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Fotografia: Steffen Thalemann
Publicado a: 04/09/2024

Entre Paula Morelenbaum Bossarenova Trio e Júlio Resende Fado Jazz cabe um novo rumo de emergentes artistas a ouvir.

Está aí o programa para o Novembro Jazz’24: como o “A” vai ficar de pernas para o ar 

Fotografia: Steffen Thalemann
Publicado a: 04/09/2024

Estão lançados os nomes que irão fazer de Novembro o mês do Jazz em São João da Madeira, na Casa da Criatividade entre outros espaços da cidade industrial, que ano após ano tem mostrando os novos caminhos possíveis na linguagem jazz cada vez mais desafiante de catalogar. A edição de 2024 do Novembro Jazz, que irá decorrer entre os dias 9 e 29 desse mês, trará a terras sanjoaninas, repartidos por seis dias de concertos, alguns dos artistas que ajudam a desenhar os novos mundos da música jazz nacional.

De Eduardo Cardinho, a LANA GASPARØTTI, aos trios de Hugo Lobo ou Pedro Ricardo, chegam-nos as novas vozes de grupos como SAMALANDRA e Zajguar, contrabalançadas através da veterania de Paula Morelenbaum Bossarenova Trio e Júlio Resende Fado Jazz. São então estas as 8 formações que compõem o fresco e irreverente cartaz do evento jazzístico que entra na “fase de loucura na relação de outros espaços da cidade”. Assim mesmo se refere com crença e carinho José Fonseca, do Município de S. João da Madeira, quando em conferência fez a apresentação do evento outonal de música que já é “uma marca forte da cidade”, junto aos programadores artísticos Gisela Borges, da Casa da Criatividade e Rui Miguel Abreu, peça fundamental e de grande simbiose na curadoria deste ciclo.



O simples facto de Paula Morelenbaum ter feito música junto a Tom Jobim fê-la desde logo entender o que é na fonte a bossa nova. Porém foi mais longe, bem mais, e hoje transcreve isso mesmo numa certa renovação, num mundo mais novo da (bossa) nova. Dia 9 de Novembro, às 21h30 haverá palco para conferir o que traz a sua voz junto ao pianista Ralf Schmid e ao trompetista Joo Kraus, os dois brilhantes músicos alemães que compõem Bossarenova Trio de Morelenbaum. 

Dia 15 de Novembro às 21h30 será a vez para (re)escutar umas da mais talentosas vozes do novo jazz que é o vibrafone às mãos de Eduardo Cardinho. A modernidade do instrumento das lâminas de metal ressoam esplendor e inovação pelas mãos deste novo mestre, que nos deslumbra num lugar não muito distante dum certo paraíso, tal e qual como intitula o seu bem recente álbum Not Far From Paradise, lançado pela editora catalã Fresh Sound New Talent. Em disco, e espera-se que em palco também, Cardinho conta com os préstimos sonoros relevantes de Frederico Heliodoro (guitarra e baixo), de Diogo Alexandre (bateria), de José Diogo Martins (sintetizador e teclados) e de Iuri Oliveira (percussão) e ainda do superlativo fole de João Barradas em dois dos temas. 

A 16 de Novembro — no primeiro dos sábados, dias de duplos concertos — haverá palco às 21h30 para Hugo Lobo Trio. Lobo, pianista em casa própria, que Rui Miguel Abreu ouviu pela primeira vez no Távola  Bar, em Lisboa, tocou junto a Romeu Tristão a João Pereira. Sabendo do seu léxico pianístico fez-se logo o clique para o convite para elencar o Novembro Jazz de 2024. Estudou junto a um do grandes mestres do piano jazz português, João Paulo Esteves da Silva, é apresentado como um “dos mais promissores pianistas do jazz nacional” e actuará com Thiago Alves (contrabaixo) e Gabriel Moraes (bateria), dois músicos que com ele preparam o seu disco de estreia. Depois, às 22h45, o palco passa para o lado dos anfíbios — o nome é um daqueles desafios à leitura visual e automática, mas dão pelo exacto nome de SAMALANDRA. E joga-se, muito provavelmente, com isso mesmo, na ilusão cerebral para descobrir de perto afinal a razão de tal anagrama no nome, desafiando o mais óbvio. É que na sua música, a pianista e cantora Débora King, o baixista Tiago Martins e o baterista João Neves “propõem uma original visão do jazz”, ficando o aparente apenas por aí. Fiquemos, pois, bem atentos ao que este trio, desbravador de novas veredas, tem a dar a ouvir. 

