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Publicado a: 04/07/2017

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[TEXTO] Diogo Santos

Atenção: este Lo-Fi Moda é uma entrada a pé juntos, perfeitamente a tempo do defeso sem futebol, mas com romarias, festas e festivais em tudo o que é canto! Ao segundo álbum, os Ermo – António Costa (sim, esse mesmo… o de Braga) e Bernardo Barbosa – afirmam-se e confirmam-se como um dos duos mais criativos e destruidores de fronteiras sonoras que há por cá.

 



Lo-Fi Moda dá para partir em duas partes, mas não ao meio. Abre de forma quase contemplativa com “Vem nadar ao mar que enterra”, no limite estamos a falar de um belo poema e de uma interpretação capaz de fazer corar Vítor de Sousa ou Jorge Nuno Pinto da Costa: “(…) o mar também é deserto / Onde eu me vim banhar / Na água do meu chorar / Vem molhar os pés na areia / Vem secar a maré cheia / Para só poderes lembrar o deserto que era o mar (…)”. De seguida, a tripla “ctrl + C ctrl + V”, “Circle J” e “Fa zer vu du” parecem faixas irmãs, na medida em que se atiram descaradamente à vaidade e à superficialidade. Liricamente falando, estaremos por esta altura no pináculo de Lo-Fi Moda: mensagem voraz e claramente direccionada a uma cultura de egos e de umbigos gigantes. Ah, e a percussão da “ctrl + C ctrl + V” a fazer lembrar um bocadinho a “Fools Gold” dos Stone Roses?

“Raicevic.als” surpreende com a introdução de um saxofone que funciona quase como calmante. Por esta altura, aproveitem para absorver a mensagem disseminada anteriormente e comecem a fazer exercícios de aquecimento, com máxima atenção às articulações dos pés e dos joelhos. “Púrpura pálido” revela-se uma das mais belas e doces canções de Lo-Fi Moda. E “Entre Aspas” é um exercício quase a cappella, ao estilo de algumas das coisas feitas por Bon Iver no 22, a Milion. E é mais ou menos por aqui que termina o exercício de contemplação.

 



Lo-Fi Moda encerra-se com uma das melhores sequências do disco: “Frito Futuro” e “Contra”. A primeira, talvez a faixa mais incrível do álbum. Deixa água na boca para um potencial festeiro que certamente verá “Frito Futuro” prolongar-se bem para lá dos 4:47 com que se apresenta no registo. Aqui, para os que ainda possam ter reticências, estamos perante uma das malhas do Verão. E, ou muito nos enganamos, uma das referências da música feita por cá em 2017. Bom, para “Contra” a ideia é mais ou menos a mesma – se aquele beat não tivesse um fim, esta prosa também não teria tido um início.

Em jeito de conclusão e para os que gostam de mapas, os 37 minutos de Lo-Fi Moda são, acima de tudo, um feliz encontro entre a electrónica e aquela pop (punk não é certamente) que se estica orgulhosamente pelos sintetizadores adentro. Pode por vezes parecer ser um piscar de olhos aos HEALTH ou aos Crystal Castles. Por cá, e assim de repente para os que andam e andaram distraídos, é só recordar o movimento música pop desempregada, uma das casas mãe do lo-fi português em todos os seus géneros e feitios… Será Lo-Fi Moda um clássico instantâneo? O Verão está quente. Tirem a roupa e dancem que se faz tarde.

 


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