícil atribuir um género específico aos Império Pacífico: conseguem navegar por beats que nos levam remotamente ao afro, ao house, e ao trip hop, enquanto os sintetizadores e as melodias criam paisagens voláteis e descomprometidas, que nos dificultam qualquer tentativa de categorização, e nos remetem para uma estranha mas confortável viagem sónica. Na companhia de Bitroit e Noiva, “Singapura” continua essa jornada (desta vez feita em formato Fórmula 1) do seu antecessor por campos etéreos e dançáveis, onde o espaço para cada som respirar e crescer impera e as emoções são misturadas com batidas que sobrevivem a qualquer dancefloor.
Para sabermos mais sobre o que aí vem, o Rimas e Batidas falou com a dupla:
Como foi para vocês — não só criativamente como pessoalmente — a boa recepção que Exílio teve?
Para nós foi importante ver a nossa música editada em vinil, foi o primeiro que fizemos, tanto em duo como individualmente. Não pela credibilidade que obviamente esse meio proporciona, mas por sentir cada vez mais ténue essa barreira entre o projecto de Ableton “untitled project n° 16183849(…)” e os ouvidos das pessoas que gastam o seu tempo connosco. Abriu-nos algumas portas para experimentarmos mais nas edições que se seguem tanto físicas como digitais. Deixou-nos ainda mais livres.
O vosso último disco foi lançado antes da pandemia. Como é que viver com estas condições afectou o vosso processo criativo?
O Exílio tem das nossas primeiras faixas criadas 100% de raiz em conjunto num contexto de estúdio. Saiu nos primeiros meses da pandemia por via da editora Variz. Sempre trabalhámos individualmente ideias que depois desenvolvíamos os dois, como uma base, um synth, um motivo melódico, uma sample, que até hoje é o núcleo do nosso processo criativo. Ter esse tempo (pouco) numa sala com o computador, um synth analógico ligado directamente e uma pasta com samples de drum machine com um compressor digital, ainda que simples, foi muito elucidativo e relevante para o que depois se tornou o nosso primeiro longa-duração. Facilitou-nos uma abordagem mais próxima de uma performance ao vivo, mais prazerosa até, por combinar improviso com método. Nos dias que correm, seja por trabalho, ou por restrição entre concelhos aos fins-de-semana, temos menos oportunidade de trabalhar lado a lado, e voltamo-nos a debruçar sobre a partilha WeTransfer de projectos e bounces por mixar. Mais que contentes por voltar às raízes de 2013.
Falem-me sobre o vosso próximo disco. O que podemos esperar dos Império Pacífico?
O Flagship é uma continuação da viagem metafórica do Exílio, mais apaziguante em tempos. Um novo capítulo na nossa história. Como um conjunto de aceitação com vontade de evoluir. Um regressar às tardes na esplanada amarela a ouvir os clássicos e o que íamos descobrindo. No fundo, uma ode às nossas maiores referências.
E o que mudou artisticamente desde Exílio?
Hum… Quase nada, pelo menos que consigamos ver a partir “de dentro”.
Sentem que este disco reflecte o contexto pandémico em que nos situamos?
Se fizer sentido para quem o ouve, sim, claro! No entanto, esta situação não está contemplada no imaginário do disco, até porque algumas das músicas foram escritas antes de Março do ano passado.
Porque escolheram “Singapura” como o vosso primeiro single? E de onde veio a ideia do vídeo?
Somos apreciadores de Fórmula 1. Acompanhamos o desporto e esse apelo pela velocidade e perícia exímia está presente em tudo o que criamos. Influencia-nos bastante este tipo de trabalho que ultrapassa o ser humano individual. Quando acabámos de compor a “Singapura” com o Bitrot e a Noiva e nos encontrámos no processo de pensar um videoclipe e até organizar as faixas num corpo de trabalho coeso, veio-nos à mente uma viagem rápida à noite. Não há pista melhor que a de Singapura para esse efeito, foi aí que ligámos os pontos. Convidámos um grande amigo nosso, o Ricardo Lourenço, que compete em E-Sports para colaborar connosco neste trabalho. O resultado de uma tarde de filmagens com ele e umas voltas à pista é o que compõe o vídeo para o nosso primeiro single do Flagship, o “Singapura”, que resume bem o conceito do disco.
Sentem uma ligação com o sudoeste asiático? Para além de Singapura, o single do vosso último álbum (“Nitsusada”) foi acompanhado por um videoclipe com gravações das ruas de Tóquio…
Gostamos muito de pensar os sítios onde estamos a fazer música. Os lugares influenciam a maneira de estar das pessoas e, por consequente, o seu debruçar sobre o que estão a fazer. Todas as faixas deste novo disco têm nomes de espaços ou sítios metafísicos que conhecemos ou gostaríamos de visitar. A Ásia é algo que sempre esteve presente no nosso mundo de variadas formas, ainda que não tenhamos tido a possibilidade de visitar. Acabámos por pensá-la da maneira que nos é apresentada pelos vários meios de comunicação online e pela música que sabemos ser de lá. Interessa-nos olhar a multidão de fora e retratá-la da nossa forma. Os vídeos diria que são uma mistura de coincidência com coesão gráfica do que é olhar a nossa música.
Como vão ajustar o lançamento do disco ao contexto pandémico?
É mais um regressar simpático às nossas origens, um lançamento 100% digital via Bandcamp com adição de plataformas de streaming online, desta vez com colaboração da Leitura Tropical. Para nós, é igual a sempre.