Dia 22 de Novembro, apresenta-se às 21h30 Pedro Ricardo Trio. No ano passado foi a vez de Raquel Martins, como música radicada na Londres, cidade caldeirão fervilhante do novo jazz a fazer-se ouvir na Casa da Criatividade, e desta feita é o outro desses nomes vindos do mesmo azimute e com enriquecido propósito. Pedro Ricardo lançou Soprem Bons Ventos pela Soundway, onde se ouvem brisas cruzadas de jazz, heranças culturais populares portuguesas e estéticas vanguardistas de novo jazz britânico, numa confluência que faz lugar e sentido neste multi-instrumentista, a criar novos espaços feitos de uma mescla criteriosa. Isto no ano de 2023 com tempo para dar a conhecer Un Nuevo Amanecer, em duo com o músico argentino Damián Botigué, trazido pela barcelonesa Canela En Surco. Para além de Ricardo nas cordas de guitarra e baixo, estará em palco Pablo Rizo nas teclas e Marco Duarte na bateria. 



No dia 23, o segundo dos sábados de duplas propostas, a noite arranca com Zajguar às 21h30. Eles que fizeram e muito da prestação no ano anterior no foyer da Casa da Criatividade, a antecâmara para este lugar no palco da Casa. Da prestação transacta ficam as palavras reportadas de David Pimenta para o Rimas e Batidas, referindo-se a Zajguar como “promissor trio que se socorre de teclados, baixo e bateria para praticar um jazz escorreito e elegante assente em grooves funk”. Eles que fizeram do par de músicas que deram a conhecer no encerramento da conferência de apresentação deste ano o melhor dos motivos para voltar em Novembro para muitas músicas mais. Como Zajguar respondem Amun Zalo nos teclados, Filipe Neves no baixo e Alex Bastos na bateria. O tal outro nome que importa aprender e bem dizer, desafiando um aparente trava-línguas, é o jazz virado (e lido) de trás para frente imbuído do espirito felino de um jaguar, numa total liberdade autoral jazzística. LANA GASPARØTTI é o nome que se segue em palco às 22h45. A cantora, teclista e compositora de Lagos revelou-se com fulgurante originalidade através de Dimensions pela Estúdio Camaleão neste ano de 2024. Nele ouve-se um entrelaçado de linguagens de jazz, electrónica ou hip hop, onde até cabem os gatos de Lana. Esse desprendimento traz GASPARØTTI com toda a razão das estéticas herméticas até esta programação. Um dos nomes mais criativos e de desafiante música na hora de rotular descritivos ao que se ouve.

Para fechar a programação já revelada deste Novembro Jazz, estará dia 29, às 21h30, o pianista Júlio Resende com Fado Jazz, que junta a guitarra portuguesa de Bruno Chaveiro, e num propósito tão criativo juntará a comunidade local com o Coro dos Pequenos Cantores de S. João da Madeira. Resende tem neste seu último álbum Fado Jazz — Filhos da Revolução, lançado em 2023 para ser vivido em pleno na comemoração dos 50 do 25 de Abril, numa relação evocativa e celebrativa da Liberdade, de Portugal e de África. 

Para além destes nomes esperam-se outros que assumirão os palcos inovadores que se montarão entre o próprio foyer da Casa da Criatividade, e noutros pontos da cidade que ainda se desenham criativamente com os parceiros institucionais como a Cartonagem Trindade, que entra como todo o intuito inventivo que lhe cabe. Daí virá a ideia de um palco chamado Trindajazz na Casa, onde constarão as ilustrações de Cátia Vidinhas, Sebastião Peixoto e Gonçalo Viana da 15ª Bienal de Ilustração de S. João de Madeira. Haverá ainda o Trindajazz em Movimento, que nem caixa de Pandora se abrirá de forma surpreendente, contando com ilustradores emergentes e a cenografia de palco que Israel Pimenta trará e irá modificando a cada novo concerto na Casa da Criatividade. O Centro Comercial 8ª Avenida volta a juntar-se como o parceiro e, como na edição anterior, acolhe a exposição artística conexas ao evento. Este ano, vai estar patente entre 14 de Outubro a 3 de Novembro a exposição “As Mulheres no Jazz” da fotógrafa Márcia Lessa, que depois se visitará na própria Casa da Criatividade entre os dias 9 e 29 de Novembro. Essa mesma Casa que será o lugar para a Feira de Vinil que traz as edições das rodelas negras (e também cada vez mais coloridas) até à cidade e onde se ouvirá jazz posto a rodar às mãos de Rui Miguel Abreu nas embalantes sessões de DJ set nos dias 16 e 23 de Novembro, os sábados como dias de concertos duplos no palco da Casa da Criatividade, o lugar central uma vez mais deste Novembro Jazz em S. João da Madeira, desde onde acaba de ser dado o mote para a edição deste ano e onde “Jazz” se escreverá com a grafia da vogal de pernas para o ar — não é gralha gráfica; é o ver de outro modo, para ouvir de outra maneira. Os bilhetes ficarão disponíveis na página web da Casa da Criatividade a partir de 10 de Setembro e a vontade de que venha a música já está a crescer.


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