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Fotografia: Zé Fonseca
Publicado a: 27/06/2023

A nova vida de um clássico.

Tilt sobre a reedição comemorativa de ACC/CDM: “Ficou rica em pormenores e conteúdo”

Fotografia: Zé Fonseca
Publicado a: 27/06/2023

A 1 de Junho de 2013, Tilt estreava-se num disco a solo com Alimentar Crian​ç​as Com Cancro da Mama, trabalho que viu a luz do dia pela extinta No Karma e que rapidamente se solidificou enquanto obra clássica de uma então nova geração que estava a despontar no hip hop português. 10 anos depois, o rapper da Margem Sul aliou-se à Godsize Records para uma reedição comemorativa desse EP, em que Sensei D. assume o design da caixa e do CD, cuja música foi remasterizada por saraiva.

Em 2018, aquando o 5º aniversário de ACC/CDM, foi o Rimas e Batidas quem fez a festa. De 28 de Maio a 1 de Junho, Tilt foi o editor honorário da nossa publicação e motivou-nos a uma série de cinco peças que ajudam a melhor conhecer o seu universo dentro da cultura hip hop. A semana começou com um ponto-de-vista assinado pelo próprio artista e seguiu-se uma crítica de The Cold Vein (dos Cannibal Ox), um dos álbuns que mais influenciaram o também autor de Karrossel, Karma, e um ensaio em torno de seis beatmakers sugeridos por Tilt (com Madlib, RZA ou Blockhead ao barulho). Já completamente focados em Alimentar Crianças Com Cancro Da Mama, houve ainda tempo para uma grande entrevista e uma review focadas nesse curta-duração que dava a conhecer a verdadeira essência do alquimista louco que opera no grupo ORTEUM.

Limitadas a 100 cópias, as novas versões físicas do disco chegam-nos melhoradas tanto no aspecto visual como auditivo. Na caixa que guarda o CD há um desdobrável que faz erguer uma figura pop-up, enquanto que o áudio foi retocado e o alinhamento compreende mais um par de faixas do que a edição digital original — “YouTube Killed The Radio Stars (Skit)” ainda chegou a ver a luz do dia através dos primeiros CDs comercializados há 10 anos atrás, enquanto que “Tecnologia Primitiva, O Museu” nunca chegou a ser lançado de forma oficial, embora haja um upload disponível online e seja um tema que acompanha Tilt na estrada desde essa altura.

Ao ReB, o MC falou sobre o quão especial é ver esta obra ganhar uma nova vida e explica a importância que ACC/CDM teve na sua afirmação em nome próprio.



Depois de teres tido o Rimas e Batidas a assinalar os 5 anos do teu EP de estreia, agora tens a Godsize Records a ajudar-te a comemorar um aniversário ainda mais “redondo”. Ou seja, parece que a vontade em celebrar a música de Alimentar Crianças Com Câncro Da Mama nem é uma coisa só tua e que há de facto outras pessoas/entidades a quem este disco diz muito. Sentes que este trabalho conquistou um lugar especial no imaginário daqueles que te escutam?

Acho que mais do que sentir, é fazerem-me sentir, porque assim o sentem.  Dá uma sensação de “missão cumprida”.

Para ti, que já tens outras edições na rua, já participaste em vários outros projectos e até já experienciaste o que é gerir uma editora, como é que olhas hoje para o que alcançaste no ACC/CDM? Tanto do ponto-de-vista musical, como ao nível de algumas portas que este te possa ter aberto.

Acho que foi mesmo um ponto de partida em todos as áreas relacionadas com o rap: não só foi a minha primeira “grande” afirmação enquanto rapper, como também foi o primeiro disco que editei, que divulguei, etc.. Foi bom para marcar uma posição e começar a trilhar um caminho.

Já não vou a um concerto teu desde a pandemia, mas do que me lembro de ter escutado no último em que marquei presença tu ainda tocavas, pelo menos, o “Homem do Lixo”. Ainda há temas deste EP que costumas levar contigo para o palco? Sentes que há aqui música intemporal, no sentido em que casa com o que hoje fazes, que te há-de acompanhar na vida de estrada?

Por acaso este ano acho que só toquei a “Homem do Lixo” uma vez, a pedido do meu primo [risos]. Acho que o pessoal que gosta do meu trabalho vai sempre gostar de visitar esse som. Mas já o toquei tantas vezes, que sinto que tenho de o deixar respirar um pouco, sabes? Para além de que estou mais focado em tocar coisas novas. Nesta reedição foi adicionada uma faixa, que foi a faixa promocional do projecto (lançada em 2012) chamada “Tecnologia Primitiva, O Museu” e essa sim, toco com frequência há bastante tempo.

Confesso também que já não ouvia o disco há bastante tempo e curiosamente a faixa “Codex Alimentarius” passou a ser a minha faixa favorita do projecto [risos]. Apesar disso, acho que a mensagem do “Homem do Lixo” vai ser sempre o meu mote e acho que se nota isso nos meus trabalhos. E por esse motivo, há de casar sempre com aquilo que eu faço. Não digo que me vai acompanhar A VIDA de estrada, mas posso dizer que o mais provável é eu ter a faixa à mão, não me vá apetecer…

Na altura do 5º aniversário, lembro-me que deste alguns concertos celebrativos em torno do ACC/CDM. É algo que também te passa pelos planos desta vez?

Pensei nisso, mas tirei da equação. Talvez tenha algum momento dedicado ao projecto durante um concerto, mas não um concerto dedicado a esse projecto.

Quanto a esta reedição em CD: é uma ideia que partiu de ti, da Godsize ou foi algo que foi sendo alimentado e cozinhado de igual modo pelas duas partes?

Bem, a ideia da reedição partiu de mim. Já tinha esse desejo há uns anos e tinha de acontecer. O resto foi muito trabalho do Sensei no design e do Saraiva na remasterização. Basicamente apenas acompanhei esta recriação.

O artwork original já era arrojado e, se não estou em erro, até chegaste a ter uma edição especial com uma capa alternativa. Era importante para ti voltar a vincar esse lado visual da peça? E como é que surge esta ideia de lhe dar ainda mais vida com um interior desdobrável e um pop-up no meio?

Cheguei sim! Com letras e o caraças. Posso dizer caraças, né? [risos] E sim, era importante vincar um novo visual. O meu objectivo era dar uma nova maquilhagem ao projecto e isto tinha de acontecer tanto a nível visual como sonoro. Como disse anteiormente: já há bastante tempo que não ouvia o projecto e ouví-lo agora remasterizado e com novo visual, parece que estou a ouvir um disco novo. Sinto que ficou mais rico. A ideia do desdobrável/pop-up partiu do Sensei, que a executou lindamente. Lá está: acho que ficou uma reedição rica em pormenores e conteúdo. 


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