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Publicado a: 19/11/2018

azul-revolto: “O sampling torna-se cada vez mais imprescindível nas minhas produções”

Publicado a: 19/11/2018

[TEXTO] Vasco Completo [FOTO] Direitos Reservados

Entre os mais diversos estilos, géneros ou culturas, entre os vários tipos de espaços, ao ar-livre ou em salas de dimensões variadas, existem pistas de dança e pistas de dança. Naquela mais meditativa e exploratória, é possível encontrar azul-revolto, produtor que acaba de lançar o seu mais recente EP pela ZABRA records.

O som orgânico e potente dos kicks não se encolhe para dar lugar às melodias dos samples — há espaço para tudo. São os sintetizadores que nos fazem fechar os olhos e lembrar: SEIVA ouve-se a dançar, mas também no quarto com headphones. Sediado na música house, com um olho numa das pistas com melhor paisagem em Lisboa (podíamos passar SEIVA no Lux, certo?), o outro nos instrumentos. Podíamos tratá-lo como um artista de lo-fi house, mas, em sentido inverso, existe um som muito limpo nas batidas de azul-revolto.

Realizado por João Pedro Fonseca, o vídeo para o single “Unção” traz novas sensações para a expressão artística de azul-revolto. A perseguição e luta que ocorrem no videoclipe relembram que a sonoridade do produtor não é só sobre o movimento, mas também sobre a natureza (humana, talvez).

 



Assinaste o teu EP anterior pela Algebra e agora mudas-te para a ZABRA. Como é que isso acontece?

Em 2017 ouvi o Kept produzido por Casually Here (Algebra Records), fiquei impressionado com o álbum e acabámos por colaborar. Produzi o EP Livid, que saiu pela Algebra, numa edição limitada e uma das faixas, “Substance”, foi então produzida em conjunto com o Casually Here, ficámos satisfeitos com o resultado final.

Desde então tenho vindo a produzir este novo EP, paralelamente a outros projectos. Este novo trabalho conta com um remix de Random Gods, que introduziu uma linguagem sónica que se mistura na perfeição com a faixa “Unção”.
Relativamente à editora, a ZABRA nasce recentemente pelas mãos do Rui Ribeiro Alves e do João Pedro Fonseca e estou grato pelo facto desta ser a casa para este novo EP. Na minha opinião, acho que se destaca das restantes editoras nacionais não só pela abordagem musical livre e descomprometida, mas acima de tudo pela fusão entre as artes visuais e a música electrónica.

Qual é o peso do sampling na tua produção? Ouvimos dois ou três samples em “Unção”. 

O sampling torna-se cada vez mais imprescindível nas minhas produções. É evidente em DJ Spielberg mas, no caso de azul-revolto, toma uma posição secundária, mas ainda assim essencial: sejam field recordings, gravações de cânticos tradicionais ou ritualísticos. No fundo, tudo o que eu ache que possa complementar a forma como retrato uma determinada paisagem sonora.

É interessante que o EP se refira muito à natureza e queiras, no vídeo, representar a violência e a perseguição. Podes falar-nos um pouco desta relação?

Sem querer descortinar demasiado, SEIVA ocorre num cenário selvagem, por vezes hostil e nocturno, por vezes diurno e luminoso. O vídeo de “Unção” é da autoria do João Pedro Fonseca e foi uma das melhores surpresas deste trabalho, assim como o artwork de David Bastos. No vídeo para o single “Unção” interpreto como uma espécie de entidade superior, omnisciente e omnipresente, que afecta a personagem principal. A violência e perseguição como a dualidade corpórea e espiritual, que no limite passa à renúncia do corpo, da carne. No final, é alcançada a superação e uma transcendência que nos leva a lugares até então desconhecidos. Acho que o video do João Pedro Fonseca dá espaço a uma interpretação muito pessoal e isso é incrível.

Vindo duma linhagem do house, quais consideras serem as tuas maiores influências? Tanto dentro deste género como fora. 

Para este EP destacaria Tornado Wallace, Demdike Stare, Huerco S. Fora desse género, destaco a estética obscura do compositor/produtor húngaro Laszlo Hortobagyi e o californiano Matt Uelmen (foram muitas horas a jogar Diablo II há uns bons anos). Ainda nas influências para SEIVA, além das viagens recentes, a atmosfera do filme El abrazo de la serpiente.

Quais são os teus objectivos com azul-revolto para os próximos tempos? Além de passar do Desterro e do DAMAS para o Lux, claro!

“Prefiro ser essa metamorfose ambulante”, cantava Raul Seixas. O mesmo para azul-revolto: produzir livremente, influenciado pelo que me faz sentido nesse momento sem me limitar a uma estética rígida.

 


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