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Texto: ReB Team
Fotografia: Teresa Fradique & João Mineiro
Publicado a: 26/11/2024

Rever a história com o auxílio da música.

Ciclo “Outros Hinos” desafiou a escuta e os imaginários nos 50 anos do 25 de Abril

Texto: ReB Team
Fotografia: Teresa Fradique & João Mineiro
Publicado a: 26/11/2024

No passado dia 22 de novembro, o padrão dos descobrimentos foi palco da iniciativa “Outros Hinos: Desafios à Escuta nos 50 anos do 25 de Abril”, organizada pelo Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA), em parceria com a campanha “Abril é Agora – 50 anos 1974/2024“. Inserido nas celebrações dos 50 anos do 25 de Abril e das independências, o evento contou com a coordenação de João Mineiro, André Castro Soares e Teresa Fradique, e reuniu dezenas de pessoas para escutar, refletir e celebrar outros hinos possíveis que ajudam a contar a história da sociedade portuguesa e da diversidade de corpos, vozes e imaginários que a constituem.

O evento partiu da ideia de que os 50 anos do 25 de Abril e das independências africanas são acontecimentos históricos interdependentes e de que a música tem sido um campo fundamental, embora subvalorizado, para compreender a história dos últimos cinquenta anos. Na abertura, João Mineiro destacou que a história da democracia portuguesa continua marcada por narrativas herdadas do período colonial, amplamente representadas por símbolos como o Padrão dos Descobrimentos ou o hino nacional. No entanto, existem outros hinos que cantam e contam histórias alternativas, desafiando a narrativa imperial e lusotropicalista que Portugal ainda continua a contar sobre si próprio. Pelo seu turno, Teresa Fradique reforçou a importância de escutar atentamente esses outros hinos, salientando que os meios académicos devem assumir novos lugares de escuta, em vez de protagonizarem sempre os lugares de fala. Por sua vez, André Castro Soares sublinhou que o encontro foi concebido para promover uma escuta plural das diferentes gerações, imaginários e poéticas que narram histórias alternativas sobre os 50 anos da democracia e das independências.

O evento organizou-se em quatro mesas temáticas, cada uma incluindo momentos de escuta de músicas selecionadas por convidados, seguidos de diálogos e reflexões partilhadas. Na primeira mesa, intitulada “Sons de Família: Músicas da Diáspora Africana na Grande Lisboa”, Selma Uamusse escolheu “Olhos Molhados”, de Bonga, e “Zouk La Se Sel Medikaman”, de Kassav, enquanto Chalo Correia apresentou “Muxima”, de Waldemar Bastos, e “Sodade”, nas interpretações de Cesária Évora e Bonga. Ambos lembraram a importância da música em contextos familiares e comunitários, constituindo uma memória afetiva de tempos de importantes transformações pessoais, sociais e coletivas. Já o investigador André Castro Soares trouxe à escuta dois temas mais recentes — “Baju”, de Paulo Flores, e “Semba no Pé”, de Titica — salientando os desafios políticos e sociais do presente, nomeadamente as importantes transformações ao nível da visibilidade e do orgulho LGBTQIA+ em Angola. 

Na segunda mesa, intitulada “A Palavra à Rua: A Revolução Poética do Hip Hop”, Ricardo Farinha trouxe à escuta “Já Não Dá”, de Chullage, e “Medo do Medo”, de Capicua, refletindo sobre o impacto político e social do hip hop. Mynda Guevara apresentou “País das Maravilhas”, de Plutónio, e “Terapia”, de Phoenix RDC, sublinhando as narrativas de resistência na música, o seu potencial transformador e terapêutico, aproveitando ainda o evento para denunciar os artistas que usam o “gueto” de forma performativa, para videoclipes e discursos, que têm plataformas de milhares de pessoas, mas que ficaram em silêncio depois do assassinato de Odair Moniz para não prejudicarem as carreiras. Já Teresa Fradique escolheu “Miraflor”, dos TWA, destacando o papel pioneiro deste grupo no rap crioulo em Portugal e os legados que inscreveu e que hoje se expressam na pluralidade de projetos musicais neste campo. 

A terceira mesa, intitulada “Descolonizando o Som, a História e os Imaginários”, contou com as escolhas de Bruno S. Dinis e Elias Celestino, jornalistas e investigadores da Bantumen, que apresentaram “Meninos do Huambo”, nas versões de Paulo Flores e Ruy Mingas. André Xina propôs a escuta de “Mi Ka Nu Nigga”, de Prétu e Scúru Fitchádu, extraída de Xei di Cor, o álbum de estreia de Prétu. A mesa concluiu com o artista multidisciplinar Henrique J. Paris, que abordou a relação entre a peça Padrões de Polifonia, em exibição na exposição “Álbuns de Família” no Padrão dos Descobrimentos, e o EP Ressurgências, editado em agosto deste ano com RS Produções.

O encerramento do evento, sob o mote “Mais Sotaques e Música na Rua”, incluiu uma palestra sónica intitulada “Humming as a Praxis II”, apresentada por Henrique J. Paris, e uma roda de samba conduzida pelo coletivo Viva o Samba, que celebra dez anos de existência, promovendo a diversidade de sotaques, histórias e imaginários na sociedade portuguesa.


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