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Publicado a: 28/10/2016

Um cheiro a Low End Theory no Jameson Urban Routes

Publicado a: 28/10/2016

[TEXTO E FOTO GQOM OH!] Amorim Abiassi Ferreira [FOTOS TEEBS] Inês Costa Monteiro

 

Outubro reservou uns quantos dias de calor e estes cruzaram-se com o Jameson Urban Routes. O que, tendo em conta alguns dos nomes anunciados, foi uma coincidência perfeita para a celebração de dez anos deste festival. A sessão 7 apresentou-nos duas estreias: Teebs e um showcase da editora Gqom Oh!. Duas actuações de mundos completamente opostos, mas que se cruzaram na sua intensidade.

 


 

teebs 1


Quando ontem falava de Gold Panda como um daqueles mitos que tenho na cabeça, Teebs teria também de ser incluído nessa lista. Estes produtores, entre outros como Flying Lotus, Shlohmo, Nosaj Thing, Daedelus, Jonwayne, etc, surgiram em bando num movimento ligado ao Low End Theory, uma noite semanal em Los Angeles onde a experimentação de beats voltou a ganhar uma força que tinha andado acanhada até tanto antes.

Este movimento já perdeu muito do vapor inicial e grande parte destes artistas começaram a divergir para outras experimentações. E depois temos Teebs, o homem que se mantém próximo de tudo o que começou a lançar desde o primeiro dia. Se entrei para o concerto com expectativas altas? Certamente. Ouvi-lo ao fim-de-semana é ritual semi-recorrente em casa e era importante experienciar a sonoridade dele num sistema de som digno.

 



O produtor entrou em palco com uma t-shirt da selecção nacional do Japão. Ah, e tinha o Pingu espetado mesmo ao centro desta e admito que cobicei uma para mim. Ao começar a tocar, é óbvio que a assinatura sónica deste artista é inconfundível: uma escolha de samples sempre ricos em textura formam melodias elegantes que só nos puxam de volta à terra pelas suas percussões quebradas e de grande porte.

 


teebs 2


E de repente, senti-me numa Low End Theory, ou aquilo que sempre imaginei uma ser, enquanto era apresentada uma sequência de beats que nunca abusam do seu tempo de estadia. A cada música: uma nova percussão, um novo mood, como que se estivesse a assistir a uma passagem de slides meticulosamente temporizada por Mtendere Mandowa. Se a sala se encontrava vazia isso não impediu umas quantas manifestações calorosas quando entravam músicas conhecidas como a “While you Doooo” ou “Just the Yellow Bits”.

 



Entre as suas produções, Teebs misturou batidas de outros autores, criando uma actuação com um saudável equilíbrio de pontos fortes e calmos que só pecou pela sua duração. Todos os que tinham ido até ali certamente queriam ver mais. Para o fecho? Não poderia ter sido menos que “Verbena Tea”, a avassaladora faixa que é, discutivelmente, o culminar de intensidade tranquila de toda a sua discografia.

De seguida, estava na altura do showcase da label Gqom Oh!. Pronuncia-se Gome e representa um movimento sonoro da África do Sul, mais especificamente dos súburbios de Durban. De foco na batida acima de tudo, cada uma destas músicas tem um ritmo feroz e frenético. Se o gqom vai beber a influências de house, uk funky e kwaito (um garage abrandado de origem sul africana), ele difere de todos estes estilos na forma como trata as suas melodias. Cada música tem synths e drones que pintam um cenário mas são as percussões assimétricas que se encarregam de ditar sem oposição.

Os embaixadores da Gqom Oh! foram Nán Kole, fundador da editora, e Dj Lag, que em conjunto ofereceram duas horas de uma sonoridade que nunca tinha ouvido antes. Com uma selecção de músicas de artistas que pode ser ouvida aqui, numa colectânea dos sons de Durban, a dupla não refreou no peso do assalto de kicks e melodias frenéticas e repetitivas. Talvez uma casa cheia tivesse permitido experienciar melhor algo que claramente vive à base de intensidade.

 


GQOM OH

 

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