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15 de Setembro, 2017: O futuro já começou

[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTO] Direitos Reservados

No dia 25 de Maio de 2016, o Rimas e Batidas publicava um ponto-de-vista sobre a iminente data histórica que se aproximava: 16 de Julho. Numa entrevista a propósito do projecto Língua Franca, Valete chamou-lhe “a maior reunião de sempre da cultura hip hop” e, para quem esteve lá, foi realmente um dia de mudança, mas, levando as palavras do rapper consciente ainda mais longe, queremos acreditar que também foi a partir desse particular momento que o hip hop português teve o seu primeiro passo para o domínio em território nacional, um reflexo do que se passava então no panorama internacional.

 



Curiosamente, os Orelha Negra fizeram parte desse dia e puseram em prática toda a sua técnica e virtuosismo a favor dos De La Soul e Kendrick Lamar. Ou seja, foram uma “entrada” tão boa quanto a refeição principal. Nessa altura, o terceiro álbum já estava a ser cogitado – “Parte de Mim” saiu um dia antes da actuação no SBSR’16 – , mas só amanhã é que teremos a oportunidade de recebê-lo “em mãos” e degustá-lo. Isto acontece no mesmo dia em que actuam na segunda edição do Festival Iminente em Oeiras. Coincidência?

O convite foi endereçado por Vhils, um dos criadores mais importantes e relevantes dos últimos anos em Portugal. O Festival Iminente é uma retribuição generosa para a inspiração que este país lhe deu. Como não poderia deixar de ser, o talento nacional está muitíssimo bem representado, e, entre os repetentes, Halloween ergue o braço e grita: “Desta vez vai ser diferente”. Bem, isto foi a nossa imaginação a divagar, mas a verdade é que Allen Pires irá apresentar Unplugueto pela primeira vez ao vivo no dia 15 de Setembro. Dupla coincidência?

A relação do autor de Híbrido com o hip hop nacional não é clara: insere-se no meio, mas sempre se manteve à parte, o que num universo tão pequeno pode ter afectado várias vezes a sua carreira. Não é uma lógica totalmente descabida, mas a verdade é que isso nunca foi impedimento para ser um dos mais carismáticos e apaixonantes artistas da música nacional desde que apareceu com o Projecto Mary Witch.

Neste texto, pretendemos deixar já um ponto assente: Unplugueto tem tudo para ser um momento de viragem. E não nos percebam mal: Halloween lançou três álbuns clássicos, e parece estar cada vez melhor. Ele não precisa de provar nada a ninguém, mas é verdade que o que merece está longe daquilo que conquistou. Mesmo que a arte não se possa e não se deva medir por números comerciais ou arenas cheias, o que na realidade acontece é que a genialidade nem sempre tem casa no sítio certo.

No entanto, Rodrigo Amado emprestou-lhe uma “arma” importantíssima para se aproximar do Coliseu dos Recreios, por exemplo. Há dias, tivemos direito a nova indicação que Unplugueto poderia significar mudança: a nova versão de “S.O.S. Mundo” é intervenção e poesia em movimentos delicados, um monumento recuperado com um novo tecto pintado pelo maior pintor saxofonista da sua terra.

 



Batemos novamente à porta e ouvimos os primeiros acordes de “Bandido Velho” (versão Unplugueto) e tudo faz sentido. “Ninguém ouve, ninguém ouve. Ninguém ouve, irmão”. Não é verdade; muitos ouvem, e muitos mais vão começar a ouvir. E se o discurso sujo, cru e revolucionário só fala directamente e verdadeiramente para uma percentagem “pequena”, a maneira como escreve é, saindo da bolha hip hop, uma versão actualizada de cantautores como Sérgio Godinho, Zeca Afonso, Jorge Palma, entre tantos outros que se tornaram nomes para quem olhamos com frequência quando queremos encarar a elite portuguesa que trata bem a palavra. Visto de longe, Unplugueto poderá ser a materialização dessa ideia.

E o que é que os Orelha Negra e Allen Halloween têm em comum? Bem, bastantes coisas. São dois expoentes máximos do hip hop português, representam variações diferentes que atribuíram outro brilho ao género e – rufar de tambores… – apresentam novos trabalhos amanhã, no Jardim Municipal de Oeiras. A eles, juntam-se o prodígio Slow J, o justiceiro Mike El Nite ou os singulares Throes + The Shine e DJ Marfox + DJ Nervoso.

Com 3000 pessoas confirmadas nesse dia, a história do hip hop nacional continua a ser contada, mas agora com uma pluralidade nunca antes vista. E ouvida.

 


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