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Ilustração: Riça
Publicado a: 24/04/2019

Do hip hop para qualquer lado: Crónicas de um HipHopcondríaco é da autoria de Manuel Rodrigues.

Crónicas de um HipHopcondríaco #19: Saber ler e interpretar

Ilustração: Riça
Publicado a: 24/04/2019

No passado dia 2 de Abril, viajei até Londres para ver Drake ao vivo. O concerto, inserido na digressão Assassination Vacation, teve lugar na O2 Arena, emblemática sala de espectáculos localizada em North Greenwich, onde o rapper canadiano se instalou para uma louca maratona de sete noites. Marquei presença no segundo dia de evento e escrevi uns parágrafos para o Rimas e Batidas acompanhados do título “Drake na O2 Arena: a força devastadora do maior ícone musical dos nossos tempos”.

Há que saber ler frases e interpretar palavras. Quando afirmo que Drake é o maior ícone musical dos nossos tempos, não estou a dizer que é o melhor músico nem sequer o melhor performer. Também não quero com isto dizer que seja o melhor rapper nem por sombras o melhor letrista (talvez um dos seus maiores pontos fracos, pelas questões frequentemente levantadas em torno do ghostwriting). Nada disso está em jogo, até porque existirão nestes campos nomes que facilmente suplantam o talento de Aubrey Graham.

Uma visita ao dicionário, juiz supremo quando duvidamos do significado das palavras, diz-nos que um ícone é “pessoa, facto ou coisa capaz de evocar e representar determinado movimento, período, actividade, etc”. Talvez o que eu queira no fundo dizer é que Drake é actualmente o artista com maior presença e representatividade no meio musical. Não é necessariamente o artista que constrói as melhores canções nem aquele que as serve melhor em palco. É, isso sim, aquele que mais vende e um dos que mais multidões arrasta consigo, venham elas materializadas em público nos concertos, em reproduções em plataformas de streaming ou até em constantes clonagens no mercado musical: quantos não tentam seguir-lhe as pisadas e quantos não se terão erguido como assumidas cópias do seu perfil e carreira?


Drake na O2 Arena: a força devastadora do maior ícone musical dos nossos tempos


Entra agora em jogo a baliza temporal presente no título. O recurso às palavras “nossos tempos” é bastante claro na sua missão. Não está em jogo a fase áurea de Kanye West, muito menos da hegemonia de Michael Jackson, Madonna ou até U2. Trata-se da actualidade, dos dias de hoje. E no agora, não parece haver ninguém que bata Drake. Mesmo não se aproximando da capacidade lírica de Lamar, da competência em palco de Beyoncé e do talento de Bruno Mars, Drake é aquele que surge em primeiro lugar quando do Olimpo da pop se trata, gostemos ou não da sua obra. A cada passo que dá, Drake leva a indústria atrás de si. E isso esteve saliente quando virou costas ao formato álbum propriamente dito e editou a playlist More Life, quando lançou o videoclipe minimal e ajustado a dispositivos móveis de “Hotline Bling” ou até quando mostrou ao mundo as suas mixtapes. Todos estes pontos foram minuciosamente discutidos nas assembleias das redes sociais e nos textos publicados pela crítica especializada.

Mas é com base em números e factos que se alcançam as melhores conclusões, e os de Drake, num contexto de vendas e reproduções via streaming, são arrasadores. A 11 de Julho de 2018, a CNN publicava um artigo com o título “Drake breaks Beatles historic record”, dando conta que o músico canadiano havia colocado sete singles em simultâneo no top 10 do Hot 100 da Billboard, destronando assim o feito alcançado pelos Fab Four, que conseguiram um total de cinco músicas no topo da mesma tabela (a banda de Lennon e McCartney continua, ainda assim, a ser a única a ter monopolizado o top 5 durante uma semana).

Mas há mais. Com Scorpion, álbum editado no ano passado, Drizzy conseguiu mil milhões de streams em apenas uma semana, ultrapassando Beerbongs & Bentleys, de Post Malone, que havia atingido a marca dos 700 milhões. No que toca ao histórico de presenças no top 10 da lista Hot 100 da Billboard, também Drake bateu um recorde, até então detido por Michael Jackson, posicionando um total de 31 temas nos lugares cimeiros, roubando assim a coroa ao rei da pop, que viu 30 das suas músicas alcançarem o cobiçado patamar. Drake conseguiu ainda bater-se a si próprio, colocando os 25 temas do disco em simultâneo no Hot 100 da Billboard (More Life fora o responsável pelo recorde anterior, estabelecido em 24). Estes são apenas os exemplos mais próximos e directos, existirão certamente mais e com maior longevidade. Mas é do agora que se trata.

Podemos somar a isto tudo o carácter viral dos seus vídeos (“Hotline Bling” gerou uma quantidade incalculável de memes; “In My Feelings” despoletou uma verdadeira enxurrada de vídeos sob a chancela #inmyfeelingschallenge) e o magnetismo que o leva a esgotar salas de espectáculo mundo fora, com o caso da residência no O2 Arena a erguer-se como um excelente exemplo da sua magnitude – sendo a lotação da sala londrina calculada em 20 mil pessoas, estamos a falar de um total de 140 mil almas. Poucos artistas da actualidade conseguirão alcançar tal façanha. Drake é a maior estrela pop dos nossos tempos. Só não o vê quem não quer.


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