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A banda mais portuguesa do mundo

[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTO] Direitos Reservados

De Braga para Nova Iorque. Não. De Braga para Portugal. Esperem. De Braga para Portugal, passando pela Internet, os Ermo são a banda mais portuguesa do mundo. De 2011 para 2017, os Ermo criaram, destruíram, criaram novamente, desfizeram-se em cacos e, este ano, trouxeram roupa nova com pequenos rasgos do passado. Uma nova linguagem que foi criada a partir de tantas outras.

“Neste momento, acho que não existe uma ligação óbvia para nós em termos de música alternativa portuguesa”. As palavras são de Bernardo Barbosa em conversa com o Rimas e Batidas a propósito do lançamento de Lo-fi Moda, em 2017, mas poderiam ter sido ditas em 2012, ano em que lançaram “Augusta”, faixa incluída na compilação À Sombra de Deus IV. Em Portugal, a dupla viaja à sua própria velocidade e nos seus próprios termos. É a vantagem de se ser único.

A visceralidade e a poesia, apocalíptica e encriptada de António Costa, o vocalista declarado nos primeiros trabalhos, é A Língua Portuguesa a Gostar Dela Própria. “Perdoa-me esta vã, / Triste dialéctica / Mas o meu coração / Não me cabe nesta métrica”, cantava em “Correspondência” (2013). “Vem molhar os pés na areia/ Vem secar a maré cheia/ Para só poderes lembrar/ Um deserto que era o mar”, atira em “Vem nadar ao mar que enterra” (2017).

“O Zé Povinho somos todos nós quer queiramos, quer não, portanto mais vale assumi-lo que entrar numa negação ridícula”, confessavam numa entrevista com a publicação Altamont, em 2013. Em Ermo, não existe nem um momento de hesitação quanto à terra que os viu nascer, mesmo que, por vezes, as coordenadas estejam mascaradas pela capacidade de navegarem por outros mundos. Pelo caminho, não percebemos se saíram numa paragem em Loures, Braga ou Lisboa.

Pegaram na experimentação deixada a meio-caminho por António Variações, “sacaram” a sujidade da escrita de Adolfo Luxúria Canibal e, para dar o último pontapé na questão, piscaram o olho, no mais recente longa-duração, à destreza e imprevisibilidade rítmica das produções da Príncipe Discos. E a citação de “Não Existe Amor em SP“, faixa de Criolo? Não estavam à espera dessa, aposto. Afinal de contas, a ponte entre Portugal e Brasil é real, mesmo que a localização da mesma não seja a mais óbvia…

Não é de estranhar que escolham nomes como Janita Salomé, Zeca Afonso, Sam The Kid, Nuno Canavarro ou Samuel Úria para a lista de canções que definem Portugal. Nos pormenores, todos esses artistas estão representados na música de António Costa e Bernardo Barbosa. A mestria é consegui-los esconder tão bem nos intervalos que quando olhamos só vemos Ermo.

 


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