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Publicado a: 27/09/2018

Dead End sobre Gods & Kings: “Quis fazer uma abordagem mais experimental à minha sonoridade”

Publicado a: 27/09/2018


[TEXTO] Gonçalo Oliveira [FOTO] Margarida Carrriço

Dead End inaugurou hoje uma conta no Bandcamp com o EP Gods & Kings. Para comemorar, o videoclipe de “Blót” acaba de aterrar no canal de YouTube do Rimas e Batidas.

2018 tem sido uma montanha russa de emoções para o produtor da Amadora. O ano começou da melhor forma com o lançamento de “Svartahaf” e o anúncio que seria um dos nomes a integrar a primeira beat battle de sempre no NOS Alive, curada por DJ Glue, onde “defrontou” Fumaxa e SP Deville. Seguiu-se Cobweb, um EP que assinalou a segunda edição de sempre da Moriko Masumi, de Ghost Wavvves, e também Left Hand Path, o primeiro projecto de parceria de Dead End com M.A.F., eles que já tinham trocado impressões musicais em “Don’t Overthink”.

Todos estes feitos só poderiam ser abalados pela perda de um companheiro de armas. Carlos Salgueiro era um dos grandes admiradores do saudoso Razat, um devoto assumido da cultura beat portuguesa. “Este EP é dedicado ao Razat”, lê-se na descrição de Gods & Kings, que chega exactamente um mês após a primeira homenagem, “One For Baltazar”.

Gods & Kings contém seis temas inspirados na mitologia nórdica e conta com a mão de Eduardo Cartaxana no design da capa.

 



Explica-me a sonoridade que trouxeste neste Gods & Kings. Alteraste alguma etapa no teu processo habitual de criação?

Penso que principalmente acrescentei mais uma etapa ao meu processo de criação, onde faço sessões de horas a desenvolver mais pormenorizadamente aspectos de sound design, o que ajuda a tornar as faixas mais únicas e detalhadas, com o objectivo de criar uma experiência sonora mais envolvente. Tentei que as faixas funcionassem de forma diferente, com vibes diferentes, mas que ao mesmo tempo fossem coesas enquanto experiência sonora e se complementassem através do conceito que desenvolvi e que gira à volta da mitologia nórdica. Acima de tudo quis fazer uma abordagem mais experimental à minha sonoridade, mas sem fugir às minhas raízes e tentando trazer algo novo à música electrónica nacional.

Tens aqui bastantes expressões ligadas à mitologia nórdica. De que forma é que isso te influenciou musicalmente?

Sempre que lanço um EP tento criar um conceito próprio e uma narrativa que serve como linha-condutora e que torna a experiência mais interessante, tanto para mim como para o ouvinte, apelando à imaginação de cada um. Desde novo que sou fascinado por várias mitologias, principalmente pela nórdica e pela grega. Os mitos e as histórias contadas e baseadas em tradições e lendas para explicar o universo e a criação através de figuras tão poderosas, são tão imaginativas e de uma envolvência e complexidade tal que me cativam desde pequeno. Neste caso é mais uma parte da minha vida e dos meus gostos pessoais que influenciam directamente a minha música, a maneira como a faço e os conceitos que crio à volta dela.

Este é a terceira vez que te apresentas num formato extenso neste ano, agora numa edição totalmente independente. O que é que andas a preparar? Há por aí alguma editora que andes a “namorar” para um próximo lançamento?

Neste momento estou a trabalhar em mais dois EPs que vou tentar lançar até ao fim do ano, um pela Moriko Masumi e outro pela Sound Museum, que é uma afiliada da Saturate Records. Depois tenho mais faixas soltas que estou a desenvolver para a Saturate, que é uma das minhas editoras internacionais favoritas e que significa muito para mim, porque foi a primeira label internacional a dar-me a mão e a incentivar-me a produzir mais e a enviar-lhes música. Além disto tenho sempre em mente como grande objectivo distante mas possível: lançar um dia na Division, Brainfeeder, Ninja Tune ou Warp Records.

Lanças também o videoclipe para o “Blót” pelo Rimas e Batidas, um formato que é muitas vezes posto de lado por quem apenas produz. Fala-me um bocado sobre o conceito que pretendias para esta apresentação visual, da escolha do espaço e dos adereços.

Quando faço uma edição independente, visto que tenho o controlo sobre tudo e trabalho em vídeo, tento sempre ter pelo menos um suporte visual que acompanhe o EP e que é sempre desenvolvido em parceria com um amigo meu e com o meu irmão. Penso que é importante cada vez mais os produtores, como artistas de nome próprio, apresentarem trabalho visual para acrescentar valor à sua visão e ajudar a quebrar cada vez mais a barreira do produtor servir de muleta para outros artistas. “Blót” significa “sacrifício” ou “ritual” e achámos que esta abordagem estética que apresentamos, com recursos extremamente limitados, passaria essa mensagem de uma forma experimental e que fosse de encontro ao que é o conceito desta faixa. Acaba por ser quase como uma peça de video art e que tem sempre um significado mais profundo através da passagem de uma realidade para a outra, do local abandonado escolhido para o ritual, do fumo, do caldeirão de referências à cultura pop, da edição fragmentada, dos efeitos, etc. Sobretudo é uma peça visual que alia o conceito à técnica e que nos permite explorar sem qualquer limite criativo.

No Verão foste convidado pelo DJ Glue para a primeira beat battle de sempre no NOS Alive, onde defrontaste o Fumaxa e o SP Deville. Como correu e o que destacas dessa importante experiência de competir saudavelmente com outros colegas?

Eu adoro competições de beats e a experiência correu muito bem, principalmente porque foi o meu primeiro festival e tive a oportunidade de poder mostrar a minha música a um público mais vasto. Acho que é muito importante existirem competições saudáveis de produtores e devemos congratular o DJ Glue pela iniciativa num festival desta dimensão, porque além de unir os artistas com a partilha de experiências, também ajuda a que o público tenha um conhecimento mais alargado do trabalho que é desenvolvido por quem está horas incontáveis fechado a produzir música. Acima de tudo foi uma experiência muito interessante e que espero que possa continuar no futuro com outras iniciativas, porque saímos valorizados enquanto artistas e serviu de exposição a uma diversidade de sonoridades que não chega tão facilmente aos ouvidos do público.

 


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