Tal como Mort Garson, Bruce Haack também nasceu no Canadá e singrou nos Estados Unidos. Criança com infância traumatizante e sexualidade ambígua, Haack cresceu nas montanhas canadianas com uma forte ligação a tribos índias vizinhas. Facto que se veio a refletir particularmente nas percussões ultra ritmadas das suas composições electrónicas, com pulsação rítmica repetitiva de forte influência nativo-americana, bem diferente, por exemplo, da repetição mais maquinal de uns Silver Apples.
Bruce era descrito como uma pessoa isolada e demasiado tímida. Especializou-se em técnicas como circuit bending; a personalização de instrumentos encontrados; e o corpo como condutor musical. Uma das suas primeiras aparições em televisão foi num programa em que os concorrentes tinham de descobrir os segredos uns dos outros. O segredo de Bruce Haack era “I Play Music On People” e foi aí que apresentou o Dermatron, um instrumento em que Bruce tocava na pele de outras pessoas para criar música. Uma antítese ao “anti-toque” do Theremin que pode ser encontrada no documentário Bruce Haack – King Of Techno.
Conta-se que construiu um anexo em sua casa para dormir e sobretudo para ter mais espaço para toda a sua maquinaria.
Na década de 60, Bruce começou a auto-editar — através da sua marca Dimension 5 — discos com música dirigida a crianças contando para tal com a colaboração da bailarina e cantora Miss Nelson. A intenção do compositor não era equiparar a sua capacidade cognitiva à de uma criança, infantilizando a sua arte, mas sim oferecer qualidade musical às mesmas para que pudessem entender melhor a mente adulta. Uma espécie de psicadélia sem drogas para os mais novos.
A fase mais celebrada de Bruce nasce do seu período mais sombrio — repleto de depressão, abuso de álcool barato e drogas — com o abraçar a uma espécie de ocultismo satânico com a sua obra-prima Electric Lucifer, lançada pela Columbia.
Bruce não consegue um segundo álbum pela major e auto-edita Bite repleto de carga negativa e homoerotismo não aconselhados a menores mas vocalizados por um menor, Ed Harvey.
Só no século XXI o seu trabalho rejeitado de ’77 é lançado por Russell “Def Jam” Simmons com o título Haackula.
[Bruce Haack] “Party Machine”
Foi no final da sua vida que Bruce Haack abraçou o hip hop nesta colaboração com Russell Simmons.
[Bruce Haack] “Upside Down”
Aquele sample a piscar o olho ali aos 20 segundos.
[Bruce Haack] “Blow Job”
Tema homoerótico samplado por Kanye West.
[Bruce Haack] “Rita”
Soa a Soft Cell por todos os poros. Perfeito para um DJ set de synth pop ou pós-punk.
[Bruce Haack com Ed Harvey] “Crazy Dreams”
Outro exemplo da última aproximação de Haack ao electro.
[Bruce Haack] “Stand Up Lazarus” (Peanut Butter Wolf remix)
Em 2012, a Stones Throw editou uma compilação de remixes e edits da obra de Haack. É claro que o patrão ficou com a melhor.
[Rita Braga] “National Anthem to the Moon”
No penúltimo disco da multi-instrumentista Rita Braga está provavelmente a única cover de Haack editada em Portugal.